quarta-feira, 23 de dezembro de 2020

Boas Festas

 Foi um ano muito complicado para todos nós. Espero que o próximo seja muito melhor, até lá, passem umas boas festas na companhia da vossa família, e em casa.  
Aproveitem para deixar algumas sugestões de ciclos para o próximo ano. Até dia 2.


segunda-feira, 21 de dezembro de 2020

Os Malucos do Centro (Mallrats) 1995

Ao serem abandonados pelas suas namoradas no mesmo dia, Brodie e T.S. decidem ir ao centro comercial para se lamentarem. Até ao fim do dia encontram vários personagens excêntricos e armam um plano para reatar com as suas amadas.
O menos apreciado dos filmes de Kevin Smith, uma visão de comédia de adolescentes picante que foi ridicularizada pelo seu humor misterioso de fanboy, e falta geral de classe. Até o próprio Smith pediu desculpas, meio por brincadeira, pelo seu aparente erro. No entanto, este esforço estimulante, embora falhado, merece uma reavaliação nos dias de hoje.
Tal como o filme anterior, "Clerks", esta história de Smith sobre adolescentes preguiçosos recém abandonados a fazerem travessuras num centro comercial, tem uma premissa igualmente ténue, e contém o mesmo humor bruto, obcecado pela cultura pop. Agora apoiado por um estúdio grande, e com um orçamento bem maior, com critérios para atingir um público mais amplo. Os filmes de Smith eram mais sobre uma atitude do que outra coisa, e isso era bem visível aqui.

sábado, 19 de dezembro de 2020

Welcome to the Doll House (Welcome to the Doll House) 1995

Dawn Weiner (Heather Matarazzo) não tem motivos para gostar da escola. É uma adolescente complexada e há motivos para isso. Na sua escola é ridicularizada pelos colegas, que a chamam de "Salsicha", e a sua relação com a família não é das melhores. Ela deseja ser aceita de qualquer forma e para isso planeia namorar com um rapaz mais velho, que é muito popular, apesar disso ser totalmente improvável.
"Depois do fracasso da estreia de Todd Solondz com “Fear, Anxiety & Depression”, o cineasta acabaria por vingar no circuito do cinema independente americano com o sucesso de “Welcome To The Dollhouse”, uma mordaz sátira aos liceus americanos. O filme é um original coming of age, centrando-se na personagem de Dawn, uma miúda que sofre de constante bullying na escola e em casa, mas que consegue, através da sua persistência, contrariar os seus medos e as suas inseguranças. Retrato também de uma classe média suburbana, o filme mostra uma América desengraçada, feia, contente com as suas vidas normais, nas quais todos acabam por tentar sobreviver." (DR)
Premiado em em festivais como Berlim, Sundance, entre outros.

quinta-feira, 17 de dezembro de 2020

Miúdos (Kids) 1995

Nova York serve de cenário para mostrar o conturbado mundo dos adolescentes, que indiscriminadamente consomem drogas e quase nunca praticam sexo seguro. Um jovem, que deseja só fazer sexo com virgens, e uma jovem, que só teve um parceiro mas é HIV soropositivo, servem de base para tramas paralelas, que mostram como um adolescente pode prejudicar seriamente a sua vida se não estiver bem orientado.
Durante 90 minutos este drama sensacionalista com textura de documentário de Larry Clark, o seu primeiro filme, envia os seus personagens por um espiral crescente de maus comportamentos. Interpretado por um feroz elenco de não actores, na sua maioria, os adolescentes rebeldes sem saída de "Kids" portam-se como uma matilha de jovens sociopatas, saltando de uma sensação para outra. Roubar, beber e tomar drogas, espancar uma criança até à morte, deflorar virgens, todas acções cheias de agressões, alimentadas pela fome eterna de uma cultura repleta de violência e fantasia pop. 
"Kids" concentra-se numa pequena tribo, a turbulenta juventude do skate e do rap de Manhattan, que aperfeiçoam a sua atitude no fio da navalha do niilismo urbano. Mas o filme fala para maiores correntes ocultas, de desejo e desespero. O seu verdadeiro tema é a aniquilação da empatia na sociedade americana. 

