quarta-feira, 11 de dezembro de 2013

As Noites de Cabíria (Le notti di Cabiria) 1957



Giulietta Masina interpreta Cabíria, uma prostituta que ganha a vida nas ruas de Roma em meados dos anos 50. Ingénua, ela sonha com o amor perfeito e acredita na bondade das pessoas. Por isso, sofre desilusões constantemente. Nas suas andanças pela noite romana, envolve-se com uma estrela de cinema em crise conjugal e, também, com outro homem, que parece amá-la de verdade. Será que o destino só guarda desencantos para a pobre Cabíria?
Embora ofuscado pelas obras-primas cinematográficas posteriores de Fellini, Le Notti di Cabiria merece ser considerado um dos melhores trabalhos do realizador, um exame pungente da falibilidade e da resiliência do espírito humano. Um filme em intenso movimento, mostra a futilidade de uma fé cega enquanto, ao mesmo tempo, lembra-nos de que na vida, qualquer que seja o sofrimento que o destino atire para o nosso caminho, é algo a ser valorizada. Não é intencionalmente um filme religioso, mas que retrata a força do espírito humano, de suportar e superar crises pessoais devastadoras, de uma maneira que faz com que seja uma parábola da vida moderna, e assistir ao filme parece ser uma espécie de experiência espiritual.
Com um retrato corajoso da vida das prostitutas e dos pobres, Le Notti di Cabiria é mais representativo das origens neo-realistas de Fellini do que da sua era dos grandes filmes, sátiras dramáticas - embora, historicamente e tecnicamente, o filme marque a transição entre estas duas fases na carreira do realizador.
Uma das sequências mais comoventes em Le Notti di Cabiria mostra um homem taciturno a distribuir alimentos para os pobres no campo fora de Roma. A cena é importante, pois proporciona o impulso para a transformação espiritual de Cabiria, que só recentemente foi restaurada no filme. Antes do filme ser lançado em 1957, a Igreja Católica insistiu nesta sequência, que tem cerca de sete minutos, para que fosse cortada, porque implicava que a Igreja estivesse a falhar no seu dever de cuidar dos pobres.
De certa forma, "Le Notti di Cabiria" é um dos filmes menos ambiciosos de Fellini. Esta essencialmente preocupado com um único tema: a jornada espiritual de uma pessoa. Diante de nossos olhos, vemos uma prostituta de pele grossa, ignóbil, que não tem controle sobre a sua vida, a passar por uma transformação lenta, mas segura. Ela pode não alcançar os seus longos sonhos, mas onde acaba é muito melhor do que onde começou - e ela tem o potencial para seguir em frente e criar para si própria a vida que esperava. É um trabalho subtil mas profundamente comovente, que se tornou ainda mais eficaz porque Fellini não empregou os dispositivos cinematográficos que usou tão bem nos seus filmes posteriores. A estrutura narrativa é simples, a fotografia é contida, mas a história que ele conta é intrinsecamente tão poderosa que o filme destaca-se como uma das suas maiores obras.
"Le Notti di Cabiria" ganhou o Oscar de Melhor Filme Estrangeiro em 1957 e Giulietta Masina ganhou o prémio de melhor actriz no Festival de Cannes do mesmo ano.

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