domingo, 29 de setembro de 2013

O Círculo (Dayereh) 2000



O Círculo é sobre a opressão política. O filme, proibido pelas autoridades iranianas, segue uma série de mulheres em Teerão, como elas tentam escapar da perseguição e assédio por parte da policia, representantes do governo, e outros homens que se sentem no direito de abusar delas, porque elas são mulheres e por isso "merecem" ser abusadas. O filme é estruturado como um "círculo", no sentido de que a história de cada mulher leva a outra, e depois outra, onde a opressão é tão patente, que nenhuma mulher consegue escapar. É um filme elegante, apesar de ser angustiante, oferecendo pouca esperança para as mulheres que se encontram ao longo do caminho, todas resistentes, engenhosas, mas encurraladas.
A eficácia de The Circle está na sua atenção aos detalhes, mostra o que é a sensação de ser vigiado, ter medo, ficar com raiva e decepcionar-se. Não só revelar as grandes dores produzidas pela opressão, como numa cena em que uma mulher pobre e sem marido (Fatemeh Naghavi) deixa a sua menina à porta de um hotel, na esperança de que alguém leve a criança e lhe ofereça uma melhor vida do que ela pode. Mas também mostra pequenas dores e persistente, como os horrores diários que nunca vão embora.
Nargess (interpretada por Nargess Mamizadeh) é recém-libertada da prisão, e tenta voltar para a sua aldeia no oeste do Irão, mas não tem os documentos apropriados. A amiga Arezou (Maryam Parvin Almani) prostitui-se a fim de obter a passagem de autocarro para Nargess, mas recusa-se a viajar com ela, preocupada porque a amiga já falou tanto sobre o "paraíso" para onde quer voltar, que vai ficar desapontada quando o conhecer. Outro amiga, Pari (Fereshteh Sadr Orafai), está grávida de quatro meses e solteira (o amante dela foi executado na prisão), o que significa que ela e o filho estão condenados. Tenta fazer um aborto, mas a mulher a quem ela pede ajuda, Elham (Elham Saboktakin), que trabalha num hospital, tem medo de ajudar, por medo de irritar o seu próprio marido, que também trabalha no hospital. Pari só pode fazer um aborto com o consentimento do marido, que não tem.
As mulheres em "O Círculo" apanham um obstáculo após o outro: no início, uma jovem dá à luz por trás de uma porta fechada, gritando enquanto a sua própria mãe espera do lado de fora noutra sala. Quando a mãe descobre que a filha deu à luz uma menina (quando o ultra-som tinha sugerido que ela estava a ter um menino), ela reage com desânimo, sabendo que a família do marido pode exigir o divórcio, porque ela não entregou o esperado e muito desejado filho. A menina é apenas um fardo. Cada história é mais do mesmo, como as mulheres (muitos delas a interpretarem pela primeira vez) subtilmente transmitem a força e a determinação necessárias para passar os seus dias. A câmera é inquieta, circulando, observando, mas nunca se intrometendo-sugerindo a impossibilidade de realmente entender o dia-a-dia de ser uma mulher nesta situação ao longo da vida. É uma técnica bem discreta e poderosa, atraindo-nos para dentro e mantêndo-nos à distância, ao mesmo tempo.   
Realizado por Jafar Panahi, no Festival de Veneza, arrasou. Ganhou o Leão de Ouro, e outros cinco prémios.

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