terça-feira, 15 de dezembro de 2020

Um Realizador em Apuros (Living in Oblivion) 1995

"Living in Oblivion" conta-nos um dia na vida do realizador Nick Reve (Steve Buscemi), que está a tentar fazer um filme independente com um orçamento muito reduzido. Nesta manhã em particular, ele tem de filmar a cena seis. Mal sabe ele que pesadelos, reais, figurativos e cinematográficos irão atormentar a produção, e o que eventualmente surgir não será nada como alguém imaginou.
Separado em três segmentos, cada um mostrando uma tentativa de filmar uma cena diferente de um filme, este segundo filme de Tom DiCillo revela o que pode acontecer a uma produção de baixo orçamento quando as coisas não saem conforme o planeado. Parte do que transparece é simplesmente frustrante, observamos como uma cena após a outra é arruinada por problemas técnicos (microfones pendurados muito baixos, focos deficientes, ruido nas ruas).  
Apresentando algumas cenas a cores e outras a preto e branco, e apoiado por algumas interpretações fortes, particularmente Buscemi que consegue capturar perfeitamente a frustração e o desgosto que andam de mãos dadas durante um processo criativo, "Living in Oblivion" é divertido e assertivo num olhar sobre os altos e baixos do cinema independente. DiCillo trabalhou como director de fotografia de Jim Jarmusch em obras como "Stranger than Paradise" ou "Coffee and Cigarretes".

segunda-feira, 14 de dezembro de 2020

Clerks (Clerks) 1994

Acompanhamos um dia na vida de dois balconistas de lojas de conveniência, Dante e Randal. Eles incomodam os clientes, discutem filmes e jogam hóquei no telhado da loja.
Apesar de ser adorado por uma legião de seguidores, principalmente do sexo masculino e na casa dos vinte anos, o facto é que o filme de estreia de Kevin Smith não é uma boa primeira obra. Mas é um filme extremamente importante e crucial para definir as mudanças na indústria de Hollywood na década de 90 e o efeito da Geração X na estética e no gosto cinematográfico. Noutra altura "Clerks" poderia ter sido um filme de culto e depois desaparecer na obscuridade, mas em meados dos anos 90, com o rápido crescimento dos distribuidores, "Ckerks" estava perfeitaemente posicionado para se tornar ele próprio um marco.
Ao lado de "Slacker", que já falamos neste ciclo, "Clerks" é o filme da "generation X" em definitivo, que rejeita virtualmente tudo o que Hollywood clássica representava estética e narrativamente, sem estrelas, sem história, e certamente sem arte, pelo menos como essa palavra é convencionalmente entendida. Quando o conselho de classificação da MPAA deu ao filme a temida classificação de NC17, a justificativa foi a enxurrada incessante de linguagem vulgar e descrição de actos sexuais dos personagens, mas a verdadeira razão poderia ser porque a MPAA tinha medo que este filme pudesse influenciar as crianças negativamente.
Feito com um orçamento minúsculo, o filme seria premiado em Cannes, Deauville e Sundance.

sexta-feira, 11 de dezembro de 2020

Crumb (Crumb) 1994

Três irmãos brilhantes e talentosos tiveram uma infância relativamente normal e acabaram por tomar caminhos completamente diferentes. Um deles é R. Crumb, um cartoonista underground com alguns parafusos a menos, e uma personalidade rebelde, que se transformou num ícone da banda desenhada do final dos anos 60. Apesar dele ser o mais bem sucedido, os outros irmãos são igualmente criativos, no entanto levam estilos de vida diferentes.
Ostensivamente um filme sobre o grande artista da contracultura Robert Crumb, cujos cartoons eram obscenamente hilariantes e frequentemente anti-sociais, refletiram e ajudaram a definir a ideologia de uma geração de hippies, marginais e desajustados, e que lentamente se transforma no retrato de uma família brilhante mas disfuncional. A revelação do filme não é tando sobre um Robert Crumb como individuo mas sim como um Robert Crumb que fez  parte de uma família que poderia ter criado muitos Robert Crumbs, mas que em vez disso desabou sob o peso da doença mental e do isolamento.  Para muitos Robert Crumb é o epítome do esquisito: um nerd desajeitado e desengonçado com uns grandes óculos de garrafa.
Terry Zwigoff usa sabiamente um formato sem narração ou explicações explicitas, o que permite que os personagens falem por si próprios, (a mesma abordagem que o seu primeiro documentário).  O principal interesse do filme é de como a educação de Crumb e as relações familiares informaram sobre as obsessivas questões sexuais e culturais no centro da sua volumosa produção artistica.

