sábado, 31 de outubro de 2020

Serial Rapist (Jûsan-nin Renzoku Bôkôma) 1978

Um homem comete 13 assassinatos brutais de pessoas aleatórias, uma após a outra. Um homem anónimo, ciclista, que habita numa casa abandonada à beira do rio, passando o tempo a observar as chaminés das fabricas e os aviões a descolar. Entre as vítimas de violações e assassinatos deste homem silencioso estão pessoas bem diferentes, de polícias a um casal a fazer sexo.
Também conhecido por "The Violent Man Who Attacked 13 People" (numa tradução mais literal" ou "Serial Rapist", é um dos mais violentos e niilistas dos pink movies feitos até hoje. Com um tom completamente sombrio e sem qualquer esperança de rendição, narra alguns dias na vida de um serial killer. O saxofone de Kaoru Abe substitui a voz do jovem criminoso trazendo um contraste criativo com a sua alienação. A solidão do seu personagem perdido é esmagadora, e o filme é frio e é preenchido por muita amargura e desespero.
Seria um dos últimos filmes da colaboração entre Masao Adachi e Kôji Wakamatsu, uma colaboração que viria a ser reatada 30 anos depois, em "Caterpillar". Os anos 80 não foram particularmente famosos para Wakamatsu, dedicando-se a um cinema mais comercial e em muito menor número. Por isso, neste ciclo, vamos dar um salto até aos anos 90, a partir de segunda-feira.
Legendas em inglês.

sexta-feira, 30 de outubro de 2020

Eros Eterna (Seibo Kannon Daibosatsu) 1977

"Eros Eterna" conta a história de uma lendária freira imortal, que vagueia pelo mundo encontrando várias pessoas de várias condições. Para conhecer um pouco melhor este filme, vamos ler o texto do especialista Miguel Patrício:
""Geralmente faço este género de filmes difíceis de compreender após ter vivido uma experiência forte." Eis a única e enigmática formulação proferida sobre Eros Eterna, presente na longa entrevista feita por Go Hirasawa e publicada no livro mais essencial acerca do cineasta, Koji Wakamatsu: Cinéaste de la Révolte. O carácter fantasmático da película, entre o sincretismo religioso e o mito rural, pede emprestada presenças oshimanas para fortalecer uma experiência obscura que se quer no limite do cinema político-anarca desenvolvido durante os anos 60. Essas duas presenças são Mamoru Sasaki, que, ao contrário de Masao Adachi, parecer consagrar no argumento muito mais tempo à dimensão divina do que à terrena e, finalmente, Eiko Matsuda, a actriz de In the Realm of the Senses, que dá carne ao espírito e espírito à carne, personificando uma monja, Happyaku Bikuni, que segundo a lenda viveu mais de 800 anos após ter ingerido carne de sereia e os seus vários encontros (sexuais) com os mortais. A Art Theatre Guild, uma vez mais, financiou este delírio wakamatsuano cuja origem, segundo o mesmo, remontava à sua experiência na Palestina documentando os treinos e a maneira de pensar dos membros da FPLP, defensores radicais da luta armada como única forma de revolução mundial. Qual o elo de ligação entre o misticismo impenetrável de Eros Eterna e o compromisso extremo de Red Army/PFLP: Declaration of World War? São os seis anos que separam um filme do outro que nos fornecem a pista fulcral, pois esse prolongamento no tempo, causador de algum distanciamento em relação ao radicalismo político, pôde ter estado no cerne desta fantasia mitológica onde todos os humanos estão sobre o escrutínio de uma entidade imortal que, através da sexualidade, molda e expande o conceito de caridade e absoluta compreensão. Bikuni transforma-se, assim, em Kannon Bosatsu, a divindade budista da misericórdia como o título original em japonês nos deixa antever (Sacred Mother Kannon). É, todavia, na cena de amor entre Kannon e um revolucionário que melhor fica cristalizada esta espécie de auto-crítica política no interior do próprio filme. Após ser incitado pela sereia imortal para prosseguir com os intentos terroristas, o estranho personagem suicida-se com a própria bomba que iria completar o seu "acto heróico". A divindade, sempre cheia de graça e misericórdia exceptuando apenas um caso, o do responsável maldoso pela instalação de uma central nuclear (talvez uma representação maniqueísta do capitalismo torpe), diz olhando para o cadáver ensanguentado do suicida: "Tu estavas assustado em viver uma vida longa, não era assim?" Esta complacência para com aquele instinto revolucionário impaciente que revela, ainda assim, o pavor de não se conservar perante a duração da realidade, a duração da sua própria negação, lança assim o mote de um cineasta, Wakamatsu, interessado na santidade radical, quiçá para exorcizar ou substituir os fantasmas de uma revolução que, na altura, já ia longe da vista e dos corações." Daqui
Legendas em inglês.

