terça-feira, 3 de dezembro de 2013

Sciuscià (Sciuscià) 1948



"Ladri di Biciclette", de Vittorio de Sica (Ladrões de Bicicletas) é considerado pelos críticos como uma das grandes obras-primas do cinema neo-realista italiano. A história é relativamente simples: um operário chamado Antonio, acompanhado do seu filho Bruno, procuram pelas ruas de Roma a bicicleta roubada a Antonio, que ele precisa desesperadamente para manter o emprego. Para expor uma "ausência de solidariedade humana" numa sociedade italiana burocrática atormentada pelo desemprego e pela pobreza, o realizador emprega um estilo visual realista mais perto do documentário do que do cinema de ficção. Filmado em exteriores, takes longos, película barata a preto e branco, actores não profissionais, Sica demonstra que a sociedade italiana e as suas instituições sociais, ou seja, a Igreja Católica, a polícia, e os sindicatos, não têm grande interesse no "homem comum".
Enquanto "Ladri di Biciclette" é certamente a obra mais conhecida de De Sica, não era o seu primeiro filme a examinar os problemas sociais do pós-guerra em Itália. Dois anos antes, ele realizou o aclamado Sciuscia, que incide sobre a desintegração de uma amizade entre dois jovens italianos que são vítimas do sistema de detenção juvenil do estado.
De Sica apresenta-nos aos dois jovens protagonistas numa sequência de abertura que não é característica no neo-realismo italiano. Pasquale (Franco Interlenghi) e o seu melhor amigo Giuseppe (Rinaldo Smordoni) aparecem a andar a cavalo num campo aberto fora da cidade. A cena evoca uma sensação emocionante de liberdade, em contraste com as ruas romanas mostradas a seguir. Aqui, caímos na realidade: estes jovens da rua são engraxadores de sapatos, lutando para ganhar dinheiro suficiente para comprar um cavalo branco, sobre o qual eles planeiam fugir das suas vidas empobrecidas.
As suas aspirações são esmagadas quando o irmão de Giuseppe os envolve num esquema do mercado negro. Os rapazes são presos, falsamente acusados de um crime que não cometeram, e enviados para um centro de detenção juvenil brutal. Expostos à corrupção do mundo adulto, e a sua profunda ligação é cortada, com resultados trágicos.
O tema da inocência perdida num mundo em que as crianças são forçadas a pensar e agir como adultos, é um tema comum no cinema neo-realista italiano. Em Roma, Città Aperta (1945), os jovens envolvem-se num verdadeiro jogo de guerra ao vivo lançando bombas de um telhado contra soldados alemães. Em Ladri di Biciclette, Bruno não vai à escola, porque tem que trabalhar num posto de gasolina para sustentar os pais e a irmã mais nova.
Sciuscià oferece-nos uma visão ainda mais pessimista. Ao contrário dos filmes anteriores, aqui a família nuclear está ausente (Pasquale é órfão) ou é corruptora. Induzido pelas autoridades a cometer violência, Giuseppe provoca a ira de Pasquale, que deixa um aviso na cela do seu ex-amigo. Isto desencadeia uma série de eventos (incluindo uma fuga da prisão e um motim), que são uma reminiscência dos filmes da Warner dos anos 30 sobre as cadeias.
Os verdadeiros opressores neste filme são os guardas do centro de detenção e do sistema judicial, que exibem uma verdadeira falta de interesse no bem-estar dos seus jovens pupilos que são tratados e julgados como adultos. (De Sica comicamente compara os homens que dirigem o centro a fascistas e pô-los a fazer a saudação nazi) Quando os dois rapazes vão a julgamento, nem recebem uma defesa adequada: Giuseppe é aconselhado pelo seu advogado a mentir e o defensor público de Pasquale nem tem tempo para rever o seu caso.
Em 1948 o filme ganhou um Óscar honorário, que era assim descrito: "The high quality of this Italian-made motion picture, brought to eloquent life in a country scarred by war, is proof to the world that the creative spirit can triumph over adversity."


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