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quinta-feira, 25 de julho de 2019

Um Lance no Escuro (Night Moves) 1975

Antes de chegar a "Night Moves" Arthur Penn realizou os seus dois filmes mais inclassificáveis. E achar isto é não esquecer "The Miracle Worker" e os outros casos dessa época que realmente só parecem ter paralelo com um Ingmar Bergman desta vida. "Alice's Restaurant" parece agora um imenso adeus ou uma derrota não tomada como tal; "Little Big Man" um olhar para os secundários da grande História que tem mais de desilusão do que de revisionismo. Pelo meio voltou à televisão e a outras formas, com certeza com o mesmo empenho. Não sei dizer mais nada sobre este período. Mas desilusão, lentidão, olhar para dentro e pressentimento, olhar sempre à procura de alguma coisa que não vem é a história desse grandíssimo (e pequeníssimo, ao lado de) filme de 1975 que não se toma por tal. Gene Hackman é Harry Moseby, detective privado que plana por uma Los Angeles tão triste como os seus olhos e tão abatida como a pele do rosto. A mão do tempo já avançou muito e a Moseby já não é permitido ter o estilo ou a dureza de um Sam Spade ou de um Philip Marlowe. Sabe que a sua natureza inserida na paisagem contemplada é a sua tragédia, a sua ferida, o seu buraco, e vai acabar tão sem rumo no final como quando o encontramos. Meteu-se no negócio errado, mas, se atentarmos bem nas suas acções, reflexões, respostas e disponibilidades, divagações dilaceradas, perceberemos que qualquer modo de vida seria prejudicial a tal melindre. Não é dizer que ele sabe o quanto é bom, antes que está em contracorrente e deu por isso. A imagem ou o mecanismo do futebol é perfeita: - "Quem está a ganhar?" - "Ninguém. Um dos lados só está a perder mais devagar do que o outro." Uma consciência de que vogando limpo ou simplesmente acessível no centro de um cancro (corrupção ou falta de amor) a demanda está perdida à partida. E mesmo que se possa chegar à vitória superior de poder andar de cabeça levantada e olhar olhos nos olhos, o lamento pelo que poderia ter sido não passa e mata de maneira mais dolorosa do que o fulminante tiro a frio. 
Nesse universo onde tudo se pode comprar como tudo se pode comer, Moseby é obrigado a dizer a uma adolescente estilhaçada, essa Melanie Griffith que possivelmente traça o seu último caso, que ter dezasseis anos ou quarenta é igual ao litro. Não se fica melhor. Sobre a procura da obrigatória identidade para sempre. E diz-lhe isto sem gemer ou gritar, mas com uma gravidade fina e calada que tece a construção e progressão deste filme de consciência ferida. Ferido mas nunca fascinado por qualquer iconografia do looser, niilismo ou celebração, numa frontalidade que tem a ver com compreensão e amparo familiar. Pode-se ter visto e experimentado mais, ter partido a cabeça a alma e o coração, mas as certezas, ali ou aqui no século XXI dos eventos que substituíram a verdade e o comprometimento, é sempre mais chão escorregadio. Os movimentos nocturnos do título devem ter a ver com esses raros que só podem respirar bem pela calada, quando o grande embuste e a grande piada fica suspensa, pela noite dos cantos dos bichos e das músicas das crianças; junto dos que se afogam em bares ou nas sarjetas da falta de ambição que pode ser a mais justa ambição; essas casualidades que já não esperam grandes coisas, não acreditam em milagres ou no romanesco aconchegante, e então pode acontecer um vislumbre ou um encaixe como esse que Moseby teve junto a essa aparição feiticeira surgida das águas; momento, vamos sabê-lo posteriormente, também encenado, mas é preciso já estar completamente vazio para não se perceber da excepção ou da maravilhosa ilha que tão serenamente emergiu e explodiu aí, no momento mais belo e apaziguado. 
"Night Moves" é assim e por tudo aonde não se pode aceder, o mais sossegado e o mais exposto momento de Penn. Uma acalmia urdida num mal-estar e numa doença que é muito mais evoluída do que a dos eléctricos e furiosos filmes passados. O sexo, a nudez, o oferecimento ou a procura, tudo isso aparece sem o fulgor do desejo. Tudo tem valor de mera troca, de vingança, de mal mesquinho. Embaciamento e entropia onde se avança a custo, sempre de pé atrás, cada um por si. Como no desporto americano, corre quem estiver com a bola. Já não há trabalho de equipa, entreajuda, solidariedade. Sem se dar por isso, estamos perante um dos mais vertiginosos climas, temperamentos, ventos dos anos setenta. Essa Nova Hollywood que proporcionou visões tão cansadas, terminais, funéreas como esta. Para se perceber agora que as tiradas sobre os filmes de Eric Rohmer não eram maldosas, não se podiam era aplicar no contexto. Pois como Rohmer, Penn também sabia que é sempre questão de envolvência e não de acessório; questão ontológica primordial, nunca efeitos que se evaporam sem o apelo da matéria. Se Moseby acaba a navegar, ainda a navegar, com tanto cadáver em torno, é porque ainda restará algo. Nem que seja só navegar. Mas navegar ainda. Pertence a um tipo não muito gregário que inclui o George C. Scott de "The New Centurions ", os espantalhos de "Scarecrow", porventura o corredor louco de "Vanishing Point". Tipo que ignora o sábio conselho "se não os podes vencer, junta-te a eles". E paga por isso. "You bastard! Bastard! Bastard!" é o que esse detective vocifera para si mesmo e para quem já não o pode escutar. Depois a câmara sobe, sobe, e ele continua a navegar. Algo se esfuma. E não temos nova situação. Assim, seco. 
* Texto de José Oliveira

