terça-feira, 10 de dezembro de 2013

Os Inúteis (I Vitelloni) 1953



Na cidade costeira de Rimini, cinco jovens passam o dia a divertir-se, vivendo longe dos pais, e fazendo todo o possível para evitar a responsabilidade de adultos. Ao ouvir que a namorada Sandra está grávida, o líder do grupo, Fausto, decide mudar-se para Milan. O pai intervém, e ele é obrigado a ficar e casar-se com a jovem, para preservar a honra de ambas as famílias. Mesmo quando casado, Fausto ainda não consegue deixar de dar as suas voltas. Uma tentativa de seduzir a esposa do chefe gera uma demissão humilhante. Ele vinga-se roubando uma estátua, que posteriormente é incapaz de vender. Enquanto isso, os seus amigos têm os seus próprios problemas...
I Vitelloni, o terceiro filme de Federico Fellini e o seu primeiro sucesso internacional, é uma peça envolvente que alterna entre o melodrama e a comédia na sua descrição colorida de cinco loosers que parecem incapazes de crescer. Em parte autobiográfico (é passado na cidade natal do realizador), o filme combina o aspecto neo-realista que foi predominante no cinema italiano da altura com uma despreocupação de sonho, esta última tende a dominar as obras posteriores de Fellini. Enquanto o filme não chega a ter o impacto emocional ou maturidade artística de La Strada (1954) e outros trababalhos posteriores, revela o dom do realizador para contar histórias e um total domínio do claro-escuro no seu trabalho de câmera, que é surpreendentemente fluido e vibrante para um filme desta era.
A banda-sonora de Nino Rota, que varia da vulgar exuberância ao assombroso pathos, enfatiza a poesia do filme e é um dos seus pontos mais altos (como seria o caso de muitos dos filmes posteriores de Fellini). A sequência de carnaval tipicamente Felliniesque não teria sido a mesmo sem a  apropriação atrevida da "canção nonsense" de Chaplin em Tempos Modernos. Rota traz à obra de Fellini uma noção do que é ser jovem e vivo, e nenhum filme é melhor servido pela sua música do que "I Vitelloni". Parte do sucesso de I Vitelloni deve-se também ás interpretações do seu excelente elenco. Franco Fabrizi é hilariante como o covarde Don Juan, um protótipo óbvio para o personagem de Marcello Mastroianni em La Dolce Vita (1960). Alberto Sordi combina emoção e comédia com uma sensação de tormento interior na sequência mais tocante do filme ( não é uma tarefa fácil para um homem corpulento vestido com roupas íntimas femininas).
"I Vitelloni" é um termo que se refere aos vagabundos da classe média. Enquanto muitos dos seus contemporâneos neo-realistas estavam preocupados com o lado mais sombrio da sociedade italiana (pobreza, velhice e desemprego em massa), Fellini olha para um grupo social totalmente diferente, com tanto conhecimento e paixão. As enormes mudanças sociais que se seguiram ao fim da Segunda Guerra Mundial, tinham criado uma divisão quase intransponível entre as gerações, o que este filme transmite de forma brilhante. O jovem (aqueles com idade inferior a 30) têm dificuldade em encontrar trabalho e, com toda a incerteza em volta dele, procura refúgio numa infância prolongada. A geração mais velha, que têm sofrido muito nos últimos dez anos, não têm autoridade ou até mesmo a vontade de incutir nos seus filhos um senso de maturidade e compaixão altruísta para os outros. Como resultado, o que temos é uma geração de homens obcecados em se portar como crianças, sem ter idéia do que se trata a responsabilidade adulta.
No final do filme, Fellini finaliza o drama com uma nota de otimismo silenciosa. Um dos cinco Vitelloni (o pensativo Moraldo) tem alguma noção do que está errado e consegue encontrar coragem para se libertar e embarcar numa vida adulta noutro lugar.

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