sábado, 30 de novembro de 2013

Alemanha, Ano Zero (Germania, Anno Zero) 1948



"Alemanha Ano Zero" de Roberto Rossellini (Germania Anno Zero), é uma conclusão adequada para a sua trilogia neo-realista sobre a guerra, que começou com o retrato corajoso da Resistência italiana lutando com a ocupação nazi em Roma Cidade Aberta (1945) e continuou com um épico retrato fragmentado da libertação aliada da Itália em Paisà (1946). Ao contrário destes filmes, que acontecem no passado recente e retratam a própria guerra, "Alemanha Ano Zero" é um filme passado muito no tempo presente que foca o rescaldo da guerra, tanto fisicamente em termos do esqueleto da bombardeada cidade de Berlim que assombra as imagens do filme e psicologicamente, em termos dos personagens rasgados e desesperados nas emoções.
Rossellini escolheu contar a história do rescaldo da Segunda Guerra Mundial sobre a psicose cultural alemã através de uma única família, mas ainda mais especificamente através dos olhos do mais novo membro daquela família, um jovem de 12 anos chamado Edmund (Edmund Meschke ), que não consegue livrar-se do terrível senso de dever que foi instigado nele pela Juventude Hitleriana durante os seus anos mais impressionáveis. Vive em casa com o doente e acamado pai (Ernst Pittschau), a irmã mais velha, Eva (Ingetraud Hinz), e o irmão mais velho, Karl-Heinz (Franz Krüger), que anda escondido das autoridades, porque lutou pelo Terceiro Reich até ao fim e teme ser acusado de crimes de guerra (nunca é expressamente declarado o que ele fez durante a guerra, mas não é um exagero imaginar que esteve envolvido nos campos de concentração).
Praticamente todas as cenas no filme envolvem Edmund, o próprio rosto que a inocência não traíu, mas modificou para algo horrível. Embora ele mantenha um lado infantil, há algo nos seus olhos e nas suas ações, que constantemente nos lembram não só o que ele passou, mas como tem sempre deformado sua sensibilidade. Para nos mostrar isso, existem várias cenas em que Edmund reencontra com um de seus antigos professor (Erich Gühne), um pederasta que relembra o poder que uma vez exercido por Hitler, contrastava com o pai de Edmund, que confessa ao seu filho que tinha desejado a queda do Terceiro Reich. A lealdade de Edmund é claramente com o passado, é por isso que ele está tão empenhado em ajudar Karl -Heinz a permanecer escondido e por que ele, eventualmente, toma uma decisão terrível que vai ter repercussões no futuro da familia.
"Alemanha Ano Zero" mantém as tendências neo-realistas que Rossellini evocara nos seus filmes de guerra anteriores, especialmente a ênfase na localização física real. As ruínas imponentes dos edifícios, uma vez magníficas de Berlim são mais do que apenas um lembrete constante dos estragos físicos da guerra, está sempre presente o símbolo da violência humana e desorientação, os fantasmas de uma cultura que procurava impor a sua vontade sobre o resto do o mundo, e ter perdido. Nos filmes de guerra anteriores Rossellini apresentara os nazis e os colaboradores fascistas como vilões bidimensionais, no entanto, apresentado o último filme da trilogia na Alemanha, revela uma nova dimensão, apresentando o povo alemão em termos extraordinariamente complexos. Alguns, como o pai, são vítimas, enquanto outros, como o professor, são assustadoramente impenitentes. No meio estão aqueles que estão divididos, como Karl-Heinz, com medo de serem responsabilizados pelas suas acções, mas ainda conscientes de um universo moral.
E, claro, temos Edmund, que encarna a juventude da Alemanha, que foi traída pelos seus anciões e atirada para um caminho do qual não havia regresso. Os momentos finais do filme são inegavelmente duros, e talvez sejam muito melodramáticos a apresentar o único modo que Edmund poderia imaginar para o seu futuro no meio das ruínas. Como em "Roma Cidade Aberta" e "Paisà", "Alemanha Ano Zero" termina com uma cena de violência que também traz consigo uma corrente de optimismo, neste caso previsto na banalidade de um eléctrico em movimento através do frame. Mesmo que não estivessemos já "comprados" nestes momentos finais, eles fazem pouco para diminuir o poder e a profundidade da mensagem geral do filme sobre o que um mundo em guerra faz para aqueles que estão presos no fogo cruzado.

Link 
Imdb

2 comentários:

o mortal comum disse...

Caro amigo, o link no MEga dá-me um erro. Serei o unico?

My One Thousand Movies disse...

Tenta lá agora, para mim está bom...