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terça-feira, 1 de maio de 2018

Penn & Teller Get Killed (Penn & Teller Get Killed) 1989

O duo Penn e Teller interpreta-se a si próprio nesta comédia de humor negro, um relato satírico do que o público imaginaria que ambos fazem nas suas vidas quotidianas. Boa parte do argumento envolve Penn e Teller a fazer brincadeiras um com o outro, e ainda com a namorada de Penn, Carlotta (interpretada por Caitlin Clarke). A piada final, como implica o título do filme, tem sérias consequências para os três.
Derradeira obra de Arthur Penn para o cinema, porque depois deste filme continuou a fazer trabalhos para a televisão, não muito revelantes. Este Penn do título não é Arthur Penn, mas sim o comediante Penn Jillette, que com Teller faz uma dupla de comediantes que esteve muito em voga nos anos oitenta e noventa.
Depois de uma carreira tão rica em cinema, foi uma triste forma de terminar a carreira, para Arthur Penn. E assim também termina este ciclo, que espero que tenha sido do vosso agrado.
O filme não tem legendas.

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Noite Gótica (Dead of Winter) 1987

Katie McGovern (Mary Steenburgen) é uma actriz desempregada que vive com o marido e o irmão. Vai a uma audiência que encontra num jornal, e é seleccionada para filmar um pequeno vídeo que será enviado ao director para aprovação. O senhor Murray (Roddy McDowell) é o homem quem assegura a audição, e leva Katie para uma mansão isolada onde irão gravar o video. Mas as coisas não correm bem e Katie apercebe-se que foi feita prisioneira...
Lançado discretamente nos cinemas em 1987, para pouco depois passar para a televisão por cabo paga, "Dead of Winter" continua como um filme de género incompreendido, não é um thriller de suspense, ou uma entrada no terror gótico, mas sim um shocker ao estilo de Grand Guignol, que começa com um gancho inocente.
O argumento de Marc Shmuger e Mark Malone (uma adaptação não creditada de um livro de Anthony Gilbert chamado "The Woman in Red" e que tinha sido anteriormente filmado num filme chamado "My Name is Julia"), tem alguns buracos, mas o realizador Arthur Penn consegue contornar essas questões com um elenco forte e convincente, principalmente Steenburgen, que era uma actriz de topo na altura.