sábado, 24 de outubro de 2020

 Por razões de força maior vou ter de fazer uma pequena pausa, mas volto em breve, a partir da próxima quinta-feira.

Até já. 

quarta-feira, 21 de outubro de 2020

Ecstasy of Angels (Tenshi no Kôkotsu) 1972

Um grupo de anarquistas, que vestem roupas da moda e vivem em apartamentos elegantemente mobilados, entram num depósito de armas e roubam algumas caixas com explosivos. Há um tiroteio com o exército e o líder do grupo anarquista é cego. Ele consegue fugir, mas o grupo agora começa a dividir-se, e começam a criar conflitos entre os seus membros.
Depois de ter filmado o Exército Vermelho japonês nos territórios da Palestina, Wakamatsu tornou-se alvo do governo Japonês e da Interpol, e foi colocado ma lista negra do governo americano, não podendo entrar neste país até aos dias da sua morte. 
Wakamatsu teve oportunidade de assistir às violentas revoluções estudantis em Tóquio durante o final dos anos sessenta e inicio dos anos setenta. Em entrevistas explicou que enquanto filmava o que acreditava ser o confronto final entre estudantes e policias observou que os movimentos estudantis tinham falhado em prevalecer devido a lealdades pessoais a subgrupos dentro do movimento geral. Estas lealdades fragmentaram o foco do movimento e possibilitaram que a polícia superasse a multidão. A conclusão de Wakamatsu era que para que o movimento fosse bem sucedido teria de ser uma revolução radicalmente individualizada, e é essa ideia que ele explora em "Ecstasy of Angels".
Uma montanha russa de violência, sexo e política revolucionária. É isso que define este "Ecstasy of Angels".

segunda-feira, 19 de outubro de 2020

The Red Army/PFLP: Declaration of World War (Sekigun-P.F.L.P: Sekai Sensô Sengen) 1971

Em 2008 Wakatsu lançou "United Red Army", a história da criação de grupo revolucionário armado ultra-esquerdista em 1970, e a sua implosão dois anos depois. O filme foi um trabalho de amor e dedicação de Wakamatsu, que hipotecou a sua própria casa para financiar o filme, e a explodiu para uma cena em particular, já que ele e o seu argumentista habitual Masao Adachi eram activamente envolvidos nos movimentos estudantis clandestinos e nas organizações de esquerda que deram origem ao Exército Vermelho Unido em Julho de 1971.  Foi neste ano que os dois homens se encontraram com duas das fundadoras do grupo, Fusako Shigenobu e Mieko Toyama, na Palestina, onde estas mulheres trabalhavam como voluntárias na Frente Popular pela Libertação da Palestina (FPLP). Para marcar a ocasião Wakamatsu e Adachi criaram um filme de notícias para a criação do Exército Vermelho, este  "The Red Army/PFLP: Declaration of World War".
Foi um marco no cinema como activismo, o cinema como movimento no cinema japonês, e um filme que retratava as actividades quotidianas dos guerrilheiros árabes como uma narrativa cinematográfica da revolução mundial. O filme foi concebido como uma nova forma de reportagem, e foi discutido em sincronicidade com o grupo Dziga Vertov de JL Godard e os filmes revolucionários da América Latina, transcendendo distâncias geográficas. Foi uma obra bastante importante no sentido de que foi a personificação da colaboração entre cineastas japoneses e palestinos daquela época, e também um documento histórico da Palestina, onde os seus constantes bombardeamentos dificultavam aos palestinos possuírem os seus próprios filmes. 
Legendas em Inglês.