quinta-feira, 10 de dezembro de 2020

A Última Sedução (The Last Seduction) 1994

Bridget Gregory (Linda Fiorentino), uma femme fatale, é maquiavélica e fria a executar os seus planos. Assim, depois de largar o marido, Clay (Bill Pullman), um médico que negocia com drogas, foge com um milhão de dólares e deixa-o à mercê dos traficantes e agiotas. No entanto, como sabe que não terá paz enquanto Clay estiver vivo, induz Mike Swale (Peter Berg), um rapaz de uma pequena cidade, a eliminar o seu marido.
Realizado por John Dahl, um realizador que estava a ter um inicio de carreira bastante promissor, depois de "Kill Me Again" e "Red Rock West", duas obras "negras". "The Last Sedution" era o seu terceiro filme, e um dos melhores "neo-noirs" dos anos 90, muito graças ao excelente papel de Linda Fiorentino, actriz com uma grande sensualidade,  que teve aqui o papel da sua vida, e só não foi nomeada para o óscar porque o filme estreou primeiro na televisão por cabo. 
Poderia ser um filme mais reconhecido hoje, mas não o é por várias razões. A principal é que a produtora ITC Entertainment não sabia que o filme que estava a ser feito era algo mais do que um série B para a televisão por cabo, e por isso o filme estreava na HBO desqualificando-o para os Óscares. Por causa da pressão do público acabaria por ter estreia no cinema, onde arrecadou mais do dobro dos custos de produção.



terça-feira, 8 de dezembro de 2020

A Comédia dos Infiéis (Swimming with Sharks) 1994

Guy (Frank Whaley) é um universitário recém-formado em cinema que pensa ter chegado o seu grande momento quando é contratado como assistente de um grande produtor, Buddy Ackerman (Kevin Spacey). Entretanto o que era sonho torna-se pesadelo, quando Buddy o trata da pior maneira possível. No entanto, os acontecimentos tomam outro rumo quando o jovem subordinado decide raptar o chefe, para vingar as humilhações sofridas.
"Swimming With Sharks" é um filme que se preocupa com os perigos que as pessoas arrogantes trazem para si próprias e para as suas vítimas, além da sátira a Hollywood. É um filme sobre vingança que usa a indústria do cinema como um veículo para o seu debate moral. Não há nada de novo aqui sobre Hollywood, o uso descarado do cliché sobre o mundo do cinema No entanto, esse não é o objetivo, e ainda nos dá um pano de fundo quase incidental para as preocupações mais universais sobre conformidade e autoridade.
Realizado pelo estreante George Huang, com Kevin Spacey no papel principal. Spacey é mesmo um dos pontos mais importantes do filme, um dos primeiros passos deste actor como protagonista, actor que viria a se tornar num dos mais importantes da sua geração. Ganhou o prémio da crítica em Deauville.


domingo, 6 de dezembro de 2020

Próximo Ciclo:



Ida Lupino: dos Dois Lados da Câmara

Juventude Inconsciente (Dazed and Confused) 1993

Na década de 1970, os veteranos de uma escola do Texas divertem-se ao máximo com os caloiros. A juventude irresponsável transborda em clima de festas, carros velozes e total insanidade total.
"Dazed and Confused", de Richard Linklater, o sucessor de "Slacker", é uma espécie de "American Graffiti" para os anos noventa, passado nos anos sententa, tal como o anterior também era passado duas décadas antes. Apesar de espiritualmente não ser um filme tão profundo como "American Graffiti", faz um excelente trabalho a acompanhar um grupo de jovens ao longo de um dia, desfrutando das inúmeras emoções e experiências que compõem a adolescência. Linklater não obriga o filme a seguir um enredo em particular, e esta escolha ajuda-o a evitar as convenções do cinema "teen", em que os jovens aprendem uma grande lição depois de uma série de actos "malucos". 
Linklater era ele próprio um produto da década de setenta, e vê essa época não como um pós-modernista mas com o olhar de um antropólogo. Entende e transmite a estranheza dos primeiros beijos, a estupidez das danças lentas, e a experiência de estar bêbado pela primeira vez. 
Como seria de esperar, revelaria uma geração de actores que vieram a ter sortes diferentes até aos dias de hoje: Jason London, Milla Jovovich, Adam Goldberg, Cole Hauser, Ben Affleck, Parker Posey, Matthew McConaughey, entre outros. 