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quinta-feira, 26 de abril de 2018

O Alvo (Target) 1985


Um "thriller" familiar, onde o centro da acção é a família de Duke (Gene Hackman), ex-agente da CIA, "reformado" da organização, que se vê repentinamente envolvido na memória da Guerra-Fria depois de lhe raptarem a mulher.O filho de Duke é Chris Lloyd (Matt Dillon), e os dois não se dão nada bem, mas para conseguirem recuperar a senhora Lloyd vão ter que se transformar em homens de acção e trabalhar em equipa. 

Realizado no auge do subgénero da intriga internacional, é um filme que além da intriga em sim, também se debruça sobre a relação entre um pai e um filho. Nunca deixa de surpreender esta primeira fase da carreira de Matt Dillon, muito diferente da fase posterior. Como jovem actor, ele fazia sempre papéis ingénuos e idealistas, e passou a fazer o oposto em quase tudo, desde então.
O trabalho de Arthur Penn na década de oitenta, também é muito diferente da sua fase anterior, e aqui ele trabalha mais no campo do cinema de género, do que outra coisa. O resultado foi algo de desolador, e não viria a mudar muito daqui para a frente. 
Mesmo assim, recomenda-se a quem gosta desta vaga de "thrillers" politicos dos anos oitenta.

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quarta-feira, 25 de abril de 2018

Quatro Amigos (Four Friends) 1981

"Four Friends" foi filmado já na fase final da carreira de Arthur Penn, e contava com argumento de Steve Tesich (vencedor de um Óscar por "Breaking Away"), e é um estranho e adorável pequeno filme, que apareceu e desapareceu em 1981. Recebido com sucesso entre a critica, mas puro veneno para as bilheteiras, com a narrativa a desenrolar-se em plena década de sessenta, e fala-nos sobre a amizade de três rapazes e uma rapariga. A sociedade muda à sua volta, eles crescem e separam-se uns dos outros, mas os amigos e a vida da cidade natal sempre chama de volta, resultando em alguns momentos através do turbulento clima social da década.
Apesar do filme ter alguns momentos estranhos, vale pelas interpretações dos quatro jovens actores, com destaque para o protagonista, Craig Wasson, que três anos depois veriamos como protagonista de "Body Double", de Brian de Palma. Infelizmente mais ninguém desta jovem geração de actores foi muito longe. 
Talvez o problema principal do filme seja de tentar desesperadamente explicar os anos sessenta como um tempo de revolta, protestos da guerra, revolução sexual, uso das drogas, o que faz com que o foco principal de seguir os quatro amigos perca um pouco de força, mas ainda assim é uma pequena joia, de um grande realizador, a ser descoberta.

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terça-feira, 24 de abril de 2018

Duelo no Missouri (The Missouri Breaks) 1976

Tom Logan é um ladrão de cavalos. O rancheiro David Braxton tem cavalos, e uma filha, que valem a pena roubar. Mas Braxton acabou de contratar Lee Clayton. um infame "regulador" que chega para caçar os ladrões de cavalos. Um de cada vez...
"The Missouri Breaks" não é um western usual. Na verdade, não é nada usual. As palavras mais usadas pela altura da sua estreia eram "bizarro" e estranho, e confundiu bastante as audiências tendo em conta que era um filme interpretado por Marlon Brando e Jack Nicholson. Mas hoje em dia, esta mistura peculiar de clichés do western, humor negro, romance e drama de vingança, contribuem para um entretimento interessante.
A história era antiga, sobre dois inimigos naturais, rancheiros e foras da lei, mas o escritor e argumentista Thomas McGuane dá-lhe uma inesperada reviravolta. Fazendo equipa com ele estavam os actores Marlon Brando e Jack Nicholson, no auge da sua fama, um realizador, Arthur Penn, que era um autor e ao mesmo tempo, entertainer. Para não falar do fantástico elenco de secundários: Randy Quaid, Kathleen Lloyd, Frederic Forrest, Harry Dean Stanton, entre outros. Apesar de McGuane ser mais conhecido pelos seus casamentos, já tinha escrito algumas obras interessantes sobre a exploração do machismo, como "Rancho Deluxe" e "Ninety-Two in the Shade". McGuane tinha escrito este argumento para ser um projecto seu, com ele próprio a realizar o filme, com Warren Oates e Harry Dean Stanton como protagonistas. Quando o produtor Elliott Kastner se envolveu no projecto, teve a ideia de convidar Brando e Nicholson para protagonistas (vizinhos na vida real, mas nunca tinham trabalhado juntos). Os dois acabaram por concordar, indo a realização parar às mãos de Arthur Penn, um realizador que ambos respeitavam.
Enquanto que a maioria dos críticos tenham sido particularmente indelicados com o filme quando estreou, Tom Milne foi dos poucos que admirou. Considerou-o um dos grandes westerns dos anos setenta.