domingo, 18 de outubro de 2020

Seizoku: Sex Jack (Seizoku) 1970

Passado num futuro próximo, um pequeno gang de jovens estudantes revolucionários é escondido por um ladrão. Enquanto se escondem, todos menos o ladrão, vão alternando a fazer sexo com uma jovem infeliz ( e talvez relutante), que teve a infelicidade de se envolver com eles. 
Uma história sobre jovens revolucionários loucos por sexo, obviamente inspirados na Zengakuren, a associação de estudantes japonesa, "Sex Jack" tenta mostrar como o poder se inflitra num grupo anti-establishment, dando aos seus membros uma liberdade enganosa. Obra essencial para apreciar o clima de turbulência política entre os estudantes do inicio dos anos 70, o filme foi proibido pela censura francesa, que não aprovou a morte fictícia de um primeiro ministro.
Um tema recorrente para  Wakamatsu é a mensagem politica carregada com sexo e violência, que está bem presente neste filme. Os diálogos políticos e monólogos filosóficos que os jovens estudantes têm enquanto fazem sexo com a jovem enquanto ela diz "pela revolução", ou "nós venceremos" adicionam um interesse obscuro ao filme, tocando nas emoções humanas mais cruas.
Legendas em português.

sexta-feira, 16 de outubro de 2020

Vai Vai Virgem Pela Segunda Vez (Yuke Yuke Nidome no Shojo) 1969

A história insólita de dois adolescentes unidos por um passado de violência sexual e um estranho desejo de vingança. A acção decorre quase na sua totalidade no terraço de um edifício de apartamentos onde, ao cair da noite, uma jovem (Poppo) é vítima de uma violação em grupo. Em vez de se afastar, Poppo permanece no terraço e é violada uma segunda vez. No terraço encontra-se outro jovem (Tsukio) que observa placidamente o decorrer dos acontecimentos sem esboçar qualquer intenção de intervir. Na manhã seguinte, Poppo e Tsukio começam a partilhar detalhes íntimos das suas vidas, incluindo o facto de Tsukio ter assassinado recentemente quatro pessoas...
Apesar de demorar pouco mais de uma hora, "Go, Go, Second Time Virgin" agrega uma grande quantidade de arte em cada cena. A atmosfera implacável e pessimista será difícil para muitos espectadores, e apesar das exibições casuais e frequentes de nudez, o filme dificilmente poderá ser catalogado de erótico, em vez disso o contacto físico é apresentado como um bálsamo temporário para aliviar a agonia do dia a dia da cidade grande, com famílias insensíveis ás necessidades dos seus filhos. 
A rebelião adolescente nunca pareceu tão cruel como neste filme, que é um dos pináculos da carreira de Kôji Wakamatsu. 

