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domingo, 23 de maio de 2021

Final do Festival

 E assim chega ao fim esta edição do Festival de Cannes, e vamos ver quem são os vencedores:

Grande prémio do Festival: "O Vigilante", de Francis F. Coppola
Grande Prémio do Júri: "As Mil e Uma Noites", de Pier Paolo Pasolini
Melhor Argumento: Hal Barwood, Matthew Robbins, Steven Spielberg, por "Asfalto Quente"
Melhor Actor: Jack Nicholson, por "O Último Dever", e Charles Boyer por "Stavisky"
Melhor Actriz: Marie-José Nat, por "Os Violinos do Baile"

Fipresci Prize: "O Medo Come a Alma". de Rainer Werner Fassbinder (em competição)
                         "Lancelot do Lago", de Robert Bresson, (fora de competição, declinou)

Grande Prémio Técnico: "Mahler", de Ken Russell

Prize of Ecumenical: "O Medo Come a Alma", de Rainer Werner Fassbinder
Menção Especial: "O Vigilante", de Francis F. Coppola

Espero que tenham gostado. Vamos por momentos voltar a 2021, e o próximo ciclo começa muito em breve.


sexta-feira, 21 de maio de 2021

Delito de Amor (Delitto d'Amore) 1974

No núcleo da história de "Delitto d'amore" está a paixão entre dois jovens operários fabris, um do norte (ele, Nullo) e outro do sul de Itália (ela, Carmela). Os obstáculos à relação amorosa entre eles são múltiplos e destes conflitos se faz o filme de Comencini, em registo drama social.
Uma joia pouco vista dos anos de glória do cinema italiano, "Delito de Amor" é uma história de amor diferente. De certa forma, um retrocesso ao período do neorealismo, o filme é uma história estimulante e nada sentimental de dois operários que se sentem atraídos, apesar das suas grandes diferenças. É um caso de amor malfadado mas a sua destruição deve-se em parte ás forças ambientais e problemas económicos, tanto como pressões sociais. Funciona como um estudo sociólogo fascinante das diferenças regionais entre as classes trabalhadoras do norte e do sul de Itália. 
Enquanto a poluição das industrias de Milão influenciam todo o visual do filme, Luigi Comencini evita transformar a sua história num filme de mensagem ecológica, preferindo focar-se nas emoções conflituantes dos seus dois protagonistas, interpretados por Giuliano Gemma e Stefania Sandrelli, dois jovens presos em empregos sem saída numa fábrica, com poucas opções de carreira.
Fez parte da seleção oficial de Cannes. Legendas em inglês.

quinta-feira, 20 de maio de 2021

O Último Dever (The Last Detail) 1973

Dois oficiais de baixa patente, Buddusky (Jack Nicholson) e Mulhal (Otis Young), são designados para levar um jovem marinheiro, Meadows (Randy Quaid), da base naval da Virgínia à prisão naval de New Hampshire para cumprir uma sentença de oito anos por causa de um erro banal. Buddusky e Mulhal apegam-se a Meadows e estão determinados a mostrar-lhe algumas coisas boas da vida em sua viagem ao norte.
Filme fantástico do grande realizador Hal Ashby, que incorpora tudo o que se deve esperar de um grande filme americano. É surpreendentemente ousado, transbordando de emoções e filmado com uma precisão casual brilhante que a tecnologia digital nunca será capaz de replicar. Ashby realizaria uma série de filmes dos mais importantes da década de 70, e vinha da montagem, tendo ganho um Óscar nesta categoria por "In the Heat of the Night" (1967), de Norman Jewison, com quem trabalhou mais activamente.
O filme é baseado num famoso livro de Darryl  Ponicsan, mas tanto as suas personagens e identidade vêm do excelente argumento de Robert Towne, um dos melhores argumentistas de Hollywood que no ano seguinte escrevia "Chinatown". Na verdade, a jornada narrada no livro é apenas a base para Towne mergulhar nestas personagens impregnadas de muito humor e da filosofia da rua testada na universidade da vida. O mais importante está nas trocas e descobertas que os três homens fazem uns dos outros. E um destaque especial para dois actores, Jack Nicholson e Randy Quaid, ambos seriam nomeados para o Óscar com este filme que também concorria para o prémio principal no festival.



