"Tenho de agradecer ao Chico muito do que sei sobre cinema “a sério”. Corria o ano de 2009 e o meu conhecimento de cinema ainda era muito curto. Lia a Empire e a Totalfilm e já gostava de alguns realizadores como Scorsese ou Woody Allen, mas gostava sobretudo de fantasia, sci-fi e filmes para miúdos dos anos 80. Via tudo, desde Krull a Beastmaster passando por Excalibur e Legend. Também, muito devido aos meus pais, era fã de Westerns e quanto a este género já tinha um conhecimento que se podia considerar acima da média (mas nada que atinja os níveis alcançados graças ao thousandmovies). Estava um dia a fazer uma lista de filmes para ver e eis que me deparo com a lista de filmes preferidos do Scorsese e, no topo dessa lista, ou perto dela, estava um filme chamado Red Shoes. Não sei bem porquê mas decidi que tinha de ver aquele filme de ballet. Ora, toca a procurar nas fontes habituais e nada… Tenho de então agradecer à RealNetworks. Estes senhores tinham criado um tipo de ficheiro que ficava “pequeno” mas não perdia assim tanta qualidade comparado com os gigantescos avi (ainda por cima em Inglaterra, onde estava na altura, o limite de downloads era muito curto). Já tendo procurado em tudo o que é sítio decido colocar no google as palavras mágicas: “Red Shoes rmvb” e após uns cliques encontro o myonethousandmovies. Fiquei entusiasmado, estavam ali todos aqueles filmes antigos que apareciam nos tops das revistas e muito, muito, mais. Vi o Red Shoes e tal como Scorsese adorei. Comecei a explorar o blog e vi muito daquele cinema que, infelizmente, pouca gente conhece. Entretanto passaram 9 anos e, com a vida de trabalho, o tempo é curto para tanto cinema mas, com a ajuda do Chico, e com uma regularidade ainda razoável, continuo a aprender e a introduzir as pessoas próximas à sétima arte.
Ora, sendo o Chico uns dos grandes arquivistas de cinema, foi com grande alegria que recebi o convite para escolher um filme para celebrar os 10 anos do mythousandmovies. E escolher um filme? Não é fácil. Quase todos os meus filmes preferidos já passaram… Quase todos os bons Westerns (o meu género preferido) já passaram. Pensei no Heaven’s Gate, um dos filmes mais injustiçados de sempre mas já passou. Mas houve um que ainda não passou e que talvez haja alguns cinéfilos que ainda não conheçam, o que é uma pena.
O género Western quase desapareceu. Ainda vão aparecendo alguns, a maioria com pouca qualidade, mas é algo que o público já não gosta e que, por isso, Hollywood já não produz. No entanto, em 2007, surge, inesperadamente, um dos melhores Westerns de sempre. Trata-se de “The Assassination of Jesse James by the Coward Robert Ford”. Baseado no livro de Ron Hansen e realizado por Andrew Dominik retrata a conhecida história da relação dos irmãos Ford com Jesse James (Brad Pitt), particularmente do mais novo Robert (Casey Affleck) que, tal como o próprio título indica, o mata. O mais interessante não é a conclusão mas a forma como o filme retrata as suas personagens. Jesse James ficou na história como uma espécie de anti-herói mas James aqui não é a personagem das histórias (que Robert Ford também pensava que era) mas sim um homem paranoico e humano nas suas fraquezas e, Robert Ford, apesar de algo cobarde, não é uma pessoa que merecedora do odio da America. Nenhum é bom, nenhum é mau, nenhum é herói, nenhum é vilão, são os dois humanos.
É, talvez, o melhor papel de Brad Pitt e, o de Casey Affleck é, na minha opinião, uma das melhores performances de sempre. Complexo, contido, trágico, irritante, os adjectivos faltam-me. O que não me falta é a memória daquela cena, que todos esperam, em que o assassinato ocorre. É uma masterclass em realização e actuação. Fica também na memória a beleza da banda sonora e da cinematografia de Roger Deakins que prova aqui, mais uma vez, que é um dos melhores. Uma das suas ideias de génio foi usar lentes antigas (montadas sobre camaras modernas) para criar imagens com a periferia desfocada o que aumenta a autenticidade do filme e torna qualquer frame uma obra digna de exposição.
Muitas vezes se diz “they don’t make them like they used to” na verdade ainda o fazem, é raro, demasiado raro, mas ainda o fazem. Espero que seja uma boa descoberta para alguns. Quando o thousandmovies fizer 20 anos espero cá estar para a tarefa hercúlea de descobrir um filme que ainda não tenha lá passado. Parabéns Chico e mais uma vez obrigado por tudo!"
A escolha, e o texto, são da autoria do Frederico Martins. Muito obrigado pelas tuas palavras, Frederico.
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