segunda-feira, 29 de novembro de 2021

A Última Sessão (The Last Picture Show) 1971

Adaptado pelo realizador Peter Bogdanovich e por Larry McMurtry a partir do próprio livro do segundo, "The Last Picture Show" permaneceu fiel à sua fonte, e em quase todos os aspectos o filme segue o livro quase literalmente. Tal como no livro, a história fala do desespero e da claustrofobia da vida numa pequena cidade, onde geração após geração passam pelos mesmos ritos, vivendo as mesmas vidas de frustração e sonhos não realizados. Situado na pequena Anarcne no Texas, entre a Segunda Guerra Mundial e a Guerra da Coreia, o filme narra um breve período nas vidas de Sonny e Duane, melhores amigos que passam a vida a jogar basquetebol, a ir ao cinema e a perseguir jovens raparigas da sua idade. Duane tem uma namorada estável, desejada por todos os rapazes da escola.
"The Last Picture Show" foi geralmente exibido pelos Estados Unidos sem incidentes, por causa da classificação "R" ( restrito a público de 18 anos e maiores, excepto se acompanhados por adultos) atribuidos pela Administração de Classificação e Rating. A classificação alertou os donos dos cinemas e o público que o filme continha conteúdo sexual, nudez e linguagem. Na verdade, o conteúdo sexual era apenas verbal, a linguagem continha palavrões e referências anatómicas inerentes aos personagens retratados, e a nudez consistia numa cena em que Cybill Sheppard se prepara para nadar numa festa de nudismo numa piscina. Os espectadores podem ver a sua hesitação quando ela percebe o que tem de fazer para se conformar. No entanto, a única tentativa de censurar o filme que entrou nos tribunais federais, obrigou-os a mudar a sua percepção de "obscenidade", no ano seguinte.
Depois de receber queixas de residentes no drive-in local, o procurador da cidade de Phoenix, Arizona, escreveu ao dono do teatro que o filme violava os termos do estatuto de obscenidade estatal, e que poderia ser visto por pessoas que passassem pelo público que estava no drive-in. O procurador da cidade advertiu que se não parassem de exibir o filme poderiam ser processados. A exibição do filme só poderia continuar se o distribuidor concordasse em apagar o segmento de 4 segundos em que Cybill Sheppard aparece em nu frontal, uma ordem rejeitada pelo produtor e pelo distribuidor. Estes avançaram logo com uma acção em tribunal, argumentando que o estatuto de obscenidade violava os seus direitos civis, aos quais os tribunais responderam dando razão.

sexta-feira, 26 de novembro de 2021

Iniciação Carnal (Carnal Knowledge) 1971

 "Carnal Knowledge" relata a história de dois colegas de quarto na universidade, Sandy e Jonathan, e as suas relações conturbadas com as mulheres, desde o final da década de 40 até à década de 60. Os críticos frequentemente comentam que este é um filme desconfortável para muitos homens assistirem, porque muitas das interacções humanas são comuns, mas também disfuncionais. Sandy e Jonathan abordam as mulheres de formas diferentes. Sandy é tímido e desajeitado e afirma sentir-se atraído pelas mulheres por causa da sua sensibilidade e inteligência. Em contraste, Jonathan é ousado e misógino, selecionando as mulheres com base nos seus recursos físicos. Quando os dois conhecem uma bela rapariga de nome Sandy numa festa da faculdade, Jonathan descarta-a porque os seus seios são muito pequenos. Sandy namora com ela e descobre que ela sexualmente apaixonante, embora virgem. Quando Jonathan descobre, convida-a para saír, e também se envolve com ela.
 "Carnal Knowledge foi aclamado como um dos 10 melhores filmes de 1971, mas em Março de 1972, um júri de Albany, na Geórgia, considerou o filme obsceno, e condenou o operador do cinema Billy Jenkins por distribuir material obsceno. O caso foi a julgamento no tribunal superior de Dougherty Country, e  juiz considerou Jenkins culpado. O júri baseou a sua decisão no estatuto de obscenidade da Geórgia, que podia variar de intérprete para intérprete. 
De apelação em apelação, o caso chegou ao Tribunal Supremo dos Estados Unidos, mais de dois anos depois, e finalmente Jenkins conseguiu ser ilibado do caso. Realizado por Mike Nichols, o filme foi um enorme sucesso comercial, e foi visto por quase 20 milhões de espectadores.