terça-feira, 18 de maio de 2021

Jogos de Gatos (Macskajáték) 1974

As heroínas do filme são as duas irmãs Szkalla, que quando eram novas eram brilhantes e bonitas, mas agora estão velhas, e vivem separadas uma da outra. Giza é a mais solitária, porque tem de andar presa a uma cadeira de rodas, e vive com o filho em Munique. A outra é a senhora Orbánné, que dá aulas de canto para sobreviver em Budapeste e vive um romance com Csermlényi, um antigo pretendente, que é um tenor já na reforma. Quando está de bom humor ainda tem uma grande proximidade com o seu inquilino, Egérke... 
Três anos depois do seu primeiro grande sucesso internacional, e consequente vitória no grande prémio do Júri em Cannes, Karoly Makk regressa com uma história de partir o coração sobre duas irmãs solteiras, que depois de uma vida dolorosa, ainda procuram acreditar na esperança e no amor. Mais uma vez Makk faz-se valer dos desempenhos extraordinários da sua dupla de actrizes, desta vez interpretadas por Margit Dajka e Elma Bulla. "Macskajáték" opõe-se à desolação do mundo exterior com paixão, amor e lealdade. 
Além de ter concorrido para a Palma de Ouro em Cannes, "Macskajáték" conseguiu ainda uma nomeação para o Óscar de Melhor filme em Lingua Estrangeira, o segundo da Húngria a conseguir ser nomeado para este prémio, seis anos depois de "The Boys of Paul Street", de Zoltán Fábri, um filme que já por aqui passou num ciclo deste realizador. Os húngaros continuariam a tentar, para conseguir finalmente ganhar um Óscar para "Mephisto", de István Szabó, em 1982. "Macskajáték" teve estreia em Portugal no festival da Figueira da Foz em 1986. Legendas em Inglês.

segunda-feira, 17 de maio de 2021

Milarepa (Milarepa) 1974

Uma história inspirada num texto clássico da literatura tibetiana, o filme anda para trás e para a frente no tempo, entre a história do personagem do título, uma mística do século XI, e um jovem ocidental cujas angústias não são muito diferentes, embos divididos entre a busca do conhecimento e a busca do poder.
O ioga tibetiano Milarepa é um dos principais professores de budismo. A sua autobiografia é filmada em paralelo com a história de um jovem dos nossos dias, ambos procurando respostas das mesmas perguntas. Ambos têm mestres com quais cujas decisões não concordam totalmente, e há mulheres cujos papéis são ambíguos. Mestre e discípulo dependem um do outro, na procura feroz da verdade, onde apenas a crença e a honram contam.
Liliana Cavani faz um filme extraordinário que não perde nada do charme dos seus últinos filmes. É uma meditação do destino do homem, e também uma narrativa das vidas paralelas, do homem e da mulher. Um trato filosófico e uma homenagem a Milarepa, que foi selecionado para concorrer para o principal prémio em Cannes. Legendas em Inglês.

quinta-feira, 13 de maio de 2021

Um Filme Doce (Sweet Movie) 1974

A história entreligada de duas mulheres: uma é a vencedora do concurso Miss Mundo cujo prémio foi casar-se com um magnata do petróleo e que foge desse casamento tumultuado para Paris, tem um caso selvagem com um famoso rock star, El Macho e muda-se para uma comunidade radical. A outra dirige um barco carregado de doces e açúcar, atraindo homens e rapazes com sexo, morte e conversa revolucionária.
Depois do sucesso internacional da crítica de  "WR: Mysteries of the Organism" (1971), o tratado subversivo sobre o comunismo, Wilhelm Reich e a liberdade sexual, o provocador Dusan Makavejev usou toda a sua infâmia para produzir "Sweet Movie", um dos mais desafiadores e chocantes filmes dos anos 70. Muitos dos criticos que já admiravam "WR", em si um desafio subversivo aos costumes politicos e sexuais tradicionais, já consideraram "Sweet Movie" um filme exagerado, enquanto outros o elogiaram como um marco, um filme estimulante cuja quebra de todos as fronteiras convenciomais foi central para a sua tese sobre a necessidade de libertação completa. 
Tal como "WR", "Sweet Movie" dispensa a narrativa convencional a favor de um efeito de colagem de narrativas múltiplas. O fio narrativo dominante começa como uma espécie de comédia política em que uma jovem é coroada de Miss Mundo em 1984. O concurso de beleza exige que ela seja virgem, o que é verificado em palco por um ginecologista de renome mundial que se maravilha com a perfeição do seu hímen intacto.  
"Sweet Movie" foi exibido no festival de Cannes de 1974, na semana dos realizadores.