quarta-feira, 14 de outubro de 2020

Sex Games (Seiyûgi) 1969

Uma obra-prima do cinema militante de 1968, filmadas nas verdadeiras barricadas da própria universidade de Nihon, durante o período das lutas sociais. Começa como uma longa sessão de amor livre, na forma de uma peça de violação encenada por um grupo de estudantes sem rumo. No entanto um dos estudantes apaixona-se pela jovem violada e ela convida-o a participar uma experiência para descobrir o verdadeiro significado do radicalismo. Filmado a quatro mãos, por Kôji Wakamatsu e Masao Adachi, habitual argumentista de Wakamatsum estudante desta iniversidade.
Palavras do Miguel Patricio: 
"Incendiário como sempre, este raríssimo filme do forasteiro Masao Adachi parece continuar o trilho de gasolina cinematográfica deixado pelo seu "companheiro de luta", Wakamatsu, a saber, descrição de uma juventude que esbateu os limites morais e vê na violência e na sexualidade a única maneira de se exprimir com radicalidade e, portanto, honestidade brutal. Mais relevante do que esta busca desconexa pela violentação do outro e do próprio, é a presença fantasmagórica e atmosférica (pairante, até diria) de uma revolução "política" que se exprimiria exactamente da mesma forma e com as mesmas energias destrutivas e anárquicas. Marx e Engels tinham avisado no Manifesto Comunista de 1848 que o fantasma comunista vinha para ficar na Europa; Buñuel, depois deles, chamou "Fantasma da Liberdade" ao seu filme mais desconexo e que apontaria para o pós-modernismo, a expressão cultural do não ser determinado. Adachi neste Sex Game filma tudo menos este fantasma da Revolução, que, por um lado, não é mais do que um fantasma, no sentido de não existir efectivamente, mas a sua inscrição irreal deixa nos que acreditam nele ou o desejam um sentimento complexo de ansiedade e justificação. No final, o fantasma é Deus, mas um Deus maligno que necessita ver sacrificados os falsos fieis. Eis que Adachi encontra neste universo confuso e contraditório, mas repleto de revolta (nem que seja a revolta que nasce da revolta) imagens misteriosas (quase surreais se não fossem carnais) de uma geração cuja lógica de conduta residia na escolha de extremos. Portanto, a sequência final - farsa agressiva que suspende a seriedade diegética como se nada fosse - aponta para a seguinte denúncia: a evasão do Deus da Revolta torna a escolha dos extremos arbitrária, sejam eles a pertença ao Exército Vermelho ou a inscrição no Tatenokai (Sociedade do Escudo) de Yukio Mishima." Daqui.
Legendas em inglês.



segunda-feira, 12 de outubro de 2020

Running in Madness, Dying in Love (Kyôsô Jôshi-kô) 1969

Durante confrontos entre manifestantes e policias que deflagram pelas ruas de Tóquio um jovem esconde-se em casa do seu irmão - um policia. Este último é baleado acidentalmente pela esposa, o que obriga o jovem a fugir com ela. 
Distopia total no final dos anos sessenta. Violência e laços familiares tóxicos na rectaguarda, uma promessa de libertação na frente que parece aumentar como uma fantasia. Este provocativo road movie de Kôji Wakamatsu começa como deve continuar, enquanto o clima político volátil do Japão do final dos anos sessenta contrasta com abstração da frustração juvenil da nação. O filme começa com uma montagem a preto e branco de uma manifestação de protesto em Shinjuku onde os estudantes estão em confrontos violentos com a polícia devido à renovação do tratado de Anpo (acordo de segurança e cooperação entre o Japão e os Estados Unidos).
As imagens da verdadeira manifestação são filmadas por Wakamatsu, porque estas ocorriam perto do escritório da produtora, e são intercaladas com encenações que colocam Sahei (mais uma vez Ken Yoshizawa) no centro da acção, sobrepondo a sua luta individual contra um pano de fundo de desencanto geracional. Um tremendo trabalho visualmente hipnótico de niilismo radical, e talvez o olhar mais desesperado de Wakamatsu sobre a futilidade do protesto político e da libertação sexual.
Legendas em inglês.