sexta-feira, 4 de dezembro de 2020

O Jogador (The Player) 1992

Um executivo de um estúdio pressionado por uma série de fracassos de bilheteria consecutivos começa a receber ameaças anónimas. Obcecado com as mensagens, mata o argumentista que acredita ser o responsável e tenta driblar as investigações policiais.
12 anos depois do desastre crítico e comercial que foi "Popeye", o realizador independente Robert Altman regressou em excelente forma com esta sátira amarga de Hollywood. Apesar de ser um filme de baixo orçamento, abunda uma infinidade de grandes estrelas de Hollywood, muitas delas mão planeadas, já que os lugares que elas frequentavam coincidiam com o local das filmagens. Tim Robbins tem uma grande interpretação como o produtor de coração frio cujo instinto é a sobrevivência, disposto a cortar a garganta (falando de uma forma metafórica) a qualquer pessoa que se interponha entre ele, e o que ele construiu. 
O humor é abundante, embora nunca óbvio, usando pistas visuais, como cartazes de filmes antigos, usando alusões subtis a outros filmes como referências, começando com um plano sequência de vários minutos que é uma clara alusão a filmes como "A Touch of Evil" de Orson Welles ou "The Rope" de Alfred Hitchcock. É também uma comédia de azar, colocando-nos na posição nada invejável de torcer para que Griffin literalmente saia impune. 
O filme seria nomeado para três Óscares, incluindo o de Melhor Realizador e Melhor Argumento Adaptado, da autoria de Michael Tolkin. Além disso ganhou o prémio de Melhor Realizador e Actor em Cannes, entre muitos outros prémios. 


quarta-feira, 2 de dezembro de 2020

Polícia Sem Lei (Bad Lieutenant) 1992

Em Nova Iorque, um polícia corrupto faz uso da sua autoridade para assediar sexualmente adolescentes e fazer acordos com traficantes, para obter drogas e dinheiro sujo. Mas quando uma jovem freira é violada no altar de uma igreja do bairro, este polícia sem lei é atraído pelo seu caso e por uma derradeira e desesperada tentativa de encontrar os verdadeiros caminhos do poder da misericórdia.
"Bad Lieutenant" é, ao mesmo tempo um dos melhores e mais típicos dos filmes de Abel Ferrara, uma vez que contém grande parte dos elementos que definem a sua obra. E isto inclui cenas toxicodependentes errantes, polícias sujos, punks urbanos, armas, agulhas, e, no fim, uma mensagem definitiva de redenção. E seguindo os passos de Christopher Walken em "King of New York" ou Zoe Tamerlis em "Angel of Vengeance" vamos encontrar um Harvey Keitel que tem uma interpretação marcante. Nunca está fora do ecrã, e é difícil imaginar um actor que conseguisse fazer um tamanho acto de equilíbrio para esta personagem.  O crime nas ruas sujas de Nova Iorque é vividamente capturado, e os vilões que ela povoam são autênticos. É mais um filme onde Ferrara coloca uma atmosfera sórdida à frente da história, e continua a ser um trabalho admiravelmente intransigente. 
Junto com "Reservoir Dogs", de Quentin Tarantino, foi um dos filmes que ajudou a catapultar o nome de Harvey Keitel, um actor que já andava na estada desde os anos setenta, com bons resultados, mas que nunca tinha tido tanto reconhecimento. Uma personagem similar ao Travis de "Driver", muito mais crú do que o Mickey Cohen de "Bugsy" que ele tinha interpretado no ano anterior, e lhe tinha valido uma nomeação para melhor actor secundário. Keitel ganhou com este filme o premio de Melhor Actor no Fantasporto e o mesmo prémio nos Film Independent Spirit Awards.


terça-feira, 1 de dezembro de 2020

Confronto em Los Angeles (One False Move) 1992

Dois homens e uma mulher saem de Los Angeles com um carregamento de droga, deixando pelo caminho uma trilha de corpos. Prevendo que o trio chegará a Star City, no Arkansas, uma dupla de policiais contacta o xerife local e esperam os bandidos para o confronto inevitável.
Estreado poucos dias depois dos distúrbios em Los Angeles de 1992, "One False Move" oferece uma reflexão particularmente consciente da divisão e segregação regional fortemente evidente nos Estados Unidos da América. Vemos a violência como denominador comum entre os estados azuis e vermelhos, um facto casual da vida que não pode ser parado, não importam as etnias ou origens. Os personagens envolvidos entram num espiral de violência e de desconfiança devido a uma falha de carácter ou um erro do passado.
Feito com um orçamento minúsculo por Carl Franklin, um antigo actor de televisão que dava os primeiros passos no cinema, "One False Move" era um "neo-noir" que tinha alguns trunfos, como um óptimo argumento de Billy Bob Thornton (que viria a ser um nome de peso no cinema independente americano dos anos 90) e Tom Epperson. Na frente das câmaras também contava com um óptimo trabalho, de Bill Paxton (de "Aliens" e "Neard Dark") e dos novatos Cynda Williams, Michael Beach e o próprio Thornton.  Uma pérola dos anos 90.