terça-feira, 11 de maio de 2021

El Santo Oficio (El Santo Oficio) 1974

Gaspar de Carvajal, um dominicano, não vê a sua família desde os 10 anos, quando foi mandado embora para seguir uma vida religiosa. Comparece ao funeral do pai, onde percebe que o corpo foi lavado, depois enterrado numa mortalha e sem caixão. Gaspar diz ao confessor que suspeita que a sua família, os judeus convertidos ao catolicismo, ainda seguem os velhos hábitos. Padre Lorenzo diz que este assunto deve ser levado à Inquisição.
O longo braço da inquisição, ou Santo Ofício, chegou até pelo menos ao século 16 no México (ou Nova Espanha, como era chamada na altura). Muitos católicos espanhóis de origem Moura ou Judaica acharam conveniente fugir para o Novo Mundo para escapar da sufocante atenção da inquisição. Em Espanha, simplesmente ser descendente de um destes povos era suficiente para garantir uma morte horrível por imolação. No Novo Mundo demorou um pouco mais, e este filme mexicano de 1974 relata o sofrimento de uma família que pratica secretamente o judaísmo sendo entregues à inquisição por um membro da família. Curiosamente, um pequeno clã familiar de judeus familiar foi descoberto no Novo México em finais da década de 80 do século passado, tendo conseguido manter a sua fé em segredo durante quase 500 anos.
Realizado por Arturo Ripstein, na altura um jovem mexicano que já tinha trabalhado como assistente de Luis Buñuel, realiza aqui uma das suas primeiras de fição, que o levou direcamente ao Festival de Cannes, para a seleção oficial. Legendas em Inglês.

domingo, 9 de maio de 2021

Parada (Parade) 1974

O público reúne-se num grande salão de circo (apesar do cenário ainda estar a ser montado na altura que eles chegam), e são recebidos por Tati, o Mestre de Cerimónias). Com as performances a sucederem-se uma após outra, a linha entre público e performer começa a quebrar... 
No seu último filme, Jacques Tati leva a câmera para o circo, onde o próprio realizador serve como mestre de cerimónias. Embora inclua muitos espectáculos, incluindo palhaços, malabaristas, acrobatas, contorcionistas, e muito mais, "Parade" também incide sobre os espectadores, tornando este trabalho despojado um testemunho para a comunhão entre as audiências e o entretimento. Criado para a televisão sueca, com o lendário director de fotografia de Ingmar Bergman, Gunnar Fischer, na fotografia do filme, "Parade" marca um tocante final de uma carreira brilhante, que lembra as origens do realizador, como mímico e actor de teatro.
"Parade" foi exibido no Festival de Cannes de 1974, fora de competição.

quinta-feira, 6 de maio de 2021

A Rainha Diaba (A Rainha Diaba) 1974

Do quarto dos fundos de um bordel, o bandido conhecido como Rainha Diaba controla a distribuição de drogas na cidade. Ao saber que um de seus homens está prestes a ser preso, resolve fabricar um novo bandido para enganar a polícia.
"A Raínha Diaba" é o segundo filme de António Carlos da Fontoura, seis anos anos depois do sucesso de crítica e bilheteira "Copacabana Me Engana", e fazia uma mudança total de tema e estilo visual, é sobre uma traficante do submundo do Rio de Janeiro, interpretada por Milton Gonçalves, e que por acaso é negra, gay, poderosa, vingativa e extremamente violenta. 
Foi um dos primeiros filmes brasileiros a lidar, num estilo expressionista e não realista, com a então niva realidade do trafico de droga organizado em larga escala, nas favelas do Rio de Janeiro, a caminho do que se iria tornar o negócio incrivelmente sangrento e violento que é hoje. O aspecto mais marcante é mesmo o tratamento visual com as suas cores gritantes, mas não podemos esquecer dos cenários e figurinos alucinantes de Ângelo de Aquino. 
O filme foi exibido na Quinzena dos realizadores do Festival de Cannes de 1974, e fez também muito sucesso no circuito dos festivais.