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domingo, 22 de abril de 2018

O Pequeno Grande Homem (Little Big Man) 1970

Adaptação do romance de Thomas Berger sobre as memórias de um velho de 121 anos que evoca os seus tempos no Oeste, vivendo entre dois mundos, o dos pioneiros e o dos americanos primitivos que o tinham raptado em criança no ataque a uma caravana. Uma revisão de alguns mitos da história e clichés do western, em particular a personagem de George Armstrong Custer e a batalha de Little Big Horn.
"O romance de Thomas Berger (publicado em 1964), onde se baseia "O Pequeno Grande Homem", é uma das obras mais divertidas e originais da ficção do Oeste. Relata as picarescas aventuras de Jack Crabb, que é várias vezes capturado pelos índios e se torna num pistoleiro do velho Oeste, encontra-se com Wild Bill e junta-se ao General Custer na batalha de Little Big Horn. No filme, Jack é interpretado por Dustin Hoffman e vamos encontrá-lo, pela primeira vez, com a avançada idade de 111 anos por um honesto explorador que acredita em toda a sua inacreditável história.
O que se segue é uma desmontagem, numa envolvência absoluta, do mito western, mostrando Custer como um ferrabaz vaidoso e Hicock como um neurótico ansioso. Os Cheyenes, pelo contrário, que adoptam Jack na sua tribo, são um povo cortês e amante da vida e, nesse aspecto, estão bem representados na figura de Old Lodge Skins, maravilhosamente interpretado pelo Chefe Dan George. A descrição do ataque ao campo dos Cheyennes pela Sétima Cavalaria de Custer (baseado no massacre de Washita, em 1868) quase nem se preocupa em disfarçar uma óbvia referência à Guerra do Vietname, no auge da fúria quando o filme foi rodado, e, em particular, à infame matança de My Lai."
Texto de EB.

