domingo, 22 de dezembro de 2013

Eduardo Geada

Eduardo Geada licenciou-se em Estudos Anglo-Americanos, pela Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa (1976), e despertou para o cinema através do movimento cineclubista. Em 1978, como bolseiro da Fundação Calouste Gulbenkian, conclui na Slade School of Fine Art (London College University) um pós-graduação em Film Studies. Mais tarde terminou o mestrado em Comunicação Social da Universidade Nova de Lisboa, com uma tese intitulada O Cinema Espectáculo (1985) e doutorou-se em História dos Media, com a tese Os Mundos do Cinema: modelos dramáticos e narrativos no período clássico (1997). Durante a sua carreira foi professor da Escola Superior de Teatro e Cinema (1978-2004) e na Escola Superior de Comunicação Social (2003-2004), ambas em Lisboa. Foi ainda professor convidado na Universidade de Berkeley (2007-2008).
Entre 1968 e 1976 desenvolveu uma intensa actividade como crítico de cinema em diversas publicações - Seara Nova, Vértice, Vida Mundial, A Capital, República e Expresso. Na rádio foi autor e apresentador do programa Moviola (1985/86), na Antena 1, dedicado à música de cinema.
De 1997 a 2002 ocupou o cargo de administrador-delegado da Fundação CulturSintra, na Quinta da Regaleira.
Como realizador tem dividido a sua actividade entre o cinema e a televisão. O seu primeiro filme, Sofia ou a Educação Sexual (1973), foi um dos últimos a serem proíbidos pela censura, vindo a estrear só após a Revolução dos Cravos. Com a participação de nomes de vulto da cultura portuguesa, como David Mourão-Ferreira, Jorge Peixinho ou Eduardo Prado Coelho, e a assistência de realização dum outro reputado crítico de cinema, João Lopes, o filme criaria expectativas a que a obra futura do cineasta não corresponderia totalmente.




Sofia e a Educação Sexual (Sofia e a Educação Sexual) 1974

O acesso de Eduardo Geada - crítico e cineclubista - à prática fílmica ocorreu duma forma singular entre nós: passando, directamente, à realização de uma longa metragem. Sofia e a Educação Sexual sofreu as vicissitudes da época de transição política, vindo a estrear em Outubro de 1974, como “filme proibido pela censura”. O sucesso comercial - entre a sugestão do título, e a euforia do estatuto de espectador - culminaria uma aliciante eficácia, da moral em jogo aos jogos da moral. Também argumentista, Geada encenou o itinerário de revelação, uso e fuga de Sofia - ao confrontar-se, após uma adolescência reprimida, com o requinte social, fútil mas solene, da alta burguesia a que pertence: o cinismo e a hipocrisia em que se desvenda, afinal, um perverso ritual de classe. Em participação especial, figuram David Mourão-Ferreira, Jorge Peixinho e Eduardo Prado Coelho. Os interiores foram rodados no Palácio Centeno, sendo decorador António Casimiro. A fotografia de Manuel Costa e Silva colheu exteriores em Lisboa e Cascais. Sobressaindo os mecanismos de representação e os modelos que a ilustram, tudo se processa em coerência à especificidade cinematográfica - em termos de linguagem, exercício estético, exploração dos artifícios e virtualidades técnicas.

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A Santa Aliança (A Santa Aliança) 1977

Lisboa, Dezembro de 1974: abalada pelo movimento popular de Abril (no PREC), uma influente família de financeiros procura sobreviver e preservar as prerrogativas conquistadas em plena ditadura, jogando com as suas armas naturais: o dinheiro, com que se compram as pessoas; os prazeres camuflados, a imunidade a conservar, a esperança de "melhores dias". Uma experiência teatral revolucionária serve de contraponto»
A Santa Aliança é um dos poucos filmes de ficção do cinema militante português dos anos setenta, o que contrasta com o grande número de documentários dessa época que exploram o género. Tem como particularidade distintiva retratar uma classe social superior, a da alta burguesia, tal como a anterior ficção do mesmo autor: O Funeral do Patrão. Na sua quase totalidade, os filmes documentários do cinema militante retratam, pelo contrário, os problemas e as lutas das classes desfavorecidas: operários, camponeses ou pescadores, em suma os problemas da classe trabalhadora.

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Por do Sol no Areeiro (Por do Sol no Areeiro) 1982

Derradeiro filme da série Lisboa Sociedade Anónima, situado no principio dos anos 70, Pôr do Sol no Areeiro tem uma excelente história, definindo a preceito a mentalidade de uma burguesia das Avenidas que negoceia carros, sentimentos e pessoas com a desenvoltura de uma amoralidade que é bem típica da sociedade lisboeta desse tempo.

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Impossível Evasão (Impossível Evasão) 1983

Impossivel Invasão é o quinto filme da série Lisboa Sociedade Anónima. Situada nos anos 60, é a tocante descida à miséria sentimental de uma pequena burguesia vivendo em quartos alugados, sufocando em precários ordenados de manga-de-alpaca da função pública, com um horizonte cultural de futebol e televisão e tendo, em pano de fundo, a guerra colonial e a glória da ponte sobre o Tejo. Assinale-se um bom trabalho de actores (com relevo para Maria do Céu Guerra), a construção de um clima opressivo e medíocre, bem sublinhado por canções de época, a definição de personagens concisa e rigorosa.

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O Banqueiro Anarquista (O Banqueiro Anarquista) 1981

Fazendo parte das médias metragens para TV Lisboa Sociedade Anónima, este O Banqueiro Anarquista, é bem o exemplo do que um texto fabuloso (de Pessoa), uma cenografia exuberante, uma camara atenta e um actor (Santos Manuel) no seu mais arriscado e conseguido trabalho podem fazer. O resultado é um filme cinicamente divertido, marcadamente representativo da 1ª Républica, onde durante quase uma hora o espectador se deleita (e inquieta, claro) com as falácias de um texto a que Santos Manuel dá o peso de um corpo e de uma voz, quer dizer, torna presente. O Banqueiro Anarquista é uma sátira brilhante aos discursos politicos, de uma inteligencia e de uma ferocidade a toda a prova.

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Saudades Para Dona Genciana (Saudades Para Dona Genciana) 1986

Em 1983, Eduardo Geada realizou - após A Santa Aliança (1977) - mais um filme destinado ao grande ecrã: Saudades Para D. Genciana, com inspiração literária em José Rodrigues Miguéis. Executada por António da Cunha Telles, a produção coube ao Animatógrafo, e ficou a cargo de Artur Semedo, também intérprete. A acção decorre em Lisboa, numa pensão da nova Avenida Amirante Reis cerca de 1918-26, expondo - através duma encenação de valores cromáticos - os amores duma mulher de passado misterioso e futuro incerto. Em paralelo, revelam-se aspectos bizarros e figuras excêntricas da vida citadina, incluindo a tragédia da actriz Maria Alves - assassinada pelo próprio empresário - já recriada por Reinaldo Ferreira, em O Táxi Nº 9297 (1927). A rodagem de interiores decorreu nos estúdios da Tobis Portuguesa, decorados por António Casimiro. Saudades Para D. Genciana estreou em 1986 - ano em que foi galardoado com os Prémios do IPC aos Melhores Argumento, Fotografia e Actriz (Céu Guerra). 

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