terça-feira, 4 de maio de 2021

O Vigilante (The Conversation) 1974

Como convém a um filme sobre um especialista em escutas e vigilância, The Conversation, de Francis Ford Coppola é impulsionado pela sua banda-sonora, pelas complexas intersecções das gravações, a música jazz e a sobreposição de diálogo. O vigilante Harry Caul (Gene Hackman) é um homem solitário e paranóico, um profissional consumado que constrói o seu próprio equipamento e guarda zelosamente os segredos de toda a gente à sua volta, incluindo o seu parceiro de longa data Stan (John Cazale) e a sua amante, Amy (Teri Garr). A vida solitária, mas estável, de Harry, é interrompida quando se envolve mais do que o normal num caso mais recente, em que um empresário pediu a Harry e à sua equipa para gravarem uma conversa entre um jovem casal num local público. O casal, Mark (Frederic Forrest) e Ann (Cindy Williams), estão cientes de que estão a ser observados, então vão para um parque público com movimento a meio do dia, andando em círculos sem fim no meio da multidão, acreditando que isso fará com que seja impossível registrar o que estão a dizer. Para Harry, isto é acima de tudo um desafio profissional, e que, inicialmente, gostou da dificuldade da tarefa que lhe foi dada. Está orgulhoso das suas habilidades, e sabe que é, possivelmente, o único homem no ramo que poderia fazer este trabalho. 
A introdução do filme centra-se, assim, nas habilidades técnicas de Harry, e Coppola corta, secamente, para a frente e para trás, os homens de vigilância nos seus vários esconderijos, enquanto o casal anda conversando. Ouvimos trechos da conversa, por vezes cristalina, por vezes altamente processada ​​ou interrompida por outros ruídos. A banda sonora reflecte as tentativas dos homens de vigilância para montar uma fita coerente, acompanhando o casal com três microfones diferentes. O casal fala sobre coisas aparentemente inofensivas: presentes de Natal, os sem-abrigo, ficando aborrecidos de andar em círculos. Este diálogo básico vai voltar novamente e novamente durante todo o filme, com novos detalhes a serem preenchidos e novos trechos do diálogo que está a ser ouvido, enquanto Harry trabalha nas fitas e descobre novas nuances no som. De cada vez que ele ouve a gravação, parece ouvir algo novo, e como novos detalhes são revelados, os anteriores assumem novos significados. Noutras vezes, uma simples frase pode significar várias coisas diferentes, com base no contexto em que ela foi dita, o tom exacto da voz por trás dela. O áudio e as imagens do casal que muitas vezes acompanham esta gravação, formam a base estrutural para o filme, como Harry começa a investir mais e mais emocionalmente no significado para esta gravação. 
O final extenso acaba por ser uma reversão pura e irónica do que nós (e Harry) assumimos que estava a acontecer. Um pedaço crucial da gravação é repetido, uma última vez, e desta vez uma pequena mudança de ênfase numa palavra muda completamente o significado do que está a ser dito. É uma última lembrança sobre a importância das palavras, do quanto elas podem alterar o significado e a intenção de uma única palavra, uma única sílaba, de quanta informação pode ser codificada no áudio mais aparentemente inócuo. Uma palavra, pronunciada de forma ligeiramente diferente, faz toda a diferença entre a inocência e a culpa, entre o assassino e a vítima. É neste tipo de pequeno efeito, surpreendente que faz com que o filme de Coppola, tão poderoso como tenso, um filme onde a banda sonora sonora é pelo menos tão importante, e provavelmente até mais importante do que, as imagens metódicas, cuidadosamente compostas.

