quinta-feira, 30 de setembro de 2021

Lolita (Lolita) 1962

"Lolita", o sexto filme de Stanley Kubrick, é uma adaptação do famoso, mas controverso, livro de Vladimir Nobokov, de 1953, que relata a trágica história de um professor de meia idade e a sua obsessão sexual por uma jovem precoce e sedutora a viver a pré-puberdade. No livro, Dolores "Lolita" Haze tem 12 anos, mas num esforço para ultrapassar os censores ela é retratada no filme como tendo 14. Apesar desta mudança, a produção do filme ocorreu sob a ameaça da censura, e Kubrick temia que a MPAA negasse ao filme o selo de aprovação. Foi o primeiro filme de Kubrick a ser feito de forma independente em Inglaterra, e começou com uma longa procura por uma actriz que tivesse idade suficiente para evitar tumultos, mas que tivesse sensualidade suficiente para caracterizar a personagem tal como Nabokov a concebia. 
Cartazes publicitários do filme incluíam o slogan: "Como é que fizeram um filme de Lolita?", com uma foto de Lolita a usar uns óculos escuros em forma de coração e a lamber um chupa-chupa. Os créditos de abertura contêm algumas das imagens mais eróticas de toda a película, e definem o seu tom. Originalmente "Lolita" recebeu a nota "C" de condenado, dado pela Legião de Decência (LOD). Depois de negociações privadas o filme recebeu mudanças de natureza vital, para evitar o rating de "condenado". Era uma prática conhecida na indústria, e muitos outros filmes, incluindo "Spartacus", foram objecto do mesmo tipo de negociação. 
O PCA teve de rever a clausula da "perversão sexual", que incluía temas como a pedofilia ou a homossexualidade, menos restringentes, para que o filme passasse para a classificação "R", que queria dizer que o ele pudesse ser visto por pessoas maiores de 18 anos, a não ser que fossem acompanhadas por um adulto. Em 1962 o Lod analisou o filme, e de um concelho de 12 membros, 9 consideraram-no "condenado". Mas as objecções vocais dos dissidentes levaram ao órgão conceder a "Lolita" uma "classificação especial". O filme resultante não recebeu grandes desafios depois de ter estreado, devido à extensa censura e modificações que sofreu até ser lançado. Oito anos depois Kubrick reflectiu que teria feito tudo de forma diferente, teria enfatizado a componente erótica da relação da mesma forma que Nabokov fez. 

domingo, 26 de setembro de 2021

Spartacus (Spartacus) 1960

"Spartacus" é baseado numa figura histórica, e na história da ascenção e queda de um escravo que vivia em Roma antes do nascimento de Jesus Cristo. Spartacus é resgatado de trabalhar numa mina a céu aberto por um treinador de gladiadores, Batiatus, que vê que o escravo tem fogo nos olhos e a capacidade de cativar o público. Inscrito numa escola de gladiadores, Spartacus é instruído para lutar, mas não tem permissão para matar. Como forma de recompensa pelos bons desempenhos os alunos por vezes têm permissão de ver mulheres. A maioria dos gladiadores tratam as mulheres como suas próprias escravas, mas isso não acontece com Spartacus, que primeiro desenvolve uma amizade com Varinia, e depois uma relação. 
"Spartacus" foi censurado mesmo antes de estrear, e foi um dos últimos filmes em que a homossexualidade  foi removida antes do código ter sido alterado. Geoff Shurlock, chefe de produção do PCA, opôs-se às sugestões de homossexualidade do personagem Crassus, e recomendou à Universal que qualquer referência que este personagem sinta uma atracção por Antoninus tem de ser evitada. A razão da fuga frenética de Antoninus tem de ser diferente do facto de que ele é repelido pela abordagem sugestiva de Crassus. Shurlock também avisou que em algumas cenas o tema da perversão sexual era tocado, e que essas cenas teriam de ser removidas. 
Antes da estreia do filme, a Universal enviou uma cópia para a LOD, e nesta versão claramente é sugerido que o general romano é homossexual e quer adquirir Antoninus para sua própria gratificação.  A cena teve mesmo de ser cortada, além de outras por causa da violência, e depois de todos os cortes efectuados o continuou a ser um dos filmes mais violentos a saírem dos estúdios de Hollywood. Foi cortada mais de meia hora de filme, que só seriam restaurada numa nova versão que saíu em 1991. Além de tudo isto, o filme também foi criticado por causa do seu argumentista ser Dalton Trumbo, e estar na lista negra de Hollywood.