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sábado, 21 de abril de 2018

Alice's Restaurant (Alice's Restaurant) 1969

No final dos anos 60, Arlo vive numa comunidade pouco convencional localizada numa igreja abandonada. Através da sua música ajuda a amiga Alice, que sonha com uma vida mais estável, e abrir um restaurante. Aos poucos, Arlo percebe a vida rasa e sem sentido que está a levar, e decide partir em busca de realizações.
Depois do fenomenal sucesso de "Bonnie and Clyde", em 1967, o realizador Arthur Penn queria seguir numa direcção diferente, longe de explorar a violência como uma condição humana inevitável. A sua inspiração para o próximo projecto veio de uma fonte pouco provável: de uma balada de blues com cerca de dezoito minutos, intitulada "The Alice's Restaurant Massacree." Numa entrevista a um crítico do New York Times, Penn disse: "Eu ouvi um disco, e isto é um filme. Não sabia que forma iria ter. Parecia ser tão activo e cinematográfico. Tiramos as imagens rapidamente. Foi difícil no entanto, porque não tínhamos uma narrativa forte como tínhamos em "Bonnie and Clyde" para levá-lo para a frente." Mas usando momentos chaves da música, como o confronto com o oficial Obie sobre o despejo ilegal de lixo no aterro da cidade, e as experiências de Arlo no Centro do Exército, o filme de Penn começou a ficar com a sua forma, onde ele esperava encapsular a contracultura dos anos sessenta.
"Alice's Restaurant" foi filmado à volta de Stockbridge, Pittsfield, e Great Barrington, Massachusetts, e New York City. Uma das imagens mais famosas do filmes é o shot final de Alice, sentada sozinha nos degraus da igreja deserta, olhando para um futuro incerto. Penn e o seu editor, Dede Allen, passaram meses a planear esta sequência complicada, que levou horas a ser filmada. Alguns anos depois Sidney Lumet tentou recriar essa cena com Blythe Danner em "Lovin' Molly", uma adaptação de um livro de  Larry McMurtry.
Quando "Alice's Restaurant" finalmente estreou, recebeu críticas moderadas, e esteve longe de ser um êxito de bilheteira, tendo em conta a faixa etária para que era destinado. Muitos argumentaram que Arlo Guthrie não era actor, mas ele estava apenas a fazer dele próprio. Ainda assim, o filme recebeu uma nomeação para os Óscares, para a realização de Penn. Talvez pelo desafio, porque não era normal um filme receber só uma nomeação para os Óscares e ser logo de uma categoria tão importante. Era a terceira nomeação para Penn, depois de "The Miracle Worker" e "Bonnie and Clyde". 
Sem grandes estrelas, o filme trazia também para a ribalta uma série de novos actores, e alguns deles viriam a almejar algum sucesso: Patricia Quinn, James Broderick (o pai de Mathew Broderick), Tina Chen, Pete Seeger (um cantor de folk), e o nosso bem conhecido M. Emmet Walsh. Guthrie teve algumas participações noutros filmes, mas esta foi a sua única participação como protagonista.

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sexta-feira, 20 de abril de 2018

Bonnie e Clyde (Bonnie and Clyde) 1967


"A tentativa de Arthur Penn para fazer um filme de "foras-da-lei" americano ao estilo da Nova Vaga Francesa e com exuberância juvenil provou ser um extraordinário sucesso junto do público, que gostava de políticas anti-sistema. Também os críticos aplaudiram eventualmente o esforço do realizador para impregnar o cinema dos E.U.A. com uma nova energia e seriedade. Na altura da sua estreia, contudo, Bonnie e Clyde foi consensualmente condenado pela sua descrição gráfica da violência. Progressos tecnológicos tornaram possível mostrar feridas de tiros de forma mais realista, e a câmara de Penn demora-se com frequência nos efeitos dos corpos a serem desepedaçados e na dor e sofrimento que daí resultam. Anteriores filmes americanos, de facto, tinham-se, muitas vezes, centrado na violência, mas Bonnie e Clyde foi o primeiro filme de Hollywood a fazer o espectador experenciar o seu horror e, até, a sua enfeitiçante beleza.