 

sábado, 10 de outubro de 2020

Violent Virgin (Shôjo geba-geba) 1969

Um homem e uma mulher são capturados e mantidos em cativeiro por um grupo de Yakuzas, e o filme explora as várias mudanças na dinâmica de poder entre o casal e este grupo, e ainda outro grupo de Yakuzas bem vestidos.  À medida que o filme avança, os personagens parecem mais símbolos representando relacionamentos numa alegoria, do que parte de uma narrativa. Wakamatsu filma inteiramente ao ar livre, no deserto. 
Seria muito fácil chamar "Violent Virgin" de um filme perturbador. A qualidade da interpretação e o cenário surreal evitam que o espectador seja atraído directamente para o filme, mas toca numa série de questões que não podemos deixar de reflectir, quando quase misericordiosamente chegamos ao fim, e como a distinção entre o homem e a besta, e a parede que separa os dois pode por vezes ser tão fina. 
Notavelmente para a época, e até mesmo para agora, há uma representação do prazer mútuo nas cenas de sexo masculino / feminino, que parecem transcender a perspetiva masculina. Os personagens femininos são vistos como tão sexualmente e violentamente carregados como os masculinos.
Legendas em inglês.

sexta-feira, 9 de outubro de 2020

Violence Without a Cause (Gendai sei Hanzai Zekkyô hen: Riyû Naki Bôkô) 1969

Três jovens estudantes universitários, pobres e abandonados, decidem ir para o interior de Aomori, onde ficam num pequeno apartamento de estudantes. Enquanto caminham pela praia, avistam um jovem casal e decidem violar a rapariga. Os três se sentem rejeitados pela sociedade, apesar de tentarem sair deste estado. Depois de perceberem que não são capazes de integrar a sociedade, os três decidem pôr um fim ás suas vidas.
A história foi provavelmente inspirada na figura de Norio Nagayama, um serial killer de 19 anos que foi condenado por matar 4 pessoas, numa vaga de assassinatos por todo o país em 1968. O título do filme foi inspirado pelo clássico americano protagonizado por James Dean ""Rebel Without a Cause", com a angustia da adolescência a passar aqui para a juventude japonesa da década de 60.
Filmado em muito poucos dias (Wakamatsu fez 11 filmes em 1969), com inspiração na Nouvelle Vague mas sem o cuidado de desenvolver personagens, é um dos filmes mais bem apreciados do realizador. Os três jovens protagonistas, assim como parte do elenco, são amadores.
Legendas em inglês.

terça-feira, 6 de outubro de 2020

Season of Terror (Gendai kôshoku-den: Teroru no kisetsu) 1969

Dois polícias à paisana seguem um jovem, Hikoya, que acreditam ser o líder de um grupo activista radical. Instalam-se num apartamento em frente ao jovem, onde o observam e tentam obter informações sobre este grupo activista. Lentamente os policias percebem que o jovem não está tão envolvido como eles esperavam, passando a maior parte do tempo com as suas duas parceiras sexuais.
"Season of Terror", de Kôji Wakamatsu é um filme fascinante que explora muitos dos temas típicos do realizador: o ativismo político e o erotismo.  Hikoya é um homem que cresceu frio e cansado, enojado com a dissenção dentro dos movimentos revolucionários. Em vez disso, voltou-se para o sexo e o prazer, passando os dias deitado, estimulando-se com os prazeres da carne. A fotogradia é fria, capturando da melhor forma o ponto de vista deste homem fragmentado. Wakamatsu traça paralelos entre sexo, violência e activismo, embora no final possa parecer muito crítico em relação  à revolução sexual. 
É um filme que pode ter várias interpretações. e Wakamatsu mostra a corrupção que os constantes prazeres da carne podem ter num indivíduo, que no caso de Hikoya perdeu toda a vontade de lutar pelo que acredita.
Legendas em inglês.

segunda-feira, 5 de outubro de 2020

Vengeance Demon (Fukushûki) 1969

Um irmão e uma irmã vivem como marginalizados pela sua aldeia por causa da crença de que a loucura e a doença correm no seu sangue. Um grupo de moradores planeia roubar a propriedade deles, espancando e enforcando o irmão, e violando a irmã em grupo. Os aldeões acreditam que o irmão está morto, e pensam num plano para matar a irmã e fazer parecer que as duas mortes pareceram um acidente. Mas o irmão sobrevive, e vai atrás dos aldeões em busca de vingança.
Wakamatsu transporta a violência da cidade para o campo, para as brigas entre aldeões, num filme realizado no período mais prolifico da carreira do realizador, entre 1965 e 1972. Não sendo propriamente um pink movie, acabaria por passar despercebido na filmografia do realizador, muito poucas vezes exibido nos dias que correm. Está aqui, para os curiosos.
Protagonizado por Ken Yoshizawa, um habitual colaborador de Wakamatsu, que tinha estreado no cinema pela mão do próprio realizador em "Rankô", que já vimos neste ciclo. 
Legendas em inglês.

