domingo, 25 de agosto de 2013

Beco sem Saída (Cornered) 1945



De todos os vilões para ter num filme, entre os mais populares estão os nazis. O cinema sempre os retratou do modo mais desagradável possível. Alguns filmes embelezam a vilania da organização a patamares exagerados, mas dado o que nos contam sobre a história das ideologias do partido e como eles colocaram a ideologia em movimento durante os anos no poder na década de 1930 e 1940, há uma forte razão para apoiar a noção de que eles de facto fizeram justiça à sua fama de vilões. O realizador Edward Dmytryk e o actor Dick Powell voltam a renir-se depois de Murder, My Sweet, e usam essa idéia para trazer aos espectadores "Cornered".
Nos últimos dias da Segunda Guerra Mundial, o piloto canadiano Laurence Gerard (Dick Powell) dirige-se para a França para uma questão muito pessoal: descobrir a identidade do homem que matou a sua esposa de nacionalidade francesa, que lutou ao lado da resistência durante os anos do nazismo. Marcado pela guerra e também por um amor perdido, Gerard ferozmente segue as pistas sobre o paradeiro da sua presa, Marcel Jarnac, o que prova ser um assunto complicado dado as pessoas afirmarem não saber nada sobre a sua aparência física ou saber se ele já morreu durante a guerra. As pistas levam-no a Buenos Aires, onde a esposa do assassino, Madeleine Jarnac (Micheline Cheirel) vive uma grande vida, entre a elite da cidade. Depois da sua chegada à cidade argentina, Gerard é abordado por um tal de Melchior Incza (Walter Slezak), que afirma ser um guia turístico, talvez um pouco conhecedor da forma como ele costuma trabalhar e já estar a par do objectivo de Gerard na América Latina.
Repare-se que na sinopse acima que nenhuma menção aos Estados Unidos é feita. Essa é uma das muitas qualidades que distinguem o filme. Nem por um momento a acção decorre em solo americano, e até o personagem principal, Laurence Gerard, é um protagonista canadiano. Provavelmente o único elemento americano perceptível no filme é o sotaque de Dick Powell (que não faz qualquer tentativa de imitar o padrão de fala de um franco-canadense). Todo o resto do elenco tenta colocar o melhor sotaque latino-americano ou francês, possível. Quem for menos familiarizado com o género noir deve ser lembrado que na década de 1940 e 1950, quando estes filmes foram feitos, os realizadores não tinham conhecimento do facto de que estavam a criar filmes que anos mais tarde viriam a ser incluídos, pelos historiadores e especialistas, dentro de um género específico chamado "film noir". Assistir a estes filmes no início do século 21 oferece ao espectador o benefício da retrospectiva, bem como décadas de literatura de cinema e classes que têm infinitamente dissecado estas imagens. Dirigimo-nos para um filme como "Cornered" com a idéia firmemente plantada de que o noir é muito mais do que um movimento do cinema americano.
Todos aqueles que já tenham visto o filme mais popular da dupla Dmytryk/Powell, "Murder, My Sweet", já têm uma percepção razoável do que esperar de "Cornered", embora alguns dos ingredientes sejam um pouco forçados. Para começar, boa parte da fotografia é nítida, detalhada e realizada com um cuidado rigoroso, com toques estilísticos espalhados por todo o lado, produzindo alguns efeitos viscerais fantásticos. Para aqueles que encontram prazer não apenas na história, mas também na fotografia criativa a preto e branco, no cinema noir, "Cornered" constitui um forte argumento, e um "must see".
"Cornered" também acontece ser um filme bastante amargo. Isto não é apenas lógico, mas perfeitamente compreensível. O protagonista foi injustiçado da maneira mais vil que se possa imaginar, e visa punir o culpado de qualquer maneira que puder. Juntamente com o facto de que ele não é muito mais do que um investigador, aos seus métodos faltam tacto e controle. Quando confrontado com alguém que pode ser Marcel, Gerard fica perfeitamente disposto a matar, mesmo que ele não tenha a prova definitiva. O ponto da estratégia é eliminar qualquer um que possa ser o seu alvo e passar para o próximo, se for necessário. 
Cornered não é o maior dos noirs, nem é necessariamente o mais divertido. Como a sua figura central, é muito decidido a abraçar o lado negro para provocar um efeito entre os espectadores. A sua última  impressão é de um filme que está prestes a atingir a sua intensidade emocional. Imperdível para os fãs do género.

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