domingo, 10 de fevereiro de 2013

Maridos (Husbands) 1970


Assim como no seu filme anterior, Faces (1968), Maridos era uma produção independente de Cassavetes que nascia da convicção de que muitos casamentos da classe média são infelizes, desapaixonados, realizados pelo conforto e conformidade social, e pouco mais. "Faces" capturava o mal-estar suburbano com uma intensidade crua, que era agravada pelo uso do filme de 16mm granulado e principalmente por actores irreconhecíveis que trouxeram uma ferocidade e um sentimento de raiva genuíno nas suas performances. "Husbands" tem muitas dessas qualidades, mas é como uma cover de uma canção que alcança as notas certas, mas nunca soa muito bem. Talvez seja a côr da fotografia, talvez o argumento,ou o tema central de "Faces" já tivesse sido esgotado, mas "Husbands" não consegue alcançar a qualidade do filme anterior.
Filmado no  início dos anos 70, é imediatamente reconhecido o estilo quase documental de Cassavetes, e a história segue três melhores amigos - Harry (Ben Gazzara), Archie (Peter Falk), e Gus (John Cassavetes) - num período de quatro dias depois do funeral de um quarto amigo que morreu recentemente de um ataque cardíaco inesperado (que só vemos em fotos ainda no início do filme). Os três homens estão todos nos seus 40 anos e são profissionais de sucesso com esposas e famílias, mas a ironia do título é que o status de "maridos" é só no nome (a ironia é muito óbvia, de facto, nenhum filme chamado "Husbands" poderia ser sobre cônjuges bons). Não só vemos pouco das suas esposas e filhos, como eles se comportam de uma forma que possa ser considerada juvenil. Harry, Archie, e Gus, por outro lado, poderiam ser melhor descritos como homens seriamente desajustados. Passam a maior parte do filme, que Cassavetes considerou "uma comédia sobre a vida, morte e liberdade", perseguindo os seus próprios demónios com misantropia, álcool e agressividade descabida, que os leva a vários bares em volta das suas casas figurativas e a um destino final em Londres. Porquê Londres? Por que não?
Uma das características dos filmes de Cassavetes é a sua frouxidão enganosa, que dá a primeira impressão de algo improvisado, mas em visões repetidas revela-se algo cuidadosamente orquestrado e escrito revelando verdades internas que a maioria de nós gostaria de esconder. "Husbands" encaixa-se muito bem neste esquema, mas falta-lhe o sentido subjacente da compaixão que fez filmes anteriores de Cassavetes tão comoventes. Tendo em conta que Cassavetes começou a sua vida artística como actor, não é de estranhar que os seus filmes sejam geralmente construídos em torno de interpretações centrais poderosas, e em "Husbands" não é diferente. Ben Gazzara e Peter Falk, que colaboraram com Cassavetes em vários projetos ao longo dos anos, incorporam um sentimento de angústia masculina. Cassavetes como o terceiro amigo, um papel que está mais próximo de um mediador, um meio termo entre a relativamente suave raiva de Gazzara e o excesso de confiança de Falk.

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