domingo, 21 de novembro de 2021

Três Mulheres na Intimidade (The Killing of Sister George) 1968

O enredo de "The Killing of Sister George" centra-se em June Buckridge, uma actriz de meia idade de uma longa série da BBC, que descobre que a sua personagem, uma enfermeira chamada Sister George, irá ser morta passados tantos anos. Buckridge é ultrajante, sádica, e dominadora com a sua namorada Childie, que mora com ela, e gosta de puni-la ritualisticamente por quebrar as regras que ela própria criou. A relação das duas é tempestuosa, e o comportamento abusivo de Buckridge aumenta quando ela começa a perceber que já não tem o mesmo sex appeal de outrora. A relação entre as duas irá ficar mais tensa quando uma terceira mulher entra na vida das duas, Mercy Croft, uma executiva lésbica que tenta viver num mundo hétero,  e se irá envolver com Childie.
Baseado numa peça teatral com o mesmo nome, "The Killing of Sister George" ganhou notoriedade pelo assunto do lesbianismo e também por ter representado a primeira cena de amor lésbico num filme de grande orçamento. Os críticos focaram a sua atenção numa cena gráfica entre Childie e Croft. Pauline Kael intitulou a sua crítica de "Frightening Die Horses", e expressou choque sobre "os 119 segundos que mostravam exactamente o que as lésbicas podiam fazer". 
De uma forma geral, a abordagem de Robert Aldrich, realizador e produtor, é uma abordagem imparcial para lidar com este tema controverso, um tema que era muito controverso na Inglaterra dos anos sessenta. No entanto, embora tenha sido pensado para defender os direitos dos homossexuais, o seu retrato das lésbicas como doentes, depravadas ou infelizes, causaram uma péssima imagem da comunidade, mesmo com o público homossexual a opor-se ao retrato de June Beckridge como demasiado masculino e demasiado agressivo.
Na américa o filme recebeu o rating de "X", por causa do seu tema lésbico. Muitas cidades proibiram totalmente o filme, noutras um reel inteiro foi removido para que o filme pudesse ser mostrado. Até o anúncio do filme foi censurado pelo Los Angeles Times, que alterou o desenho de uma figura feminina e apagou referências à temática da longa metragem. Hoje em dia, o filme adquiriu um status de "camp" pela representação estereotipada dos papéis lésbicos.

sábado, 13 de novembro de 2021

Vixen! (Vixen!) 1968

 A trama do filme é sobre as escapadelas sexuais de Vixen Palmer, que possui uma pousada na Columbia Britânica, com o marido Tom. Enquanto Tom Palmer está longe de casa, trabalhando como piloto no mato ou servindo como guia para caçadores hóspedes da pousada, a sua esposa aborrecida procura agressivamente outros homens e mulheres para parceiros sexuais. Como diz uma crítica da revista Time, ela tem "casos com todos, desde a polícia montada do Canadá até à esposa de um pescador. A história também procura lidar com questões da contemporaneidade como o racismo, antimilitarismo,  comunismo, que o tribunal viu como, simplesmente "um comentário social inventado totalmente sem relação com o tema dominante do filme".
O filme foi classificado com um "X" (apenas para adultos) pela MPAA, para que não pudesse ser reproduzido em cinemas comerciais, mas foi-lhe permitido ser exibido em cinemas de arte. Em Ohio o distribuidor foi proibido permanentemente de exibir o filme no estado depois das autoridades locais entrarem com um pedido de liminar contra o filme. Os advogados do distribuidor levaram o caso para a Suprema Corte do Ohio, para levantar a proibição. O tribunal manteve a proibição depois de se recusar a distinguir legalmente a diferença entre a "representação de supostos actos sexuais na tela e a realização de tais actos". O tribunal também alegou que qualquer valor social que o filme pudesse ter foi negado pela evidência de que "o expositor do filme foi motivado principalmente pela perspectiva de ganho financeiro, equivalente a ceder a lascivos interesses em sexo, e por isso era tão negativo qualquer valor social ou importância que o filme possa ter".  
Sem legendas.

terça-feira, 9 de novembro de 2021

Candy (Candy) 1968

Baseado num livro clássico do mesmo nome, escrito por Terry Southern e Mason Hoffenberg, sob o pseudónimo de Maxwell Kenton. A história apresenta uma banda sonora bastante animada de música contemporânea, e goza com algumas das modas dos anos sessenta, como o uso de LSD, religiões orientais, protestos antimilitares e hippies. Os críticos denegriram "Candy", alegando que faltava um enredo coerente, mas o público gostou da sátira social e auto-crítica, pontuada por um elenco de excelência com estrelas de topo daquele período, como Charles Aznavour, Richard Burton, Marlon Brando, John Astin, Ringo Starr, Walter Matthau, James Coburn e John Huston. 
O filme é sobre o despertar sexual de uma jovem que embarca numa série de aventuras sexuais bizarras com um bando de personagens estranhas e perturbadoras. Ao longo do caminho para se tornar uma mulher, Candy encontra um médico que incentiva a masturbação prolífica e frequente, um ginecologista exibicionista que examina Candy publicamente, e um corcunda ladrão. Enquanto que a maior parte do filme se desenvolve como se fosse um filme pornográfico com enredo, uma trama subtil surge. Através das suas estranhas façanhas sexuais Candy torna-se uma adulta auto-suficiente, capaz de ter emoções e decisões independentes.
O filme, que defende a liberdade sexual e a experimentação, foi censurado quando estreou em França e nos Estados Unidos. A versão original tinha 124 minutos, mas foram cortados 14 para ser em exibido em França. Nos Estados Unidos, a reputação do livro, que tinha sido lançado 10 anos antes, era muito má,  o que levou muitos cinemas a rejeitarem o filme, mesmo depois dele receber a classificação "R" pelo MPAA. Em Jackson, no Mississippi, o director do cinema resolveu exibir o filme, e foi preso com o seu projecionista por exibir um filme obsceno. 