domingo, 2 de maio de 2021

As Mil e Uma Noites (Il Fiore Delle Mille e una Notte) 1974

Neste filme inspirado nos contos antigos, eróticos e misteriosos do Médio Oriente, a história principal fala de um jovem inocente que se apaixona por uma escrava que o escolheu para seu dono. Depois do seu erro imprudente ter causado a sua separação, ele viaja à procura dela. Outros viajantes que contam as suas experiências trágicas e românticas, falam de histórias como a de um jovem que fica extasiado por uma mulher misteriosa no dia do seu casamento e de um homem que está determinado a libertar uma mulher do demónio.
O terceiro e último filme da chamada "Trilogia da Vida" de Pier Paolo Pasolini, adaptado de alguns dos contos mais eróticos da colecção de contos árabes "Mil e uma Noites", difere muito dos anteriores da série, também eles adaptados de coleções de histórias canónicas. De certa forma, este terceiro filme mistura os temas dos filmes anteriores, "Decameron" e "Os Contos de Caterbury", mantendo um pouco o humor obsceno e a liberdade sexual do primeiro, enquanto que lhe acrescenta alguns dos tons mais sombrios do segundo, a sexualidade é contrabalançada com personagens a serem crucificadas, desmembradas e castradas. O filme também carece de uma figura central, enquanto que nos outros é a personagem de Pasolini que unifica todas as histórias. 
Pasolini recrutou um grupo de actores jovens com pouco experiência, e juntos percorreram exteriores espectaculares (na Etiópia, Irão, Nepal), e aparentemente escolhendo talentos locais para preencher o resto do elenco. O segundo filme desta trilogia tinha ganho o Urso de Ouro em Berlin, e agora estava na altura de lutar por Cannes.

quinta-feira, 29 de abril de 2021

Filhas, Filhas, Só Filhas (Abu el Banat) 1973

Um homem com oito filhas, e sem esperança de arranjar um herdeiro, arranja uma amante para consolar-se. Depois consulta um mágico que lhe dá uma lista de instruções sobre como fazer um filho. Depressa a sua esposa estará grávida novamente.
"Abu el Banat" é um filme israelita em hebraico realizado pelo mesmo homem, Moshé Mizrahi, que nos deu os adoráveis  "I Love You, Rose" e "The House on Chelouche Street". O tema central reflecte a cultura dominada pelo homem do médio oriente, mas qualquer um pode simpatizar com Shabtai, o protagonista, proprietário que tem uma casa grande e oito filhas, mas quer um filho. Passa por todas as consultas e rituais concebíveis, muitos deles superstições ridículas, para garantir que o seu próximo filho seja um rapaz. 
Uma comédia de costumes israelita de um realizador que apesar de ser jovem, e de ir apenas no seu quinto filme, já tinha uma carreira internacional muito interessante. "The House in Chelouche Street" já tinha concorrido numa edição anterior do Festival de Cannes, e tinha sido nomeado para o Óscar de melhor filme em língua estrangeira, exactamente o mesmo que tinha alcançado "I Love You, Rose". Com este filme Mizrahi concorria pela terceira vez consecutiva na seleção oficial.
Legendas em inglês.

terça-feira, 27 de abril de 2021

Os Violinos do Baile (Les Violons du Bal) 1974

A história de um realizador que tenta, em vão, há quase vinte anos fazer um filme autobiográfico: os acontecimentos da sua infância, as lembranças da juventude, as lembranças surreais, fundem-se com a vida presente.
Memórias pessoais da França sob a ocupação alemã durante a Segunda Guerra Mundial, o realizador Michael Drach, encantadoramente interpretado pelo seu filho David, não era, no entanto, nenhum Lucien Lacombe, pronto para lutar com o conquistador, mas sim um rapaz judeu de olhos arregalados que apesar de se ter escondido com a família de um camponês astuto e traiçoeiro, foi abençoado com uma mãe que o ajudou a sobreviver à guerra com a sua natureza confiante ainda intacta.
"Les Violons du Bal" compreende episódios da fuga de Michael para a Suiça, intercaladas com cenas semi-humoristicas do ainda confiante Drach (interpretado em adulto por Trintignant) a tentar financiar o seu próprio filme. Foi o filme que representou a França nesta edição do Festival de Cannes. Legendas em inglês.

