Toda A Memória do Mundo é um documentário de 21 minutos sobre a conservação da memória colectiva da civilização humana através dos livros. É uma viagem à Biblioteca Nacional de França, situada em Paris e aos seus tesouros únicos.
Escrito por Rémo Forlani, há qualquer coisa neste documentário que evoca formalmente o Último Ano em Marienbad, a obra prima realizada cinco anos depois.: os planos longos de corredores misteriosos e desertos, a voz off e as personagens integradas na paisagem. Mas as semelhanças terminam aqui. Toda a Memória do Mundo não tem nenhuma dimensão metafísica. Trata-se aqui mais do que relevar a importância das bibliotecas como forma de preservação civilizacional, de enumerar as diferentes etapas que podem tornar este espólio de dezenas de quilómetros, acessível ao público em geral. Pegando num livro anónimo, acompanha este processo desde a aquisição (normalmente através de doação legal), recepção, selecção temática, catalogação, disponibilização em ficheiros centrais e arrumação nas longuíssimas prateleiras, até, finalmente se tornarem acessíveis ao público e disponibilizadas nas salas de leitura. Este processo moroso e inacessível ao leitor, é absolutamente imprescindível para que uma biblioteca possa preservar a «memória do mundo» e não se tornar num caótico armazém de livros e publicações sem qualquer ordem. Nesse sentido, torna-se significativo que as últimas imagens sejam das salas de leitura onde muitos leitores consultam os livros e lhes dão vida. Pelo meio há referências a certas secções particulares como a dos manuscritos, onde estão desde obras escritas na Idade Média até a manuscritos originais de obras de Victor Hugo ou Emile Zola, passando por secções como a hemeroteca onde está, por exemplo, o obscuro jornal das Ardenas onde foram publicados os primeiros poemas de Rimbaud,
Ao viajar pela memória que os livros trazem ao acervo colectivo da humanidade, Toda A Memória do Mundo, torna-se, também ele, um exercício de memória. Sessenta anos depois, as microfilmagens, as digitalizações, as fotocópias, os ficheiros informáticos centrais, a climatização das salas, etc., transformaram de forma radical a conservação dos livros. Hoje, é com dificuldade que olhamos para um mundo pré-informático, onde tudo era conservado de forma manual. mas essa é uma diferença de somenos. O que releva aqui é a paixão pelos livros e pela leitura que extravasa gerações e processos tecnológicos e que permite que toda a memória do mundo possa ser devidamente conservada e valorizada.
* texto de Jorge Saraiva, legendas em inglês.
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