sexta-feira, 17 de setembro de 2021

domingo, 12 de setembro de 2021

A Fonte da Virgem (Jungfrukällan) 1960

A história do filme é beaseada numa lenda sueca do século 13, chamada "Tores Dotte i Vangd" (A filha de Tore o Vange).  No conto duas irmãs exploram o conceito do bem versus o mal, na forma de Karin, a irmã virginal loira, e Ingeri, a morena e temperamental que tem ciúmes de Karin. Enquanto caminhavam por uma floresta para trazer velas para a igreja, Ingeri confunde Kari tanto que a irmã loira que se perde na floresta, e a irmã a abandona sem dizer uma palavra. Três pastores de cabras andam à espreita na florenta, e quando descobrem Karin sozinha e perdida violam-na e matam-na. 
A maior objecção dos censores foi a sequência da violação com cerca de 90 segundos. Apesar dos censores de Detroit terem concordado em dar autorização aos três cinemas de arte da cidade, desde que eles mantivessem longe o público com menos de 18 anos, no entanto este filme tornou-se num caso especial, e os censores acabaram por eliminar a cena de violação em "Two Women" e neste filme, mesmo nos casos em que eles eram mostrados apenas para adultos. 
Em Forth Worth, no Texas, os censores invocaram uma portaria que proibia a exibição de qualquer filme que fosse "indecente ou injurioso para a moral dos cidadãos". O distribuidor recusou fazer o corte das sequências propostas, e o caso seguiu para tribunal numa disputa entre a Janus Films e a cidade de Forth Worth. Um caso polémico que acabou por valer uma vitória importante para a Janus Films. 

terça-feira, 7 de setembro de 2021

Nunca aos Domingos (Pote tin Kyriaki) 1960

"Never on Sunday" foi escrito, realizado e produzido por Jules Dassin, um produtor e realizador de topo de Hollywood que emigrou para França no início da década de 50, depois de ter sido colocado na Lista Negra anticomunista durante a caça ás bruxas conduzida pelo Comité de Atividade Antiamericanas (HUAC) em Washington DC. Mesmo depois do sucesso deste filme, que custou 150 mil dólares a fazer, e rendeu 6 milhões a fazer, Dassin continuou sem conseguir trabalho alguns anos depois de ter sido ouvido pelo HUAC. 
O argumento gira à volta da animada e vivaz prostituta Ilya, que pratica a sua profissão de Segunda a Sábado e descansa aos Domingos. Trabalha independentemente, e recusa-se a trabalhar para um chulo chamado Noface, que lhe faz ofertas repetidas. Quando conhece Homer, um estudante americano que está de férias na Grécia, a sua natureza séria parece desafiá-la. 
O distribuidor americano para "Never on Sunday" não o inscreveu para o selo de aprovação do MPAA. Se o tivesse feito, provavelmente o selo tinha-lhe sido negado, porque ao contrário de outros filmes sobre prostitutas como "Butterfly 8" em que a heroína peca e depois morre, e apesar de Ilya trabalhar seis dias e depois descansar ao Domingo, ela não parece ter remorsos do que faz nos restantes dias da semana. O filme foi exibido em grande parte em cineclubes, e não teve problemas até pedir licença para exibição em Atlanta, Georgia. O censor de Atlanta exigiu que certos cortes fossem feitos, incluindo referências à profissão de Ilya, e à sua sua moralidade relaxada para que o filme pudesse ser exibido. O distribuidor fez um novo apelo aos censores da cidade, que decidiram que mesmo com os cortes pedidos primeiramente o filme não poderia ser exibido, porque poderia ser prejudicial para as crianças, e tentava vender uma ideia inaceitável. O caso seguiu para tribunal, com o Tribunal Superior do Condado de Fuldon a decidir que considerou que o filme não era obsceno, e os censores de Atlanta violavam as disposições da liberdade de expressão das constituições da Georgia e dos Estados Unidos.

sexta-feira, 3 de setembro de 2021

Anatomia de um Crime (Anatomy of a Murder) 1959

 Baseado num best seller de 1958 escrito por Robert Traver, vagamente baseado num caso real, um assassinato ocorrido em Michigan em 1952. A história, passada principalmente num tribunal, gira à volta da morte do proprietário de um bar por um tenente do exército, Manion, que afirma ter agido com uma apaixonante raiva depois do proprietário do bar ter violado a sua esposa. A defesa de Manion cabe a Paul Bigler que, desde que foi eleito procurador local, passou mais tempo a pescar do que a exercer a sua actividade. Biegler concorda defender o tenente, mas o caso começa a ficar mais complicado por causa do comportamento sedutor de Laura Manion, e à medida que a história se desenvolve começam a ser questionadas as motivações do crime. 
Em 1959, a cidade de Chicago invocou uma portaria de 1907 para recusar a licença à Columbia Pictures para exibir "Anatomy of a Murder". Os censores da cidade, chefiados pelo superintendente da policia, opôs-se ao filme devido ao uso de termos como "violação", "esperma", "penetração", "contracepção" no depoimento do julgamento. Os membros do conselho também se opuseram ao relato de Laura Manion sobre a violação e argumentaram que o utilização de tal terminologia tornavam o filme obsceno de acordo com a portaria da cidade. Representando a Columbia Pictures, o realizador e produtor Otto Preminger, abriu um processo contra a cidade, para obter licença para a exibição do filme.
Ao preferir a decisão, o tribunal determinou que a comissão de censores tinha ultrapassado os limites constitucionais, e reverteu a decisão dos censores. O juiz aplicou a medida estabelecida em relação a livros e peças que exigia que a obra fosse julgada como um todo em termos do seu efeito sobre um leitor ou espectador. Mais um caso complicado, em que a justiça venceu em tribunal.