domingo, 25 de abril de 2021

Mahler, Delírio Fantástico (Mahler) 1974

Durante uma viagem de comboio para Viena, o compositor Gustav Mahler e a sua esposa Alma falam sobre os motivos que levam o seu casamento a falhar. A conversa evoca memórias do passado de Mahler, contando a sua história através de uma flutuação entre o passado e presente.
O nome de Ken Russell continua a ser um sinónimo de excesso, e poucos que já viram filmes como "The Devils", "Tommy" ou "Crimes of Passion" dificilmente conseguirão argumentar do contrário. Mas o desejo de chocar o público era apenas parte do seu repertório, e as habilidades que ele desenvolveu como cineasta para a série de documentários Omnibus da BBC são exemplificadas por este filme biográfico atípico sobre o compositor Gustav Mahler. Interpretado de forma severa por Robert Powell, a vida do compositor é explorada numa estrutura de flashbacks, com ênfase na religião e família. Há também um forte sentido pictórico das paisagens. Russell frequentemente reclamava da falta de filmes britânicos no campo, e o Lake District onde é filmada parte da acção, é um cenário pitoresco.
Há um pequeno cameo de Oliver Reed, e há uma sequência de sonho anacrónica com nazis, mas Russell mantém o controle, e oferece-nos uma imagem austera e digna do génio musical,  desprovido de qualquer sensacionalismo porque Russell era regularmente criticado. Quase ninguém viu o filme quando estreou nas salas, mas teve honras de passar em Cannes, e concorrer para o prémio principal.

sábado, 24 de abril de 2021

Os Outros (Les Autres) 1974

Spinoza tenta descobrir porque o filho cometeu suicídio. Através de uns escritos que ele deixou para trás descobre a namorada do filho, e o rival pelos afectos da rapariga. À medida que vai conhecendo a jovem tornam-se amantes, e quando a jovem aparece assassinada ele é o principal suspeito.
Uma estranha experiência fílmica nos espera com a visão de "Les Autres", desde o inicio. O realizador Hugo Santiago, assim como nas peças musicais líricas, inicia o seu filme com uma "abertura", ou seja, mostra o tema e as personagens que estarão na película. A suposta "abertura", é, na verdade, uma mistura de bastidores, cenas não incluídas no filme, e imagens caseiras do realizador com os seus dois assistentes, e os dois ilustres argumentistas, Adolfo Bioy Casares e Jorge Luis Borges,  Borges era conhecido por ser o fundador da Escola Latina Americana de literatura, também conhecida por "realismo mágico". Essas cenas eram filmadas num celuloide luminoso, que o realizou planeou para serem mostradas ainda com as luzes do cinema acessas, e assim foi mostrado no Festival de Cannes, atraindo a ira de alguns criticos e a incondicionalidade de outros.
Hugo Santiago nasceu na Argentina, mas aos 20 anos veio para França, onde estudou Literatura, Filosofia e Música. Além de coreógrafo foi também assistente de Robert Bresson, por exemplo em "O Processo de Joana D'Arc". "Les Autres" era o seu segundo filme, que teve honras de competição em Cannes. Já o primeiro, "Invasión", tinha ganho uma menção especial em Locarno.
Legendas em inglês.