As criticas iniciais ao filme eram geralmente agrestes, quando não condenatórias, mas a maré de opinião crítica depressa mudou radicalmente, obrigando algumas revistas a publicar críticas revisionistas. Alternando com eficácia cenas de terror, realismo brutal, e quase comédia de "bolo na cara", Bonnie e Clyde é vagamente biográfico e tem um sentido muito realista devido ao meticuloso design artístico e às filmagens em locais do Noroeste do Texas, onde a paisagem da seca e do pó levado pelo vento é  belamente reproduzida. Com algumas imprecisões históricas, a obra traça as proezas e o eventual fim trágico do par mais célebre de assaltantes de bancos da era da Depressão que, no seu tempo, foram festejados como heróis populares. Warren Beatty e Faye Dunaway cintilam como o casal criminoso, enquanto um apoio fabuloso é proporcionado por Gene Hackman, Estelle Parsons e Michael J. Pollard, que representam outros membros do gangue. Após uma primeira vaga de sucessos, o bando é cercado pela polícia em Iowa, onde o irmão de Clyde, Buck (Hackman), é morto pela polícia e a sua Blanche (Parsons) fica cega e é capturada. O tratamento do franco do sexo pelo filme, particularmente da invulgar relação entre o impotente Clyde e a agressiva Bonnie, também desbravou território novo. Pelo fim dos anos 60, Hollywood tinha trocado as restrições do Código de Produção por um sistema de classificações que permitia maior liberdade na descrição do sexo e da violência. Bonnie e Clyde está entre os primeiros filmes - e dos com maior sucesso - já feitos sob o novo sistema. Obteve dez nomeações para os Óscares, e o seu imenso poder de atraxção nas bilheteiras ajudou a tirar o cinema americano do vermelho e de volta a uma reencontrada rentabilidade.
Bonnie e Clyde é uma poderosa declaração ambígua sobre o lugar da violência e do individuo na sociedade americana. Na história do cinema, no entanto, a sua importância é muito maior.

O sucesso popular e crítico do filme mostrou à indústria estabelecida de Hollywood que filmes que combinavam a estilização europeia e a seriedade sobre temas tradicionais americanos (mediados por géneros convencionais) podem ter êxito, principalmente se tivessem um ritmo rápido e apresentassem espectaculares sequências de antológicas de acção. Bonnie e Clyde abriu o caminho para a "Hollywood Renaissance" dos anos 70, com obras primas como "O Padrinho" de Francis Ford Coppola , fazendo ao filme de Penn o sincero elogio de uma imitação próxima."
Texto de R. Barton Palmer

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quinta-feira, 19 de abril de 2018

Perseguição Impiedosa (The Chase) 1966

O xerife Calder (Marlon Brando) tem problemas a resolver numa pequena cidade quando Bubber (Robert Redford) foge da prisão e é acusado de assassinato. O problema é que o filho do magnata do petróleo Val Rogers (E.G. Marshall) tem um caso com a esposa de Bubber, que acabou de escapar da prisão, e Rogers quer Bubber fora do caminho para poder encobrir o caso do filho. Só que Calder quer encontrar o prisioneiro vivo e não quer ceder ao magnata do petróleo.
"The Chase" era uma produção ambiciosa de Sam Spiegel, baseado num romance e numa peça de Horton Foote. Era o primeiro filme de Spiegel desde o sucesso internacional de "Lawrence of Arabia", o filme vencedor do Óscar de 1962, que queria que a argumentista Lillian Hellman lhe escreve-se o argumento.
No final dos anos cinquenta e inicio da década de sessenta, as relações raciais estavam entre os temas mais quentes do momento, e vários realizadores veteranos acharam que fazia sentido investigar facetas dos males da sociedade, que se estendiam já por várias gerações nos Estados Unidos. "The Chase" passou por várias reavaliações, em parte porque Arthur Penn era responsável por uma série de clássicos "modernos", como o seu filme anterior, "Mickey One". "The Chase" era um ensaio sobre as coisas mais terríveis da América, que podem corromper o poder, como racismo, sexo e violência, usando uma pequena cidade do Texas, Tarl, para defender a teoria de que todos nós somos pecadores e que não podemos ser salvos.
O filme faz-se valer, sobretudo, de um grande elenco: Marlon Brando, Robert Redford, Jane Fonda, E.G. Marshall, Angie Dickinson, Robert Duvall, James Fox, entre outros.