domingo, 4 de outubro de 2020

Dark Story of a Japanese Rapist (Zoku Nihon bôkô Ankokushi: Bôgyakuma) 1967

A história de um jovem perturbado, que viola e mata mulheres, e esconde os seus corpos numa cave. Um trabalho baseado no caso de Yoshio Kodaira, ym serial killer violador activo logo após a segunda guerra mundial. 
Recém saído do sucesso comercial de "Violated Angels", uma dramatização erotizada do caso de Richard Speck, o realizador Kôji Wakamatsu voltou a sua atenção para outro criminoso da vida real, Yoshiro Kadaira, o violador que aterrorizou Tóquio depois da Segunda Guerra Mundial. Neste filme, a personagem foi renomeada para Marqui de Sadao, e é interpretado habilmente com uma destacada crueldade pelo futuro realizador Osamu Yamachita. O violador é descrito de uma forma muito mais perversa do que o seu modelo da vida real, incluindo chicotadas e mutilações entre os seus modos de tortura. 
Tal como o filme anterior de Wakamatsu, o capitalismo leva a culpa por quase todos os erros da sociedade japonesa, mas no contexto de uma tentativa calculada de ganhar a atenção das bilheteiras dos cinemas, grande parte da crítica social cai por terra. Mais um filme raríssimo, poucas vezes visto nos dias de hoje. 
Legendas em inglês.

sábado, 3 de outubro de 2020

The Orgy (Rankô) 1967

 
Um assassino profissional volta-se contra o mundo que o fez, e sensacionaliza o que faz, mata na esperança de um dia encontrar pedaços do seu passado. É um mundo vazio de ligações, confiança ou significado, formado por encontros fugazes com mulheres fugitivas.
Um filme raríssimo, que se encontra na internet devido a uma exibição na RAI 3, e por isso vão encontrar legendas em inglês por cima das italianas (mas dá para ler bem).  Comentário do Miguel Patrício, especialista em Cinema Japonês:
"Este raro filme de Wakamatsu, felizmente emitido na estação televisiva italiana RAI3 como forma de homenagem ao pai do pink político recém falecido, entra em consonância total com o resto da sua obra dos finais dos anos 60, princípios dos 70 por escolher uma certa preponderância alegórica e um tratamento de imagem cuidado. Não esquecendo, também, o diálogo com a tradição de filmes de hitman - o que significa que o cinema de Wakamatsu pactuava, por vezes, com os géneros cinematográficos para criticar mais abrangentemente os poderosos, os capitalistas e os patrões malditos - Orgy pouco tem de erótico em sentido estricto. Podemos até dizer que a Orgia referida no título não é mais do que uma metáfora para a multiplicidade de interesses, papeis e intervenientes que o dinheiro faz movimentar, numa fome de sempre pôr os sujeitos a querer alcançar a sua expansão: ter-se, a si e aos outros. Comparada assim, a ganância monetária à sexualidade sem motores sentimentais que não a satisfação momentânea, eis que Wakamatsu suavemente nos convencia de que o amor poderia ser a salvação para se arrebatar com a doença da exploração do homem pelo outro. Nada de mais cínico que este epílogo: uma lixeira a céu aberto chamada de mundo capitalista onde mesmo o amor existe como manipulação interesseira, uma saída falsa como todas as outras, condenada ao extermínio pela sua insustentabilidade."
Legendas em inglês