sábado, 6 de novembro de 2021

Sou Curiosa (Jag är nyfiken - en film i gult) 1967

"I Am Curious - Yellow" cria a impressão de ser quase totalmente improvisado. Inclui números musicais aleatórios, comerciais, concursos para entrar por correio, e uma séries de outros inovações que pontuam a busca da heroína pela verdade. Lena, de 22 anos, quer saber tudo o que puder sobre a vida e sobre a realidade. A sua busca centra-se no questionamento social, moral e político que a rodeia, e fantasia em manter uma conversa com Martin Luther King, manifesta-se contra a guerra do Vietname, e entrevista homens e mulheres nas ruas de Estocolmo, enquanto mantém um caso com um homem casado que vende carros. Os dois envolvem-se em actividades sexuais em vários locais, incluindo numa varanda do Palácio Real, e numa árvore.
Embora o filme seja conhecido pelo conteúdo sexual, é pouco mais do que atrevido para os padrões actuais. Os actores, o realizador e a equipa de filmagem são mostrados num enredo paralelo humorístico, sobre a produção do filme e a reação à história e uns e aos outros. Ao mesmo tempo, o questionamento sexual exige atenção, porque contém ampla nudez e cenas atrevidas de sexo.
Quando estreou, o filme inspirou centenas de artigos em jornais e revistas, debatendo o seu impacto no cinema internacional. Segundo os criticos, foi responsável por "atiçar as chamas de uma nova era em Hollywood", e foi banido não só por todo os Estados Unidos, mas também em muitos países na Europa. A realização era de Vilgot Sjoman, de quem já tinhamos visto neste ciclo, "491".

segunda-feira, 1 de novembro de 2021

Titicut Follies (Titicut Follies) 1967

Este documentário regista cenas de maus tratos a presidiários e as condições numa prisão para criminosos loucos, contrastando com cenas de uma musical executado pelos pacientes e pela equipa dentro do mesmo local. Um dos documentários mais perturbadores já feitos, é honesto e inflexível no seu retrato dos horríveis abusos nesta instituição. Mais importante, Frederick Wiseman, esperava que o filme lançasse luz sobre o tipo de sociedade que trataria os menos afortunados dos seus membros, nesta forma desumanizante e cruel.  
"Titicut Follies" foi o único documentário a ser mostrado no festival de Nova Iorque de 1967. Recebeu algumas críticas bastante positivas e foi também assunto de vários artigos nos jornais e revistas que elogiavam a coragem do realizador, condenando as condições que este expôs. Pouco depois do filme estar concluido, Wiseman tentou mostrar o filme em Massachusetts, mas os legisladores estaduais proibiram de imediato, quando um juiz decidiu que as representações de reclusos nús, ou exibindo manifestações de extrema "doença mental" constituíram uma intrusão indecente nos aspetos privados das suas vidas. Os advogados do distribuidor apelarem da decisão, e o tribunal modificou a proibição para que o filme pudesse ser exibido para "legisladores, juízes,  advogados, médicos, psiquiatras, estudantes desses ou campos relacionados, e organizações que lidam com os problemas sociais de cuidados de custódia e enfermidades mentais. 
Segundo um juiz, o filme era ao mesmo tempo uma acusação contundente das condições desumanas que prevaleciam dentro de uma instituição do estado, e uma inegável violação da privacidade dos prisioneiros do filme, que são mostrados nus e envolvidos em actos que inquestionavelmente embaraçariam um individuo de sensibilidade normal.  O público pode e tem o direito de saber o que se passava nas instituições públicas, mas aqui este direito estava em conflito com o "interesse do indivíduo na privacidade e dignidade". Assim, a recusa do tribunal em rever o caso afirmou as limitações do tribunal inferior. 
Os funcionários da instituição de Bridgewater também entraram com uma acção contra o filme para proibir este de ser exibido por motivo de difamação e invasão de privacidade. O tribunal não lhes deu razão, mas até 1991 o filme permaneceu restrito aos profissionais que eu referi em cima.