quinta-feira, 22 de abril de 2021

Part-time Work of a Domestic Slave (Gelegenheitsarbeit einer Sklavin) 1973

 Conhecido internacionalmente como "Part-time Work of a Domestic Slave", este file de Alexander Kluge investiga o quanto difícil é entender o complexo funcionamento da política e da sociedade, e fazer a diferença, quando a sociedade e as suas estruturas são projectadas  para devorar tanto tempo e energia das pessoas. O título do filme, em si, implica muito: Roswitha (Alexandra Kluge, irmã do realizador) é a "escrava doméstica" uma dona de casa que divide o seu tempo entre cuidar dos seus três filhos e o marido verbalmente abusivo, e trabalhar para cuidar deles, deixando pouco tempo para pensamentos ou preocupações fora do ambiente familiar. 
O filme está dividido em duas partes: na primeira a protagonista trabalha como parteira clandestina, já que o marido não tem emprego, e é preciso sustentar a família. Na segunda parte, depois do consultório de Roswitha ser encerrado, e o marido ser obrigado a arranjar emprego, ela envolve-se em questões sociais e políticas, tentando aprender mais sobre o mundo fora das suas quatro paredes. O seu tempo parcial muda, assim, ao longo do filme, da necessidade de conseguir as necessidades físicas e materiais para a sua família, para a liberdade e tempo para desenvolver os seus próprios pensamentos e ideias independentemente da família. 
Alexander Kluge, um dos signatários do chamado Manifesto de Oberhausen, onde foram postuladas as bases para o chamado Novo Cinema Alemão, declara aqui as suas preocupações sociais, próximas ao comunismo, e realiza um dos seus filmes mais marcantes. Por vezes perto do documentário, com características formais muito pessoais: câmara nervosa, narração em off, inserção de desenhos, montagem abrupta, uso de legendas, preto e branco, para se ir transformando num filme um pouco pretencioso, denso e cinzento. 
Em Cannes foi exibido na Quinzena dos Realizadores, e tem legendas em inglês.

Imdb   

terça-feira, 20 de abril de 2021

Os Cavaleiros do Asfalto (Mean Streets) 1973

Little Italy, cidade de Nova York. Charlie (Harvey Keitel) trabalha ao lado do tio, um mafioso respeitado, coletando pagamentos e realizando cobranças. Enfrenta o descontentamento da sua família, devido à relação que mantém com Teresa (Amy Robinson). Charlie, na verdade, não nasceu para o crime e deseja iniciar uma vida nova ao lado da namorada. Só que Johnny Boy (Robert De Niro), o seu melhor amigo, mete-o numa enrascada quando se recusa a pagar uma dívida de jogo.
O filme que trouxe para a ribalta Martin Scorsese. Um dos seus temas principais era que pagar pelos seus pecados não era no confessionário, era nas ruas. Enquanto que Francis F. Coppola transformaria o mundo dos mafiosos com os seus dois filmes da série "O Padrinho", Scorsese concentrava-se nos criminosos menores, com os que podiamos encontrar na nossa vizinhança, que atravessavam uma  linha ténue entre ser respeitáveis e fazer um dinheiro extra pelas vias menos legais.
Crú, apaixonante e agressivo. Não era o primeiro filme de Scorsese, mas foi o primeiro em que ele teve rédea solta para trabalhar, com dinheiro suficiente, e também a primeira vez que trabalhava com aquele que viria a ser o seu actor preferido, Robert de Niro. Mas aqui, Keitel é Scorsese no ecrã, um jovem italo -americano que luta com responsabilidade por uma vida melhor. 
Exibido na secção Quinzena dos Realizadores no Festival de Cannes de 1974. era um filme muito importante para a nova geração de realizadores americanos. 

