No fim dos anos 50 e no inicio dos 60, o cinema britânico virou-se para o realismo social, lidando usualmente com impulsos de rebelião ou aspirações de ascenção social, entre jovens espertos, articulados e amargos, das classes trabalhadoras. Quase todos esses filmes eram baseados em obras dos "angry young men", romancistas e dramaturgos como John Osborne (Paixão Proibida/ Look Back in Anger), John Braine (Um Lugar na Alta Roda), e Sean Barstow (Um Modo de Amar), o livro de Alan Sillitoe, "Sábado à Noite, e Domingo de Manha" deu origem ao melhor filme desta lista, embora a direcção de Karel Reisz não seja isenta de um tipo de inclinação sentimental para o pitoresco, que surge muitas vezes quando cineastas educados em Cambridge viajam para o Norte para transformar montes de detritos em paisagens extraterrestres e espiar, em Nottingham, os estranhos comportamentos de operários fabris que frequentam pubs.
A força do filme está na voz de Sillitoe ("o que quero é divertir-me - tudo o resto é propaganda") e na entrega do diálogo a Albert Finney, que faz uma tremenda primeira impressão como Arthur Seaton, o hedonista rebelde e viril que explode de indignação no local de trabalho e goza o que pode nas horas livres. O titulo refere-se implicitamente ao processo de "meter na ordem" que é a consequência inevitável do estado de Arthur: as noites de sábado, marcadas por uma escalada de álcool e excessos sexuais, são pagas nas manhãs de Domingo, durante as quais o protagonista está confinado a uma casa nova e ao seu casamento respeitável.
O filme mostra como o pai de Arthur (Frank Pettitt) ficou reduzido a um telespectador e como muitos dos seus amigos, ligeiramente mais velhos (sobretudo o companheiro a quem ele põe os cornos) estão a caminho de ficar presos no sistema. Apesar de Arthur saír de uma relação com uma mulher casada (Rachel Roberts) e ser atraído para um noivado com uma rapariga (Shirley Anne Field) bonita mas convencional, ainda está decidido a continuar a atirar pedras e partir janelas. Como muitos outros filmes deste ciclo, "Sábado à Noite, e Domingo de Manha" tende para ser complacente com um género de machismo proletário que ronda a misoginia (para Arthur, todas as mulheres são ratoeiras), mas Rachel Roberts - num papel semelhante ao de Simone Signoret em "Um Lugar na Alta Roda" (1959) - exprime uma dor real que constitui uma leitura alternativa à rebelião de Arthur."
Texto de Kim Newman
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