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terça-feira, 17 de abril de 2018

Mickey One (Mickey One) 1965

Depois de cair na ira da máfia, um humorista foge de Detroit para Chicago assumindo o nome de Mickey One. Quando regressa aos palcos e se torna famoso, fica com receio de que a Máfia o venha a descobrir e perseguir, mas ao mesmo tempo, deseja acertar contas com os mafiosos.
Cada actor ou realizador tem pelo menos um filme na sua carreira diferente de todos os outros que fizeram. No caso de Warren Beatty e Arthur Penn, esse filme seria "Mickey One". Supostamente inspirado nos filmes franceses da Nouvelle Vague do início da década de sessenta, o filme de Penn é uma enigmática e existencial história de um comediante que sai da Máfia por causa de uma enorme dívida que não pode pagar. O personagem-título interpretado por Warren Beatty confessa no início: "O caminho acabou. Fiquei preso e de repente descubro que devo uma fortuna", e sem mais exposições, o resto do filme repete um padrão de Mickey One a fugir, escondendo-se, sendo descoberto, repetindo o ciclo até ao final do filme, que está aberto para a interpretação de cada pessoa. 
Isto não era o que os executivos da Columbia esperavam, e entraram em pânico percebendo o fracasso comercial que tinham entre mãos. No entanto, o filme era um exemplo fascinante da liberdade criativa vigente desde meados da década de 60 para a frente, e seria uma impossibilidade nos tempos que correm, onde todos os produtos de Hollywood são feitos a pensar no retorno financeiro. De certa forma, o filme até foi um sucesso porque levou a uma nova colaboração entre Beatty e Penn, apenas dois anos depois, num dos filmes mais seminais desta década de sessenta, e que levaria a indústria do cinema até um outro nível. Falamos de "Bonnie and Clyde", pois é claro.
Legendas em espanhol.

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segunda-feira, 16 de abril de 2018

O Milagre de Anne Sulivan (The Miracle Worker) 1962

A jovem Helen Keller é cega, surda e muda desde infância, e corre o risco de ser enviada para uma instituição. A sua incapacidade de comunicar deixou-a frustrada e violenta. Em desespero, os pais procuram ajuda do Perkins Institute, que lhe envia uma jovem um pouco cega chamada Annie Sullivan, para orientar a filha. Através da persistência e amor, além de pura teimosia, Annie consegue romper pelas paredes de silêncio e escuridão de Helen, e consegue ensiná-la a comunicar.
Helen Keller escreveu a sua autobiografia, intitulada "The Story of My Life" em 1912, mas apenas em 1959 foi adaptada para os palcos da Broadway por Arthur Penn, na produção, e escrita por William Gibson. As protagonistas eram duas actrizes pouco conhecidas naquele tempo, Patty Duke e Anne Bancroft, que receberam óptimas críticas na altura.
Apesar do sucesso teatral, a United Artists deixou claro que queria nomes de maior peso para a versão cinematográfica, e disse a Penn e a Gibson que lhe dariam um orçamento de 5 milhões se Liz Taylor fosse a protagonista, ou 500 mil dólares para manterem Anne Bancroft. A escolha acabaria por caír em Bancroft, o que diz muito da forma como o realizador e o argumentista viam a força da actriz. O elenco original acabaria por ser mantido, e as duas actrizes acabariam por vencer os respectivos Óscares desse ano: Bancroft como Melhor Actriz, e Duke como actriz secundária.
As duas actrizes envolveram-se tanto no papel que acabaram por colocar a sua saúde em risco. Durante a famosa cena da batalha na sala de jantar, que exigiu três câmaras para uma sequência de nove minutos levando cinco dias a ser filmada, ambas as actrizes usaram almofadas debaixo das roupas. A certa altura das filmagens Bancroft começou a rir de pura exaustão e a sua reacção foi deixada no filme. Bancroft foi hospitalizada com pneumonia logo depois das filmagens, e Duke admitiu mais tarde que temia a finalização do filme porque significava a sua separação de um papel que se tornara uma parte tão importante da sua vida.
Só mais uma nota, de que as duas actrizes venciam os respectivos Óscares no mesmo ano de outras duas obras poderosíssimas no que dizia respeito a interpretações femininas: "O Que Teria Acontecido a Baby Jane?", com Bette Davis e Joan Crawford, e "Corações na Penumbra", com Geraldine Page e Shirley Knight. De todas estas actrizes, Joan Crawford foi a única que não ficou nomeada, e ofereceu-se para receber o prémio em nome de Anne Bancroft, que estava ocupada com um papel numa peça da Broadway, e preferiu não estar presente na cerimónia de entrega. Bancroft ganharia mesmo. 