quarta-feira, 14 de abril de 2021

O Medo Come a Alma (Angst essen Seele auf) 1974

Um romance quase acidental entre uma mulher alemã na casa dos seus sessenta anos, e um jovem emigrante marroquino, cerca de 25 anos mais novo.Abruptamente decidem casar-se, chocando todos à sua volta. 
"O Medo Come a Alma", é a obra prima humanista de Fassbinder, um dos filmes que definiu o Novo Cinema Alemão de meados dos anos 70. É tanto uma descrição incisiva dos conflitos sociais e raciais que predominavam no pós-guerra da Alemanha, como uma extraordinária história de amor, uma das mais mordazes e significativas alguma vez levadas ao grande ecrã. É considerado por muita gente como o ponto mais alto da carreira do realizador. Por certo será também um dos seus mais acessíveis. 
Foi entre a produção de dois filmes que Fassbinder teve um período de quatro semanas, que aproveitou para escrever e rodar este filme. O que começou por ser um exercício de técnica de realização, tornou-se num dos mais pessoais e inspirados filmes. Também foi o mais flagrante tributo a Douglas Sirk, o realizador americano que ele mais admirava, e que teve um grande impacto na sua carreira. As semelhanças entre este filme e "All that Heaven Hallows" (1955) são por demais evidentes. Ambos os filmes envolvem dois indivíduos solitários de áreas sociais bastante distintas, que são rejeitados pelas suas comunidades ao embarcarem num romance apaixonante. Tal como Sirk antes, e Fassbinder depois, é usado o melodrama popular como forma de crítica à sociedade contemporânea. Onde Sirk estava preocupado com o vício da classe e burguesia no materialismo, Fassbinder preocupou-se em analisar o problema da intolerância racial, um dos grandes taboos do seu tempo. 
O facto de Fassbinder ter demorado tão pouco tempo a produzir este filme, pode ser a razão porque ele é uma peça de cinema tão importante. Foi feito com o coração, e não o intelecto. Sem o tom político pesado de outras obras mais elaboradas do realizador, "O Medo Come a Alma" tem uma qualidade crua e visceral, superficialmente muito simples, mas muito complexa se olharmos para lá da superfície. 
Fez parte da Selecção Oficial do festival deste ano.

segunda-feira, 12 de abril de 2021

Lancelote do Lago (Lancelot du Lac) 1974

O caso de amor entre a rainha da Inglaterra, Guinevere (Laura Duke Condominas) e o mais importante cavaleiro do rei Arthur (Vladimir Antolek-Oresek), Lancelot (Luc Simon). O dilema do casal proibido que vive uma relação de traição e a conspiração que os cerca.
A narrativa elíptica também é uma abordagem típica de Robert Bresson, mas parece particularmente pronunciada em "Lancelot du Lac", talvez porque Bresson presumiu que a lenda do rei Artur era amplamente conhecida. Bresson também elemina muito do heroísmo, acção, violência, e ambiente grandioso do conto tradicional, convertendo uma história épica num filme modesto e restrito, com personagens cansados a lutarem para manter os seus ideais cavalheirescos, apesar dos desejos urgentes dos seus corações. 
Bresson utiliza um estilo minimalista, o seu ênfase está no fim de Camelot e na morte que o acompanha, e depende quase totalmente do seu estilo para fazer transmitir a mensagem. Tal como as obras anteriores do realizador, o elenco é formado na sua maioria por actores amadores. É um filme imperdível, injustamente deixado de fora da secção competitiva, mas foi exibido em Cannes numa sessão extra competição.

domingo, 11 de abril de 2021

As Nove Vidas do Gato Fritz (The Nine Lives of Fritz the Cat) 1974

O gato Fritz, agora casado e com um filho, está desesperado para escapar do inferno doméstico em que se encontra. Depois de acender um cigarro de erva, começa a sonhar com as suas outras oito vidas, na esperança de encontrar uma que lhe proporcione uma distração agradável. As viagens que ele faz induzidas pela droga incluem: feitiços como astronauta, psiquiatra de Hitler, um mensageiro a viajar em território hostil durante uma guerra racial, e um aluno de um guru indiano que vive nos esgotos de Nova Iorque.
Fritz the Cat foi criado por Robert Crumb, que não foi creditado nesta sequela de um filme que ele odiava, realizado em 1972 por Ralph Bakshi. Este filme de Robert Taylor é muito mais obscuro do que o primeiro, e não foi realizado pelo mesmo realizador porque Bakshi quis seguir por um projecto diferente, e Taylor escreveu o filme com Fred Halliday e Eric Monte, aproveitando o sucesso do primeiro. Se o filme de Bakshi era uma viagem aos anos 60, esta sequela era outra viagem, mas aos anos setenta. 
O primeiro filme era já um filme de culto, e uma vez que a sequela era produzida pelos mesmos produtores do primeiro, teve até honras de ser exibido em Cannes, na Seleção Oficial do festival. Gostos à parte, até se percebe a ira de Robert Bresson, pelo seu "Lancelot du Lac" ter ficado de fora da competição. Mesmo assim, não deixa de ser um filme curiso, e aqui está.