sábado, 24 de agosto de 2013

O Diabo Manda (The Devil Commands) 1941



O ícone do terror Boris Karloff tem um de seus papéis mais ressonantes em The Devil Commands. Como pioneiro nas pesquisas de ondas cerebrais o Dr. Julian Blair é uma mistura característica de ameaça e vulnerabilidade. Blair começa o filme como um homem de família alegre e um cientista respeitado, mas a morte prematura da sua esposa Helen (Shirley Warde), leva-o para longe dos seus respeitados colegas e da amorosa filha Anne (Amanda Duff). 
Decidido a usar a tecnologia de gravação de ondas cerebrais para contactar com a esposa do "além", Blair junta-se a uma espiritualista manipuladora, Mrs. Walters (Anne Revere). Abandona a filha Anne, e muda-se para uma vila distante para realizar o seu trabalho sinistro, e ainda ajuda a encobrir o assassinato da sua própria empregada, mantendo ao mesmo tempo a simpatia do público.
"The Devil Commands" foi feito em pouquissímo tempo e com um orçamento apertado pelo realizador Edward Dmytryk, ainda em início de carreira. É graças aos créditos de Dmytryk que o filme, apesar de ter pouco mais de uma hora de duração, leva algum tempo para permitir que os personagens se desenvolvam. Por exemplo, embora a Sra. Blair apareça em apenas algumas cenas antes da sua morte, ainda se sente o calor entre o casal, fazendo posteriormente a dor de Julian, prolongada e crível.
Karloff acaba por não ser a figura sinistra central do filme. Essa seria Anne Revere, obscura e estranhamente sexy como a inescrupulosa Sra. Walters. Revere, provavelmente, poderia ter se tornado um ícone do terror pelo seu próprio direito, se quisesse, ou lhe tivesse sido dada uma hipótese (ironicamente, esta descendente do patriota americano Paul Revere foi colocada na lista negra, como o realizador). O seu desempenho aqui vai intrigar os devotos do terror clássico e os fãs casuais que podem nunca ter ouvido falar dela, ou visto um seu filme. 
Junto com o resto do filme, Mrs.Walters mostra uma janela invulgarmente clara sobre os medos da época, em 1941, quando os EUA estavam a lidar com a postura isolacionista em relação à Segunda Guerra Mundial. A ansiedade é espelhada na própria rejeição da sua família e da respeitabilidade de Blair, a fim de buscar o fantasma de sua esposa. Esta busca é uma casa de espelhos invertida como que a enviar jovens soldados ao exterior, para morrer. Aqui ele vai trazer Helen de volta dos longos mares da morte. 
Blair tenta provar que a corrente eléctrica gerada pelo cérebro humano não desaparece após a morte (e não é por acaso que as correntes das mulheres são mais fortes do que os homens), e os cérebros vivos podem ser aproveitados como receptores de ondas cerebrais de uma pessoa falecida. Por outras palavras, os seres humanos podem se transformar em rádios portáteis. Embora a idéia seja aqui apresentada como ficção científica, ao que parece, dentro do contexto do filme, é muito possível. Quando as suas idéias são inicialmente rejeitadas, Blair responde:“They called radio impossible!”.
"The Devil Commands" também apresenta um medo mais concreto, da tecnologia a funcionar e atravessar a linha entre a vida e a morte. A idéia do Dr. Blair provavelmente parecia plausível para a época, e se simpatizarmos com a dor de Blair, também temos de concordar com os seus colegas: ele colocou as suas obsessões pessoais acima do bem-estar dos outros, colocando a cidade, e até mesmo toda a humanidade em perigo. Um medo crescente pairava sobre a população do mundo em 1941, observando como a ciência e a tecnologia se movimentavam para a criação de novas maravilhas, como o rádio, e novos horrores como a bomba atómica.
Apesar de um final apressado que deixa muitas perguntas sem resposta, esta pequena jóia é um choque com personagens fortes e perguntas provocativas por toda a parte.
Filme bastante raro, com legendas em inglês.

Link 
Imdb

Sem comentários: