domingo, 24 de novembro de 2013

Ciclo Viagem a Itália - (My Voyage to Italy, 1999)

"My Voyage to Italy" - parte reminiscência, parte ensaio, é um documentário esplêndido de quatro horas de duração realizado por Martin Scorsese, sobre o pós-Segunda Guerra Mundial do cinema italiano. Concentrando-se em filmes realizados entre Roma, Cidade Aberta (1945) e 8 ½ (1963), com um olhar para filmes feitos anteriormente a este período, analisa as origens do movimento neo-realista, a que o realizador chama de "o mais precioso momento da história do cinema", e a sua influência no cinema italiano. Scorsese concentra-se nos cinco realizadores mais importantes que saíram do movimento e foram inspirações tanto para os seus próprios filmes e, de uma forma ou de outra para quase todos os filmes italianos feitos depois deles.
Scorsese passa a primeira meia hora do documentário a relatar quando era criança, e começou a familiarizar-se com o cinema italiano assistindo a filmes legendados exibidos na televisão ameicana nas noites de sexta-feira com a família e os vizinhos, iniciando com o primeiro filme italiano que viu, "Paisá" do neo -realismo de Roberto Rossellini. Conta como os avós, imigrantes da Sicília que nunca sequer se tornaram cidadãos americanos, e amigos e vizinhos da família em Little Italy, em Nova Iorque, onde ele cresceu, se reuniram na sua casa para ver estes filmes com cenas da sua terra natal e ouvir o dialeto siciliano que era o falado nos filmes. Foi com esta experiência que ele pela primeira vez tomou conhecimento das origens da sua própria família, e sendo já um jovem fascinado pelos filmes americanos que via regularmente com o seu pai, descobriu que um novo mundo no cinema se abria para ele. O documentário é intercalados entre pedaços de filmes italianos e filmes caseiros da sua própria família e da vizinhança no final de 1940. Juntos, pintam um quadro vívido da própria infância de Scorsese, tanto a real como a imaginária.
 
O documentário segue ao longo de quatro horas, e vai revisitando um total de 38 filmes, não só do neo-realismo mas também anteriores, e faz desta obra um movimento e uma experiência pessoal. Mostra como esses realizadores e os seus filmes o afectaram tanto como um jovem impressionável ou como um adulto, inspirando-o e ensinando-o para a sua própria carreira como realizador de cinema. No entanto, ele consegue filtrar as suas percepções através das suas próprias reações a esses filmes, sem nunca cair na armadilha dessa abordagem do Novo Jornalismo. Ainda mais impressionante, ele faz um filme informativo com substância real, oferecendo uma penetrante e perspicaz análise desses realizadores que surgiram a partir do neo-realismo e do seu trabalho, e faz isso sem mostrar sequer um traço de pretensão académica ou intelectual. 
Vamos começar este ciclo com o documentário. Vejam-no com atenção, que nas próximas semanas irão passar pelo blogue todos os filmes que Scorsese falou no documentário. Espero que seja um ciclo do vosso agrado.

Parte 1
Parte 2
Parte 3
Imdb  

1 comentário:

Anónimo disse...

Ora aqui está uma excelente ideia, um ciclo a partir deste excelente documentário. Já o conheço há algum tempo, e de certo modo inspirou o que tenho estado a fazer no meu blog nas últimas semanas. Abraço! :)