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domingo, 15 de abril de 2018

Vício de Matar (The Left Handed Gun) 1958

William Bonney - Billy the Kid - consegue um trabalho como vaqueiro para um criador de gado conhecido como "The Englishman", um homem pacífico e religioso. Quando um xerife com más intenções e os seus homens matam "The Englishman" porque ele pretendia fornecer o forte local do exército com a sua carne, Billy pretende vingar a morte do amigo, matando os quatro homens responsáveis, e envolvendo toda a gente em redor: Tom e Charlie, dois amigos com quem trabalha; Pat Garret, que está prestes a se casar; e um gentil casal mexicano que o abriga quando está metido em sarilhos.
Um western completamente único, que se situa entre o peculiar e o profético, "The Left-Handed Gun" (1958), marcava a estreia na realização de Arthur Penn, e elevava Paul Newman, que até então era mais visto como um actor bonito, a um estatuto mais sério.
 Baseado numa história para televisão de Gore Vidal, oferece-nos uma nova abordagem para a lenda e a vida do pistoleiro conhecido como William "Billy the Kid" Bonney, tratando-o mais como um jovem problemático do que como um desesperado sanguinário. Superficialmente parece um western tradicional, mas as suas armadilhas de filme de cowboys são ultrapassadas pela interpretação de Paul Newman. Acabado de saír das formação no Actor's Studio, Newman (que tinha participado na versão televisiva desta história), desafia as convenções do western, contorcendo-se em poses de angústia interna. O seu colega do Método James Dean tinha mostrado interesse em interpretar Billy the Kid, e quase podemos ver a sua angustia na interpretação atormentada de Newman no papel principal. 
Não foi muito bem recebido na América, mas foi na Europa, principalmente durante a década de setenta, quando as audiências começaram a aceitar estes filmes estilizados.

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sábado, 14 de abril de 2018

Arthur Penn - O Ciclo

Arthur Penn era uma contradição entre os cineastas norte-americanos. Membro fundador da geração de realizadores das décadas de 60 e 70 que lançou Steven Spielberg, Francis F. Coppola, Martin Scorsese, ou George Lucas, mas no entanto nunca se juntou a estes nomes, e nunca se sentiu seduzido pelo sistema de Hollywood que estava prestes a dominar. Era um director de teatro bastante premiado, mas considerava isso irrelevante. Também era uma força poderosa da "idade de ouro" da televisão, mas ao contrário dos seus colegas nunca considerou isso como um passo para entrar no mundo do cinema. Na verdade, durante cinquenta anos ele movimentou-se entre os mundos do teatro, cinema e televisão, fazendo apenas aquilo que era do seu interesse, e sempre com grande mestria.
A vida e a arte de Arthur Penn estavam carregadas de ironia, lutava sempre pelos seus ideais num mundo onde pouca gente os parecia ter. Foi sempre um homem devoto à família, mas nunca fez um trabalho sobre uma família funcional. Era um activista da paz, apesar dos seus filmes serem sempre estudos intensos sobre a violência.
Durante os seus dias mais criativos, finais dos anos 60 e início dos anos 70, que é considerada a última grande época do cinema americano, o público e a crítica antecipava cada novo filme de Arthur Penn. Por vezes ficavam chocados (Bonnie and Clyde), outras encantados (Alice´s Restaurant), outras seduzidos (Little Big Man), outras atordoados (Night Moves), ou perplexos (The Missouri Breaks), mas cada filme era sempre um desafio.
Este ciclo que poderão seguir aqui até ao fim do mês debruça-se sobre a carreira cinematográfica de Arthur Penn, e irá incluir todas as 13 longas metragens que ele fez para cinema, ao longo de mais de 30 anos. Esperemos que gostem e sigam o ciclo. Até já.