segunda-feira, 29 de março de 2021

Reviver Cannes 1974

 Vamos agora fazer uma viagem no tempo, até ao ano de 1974. Hoje é dia 9 de Maio, e começa a 27ª edição do Festival de Cannes. 
Alguns factos importantes deste ano: a renúncia de Richard Nixon, a Revolução dos Cravos em Portugal, a Lei do Aborto em França, Helmut Schmidt torna-se chanceler da Alemanha, a grande crise do petróleo, eu nasci. No cinema, "The Sting", de George Roy Hill vence os Óscares, no dia 2 de Abril, um pouco mais de um mês antes do inicio do festival de Cannes. Uma nova geração de realizadores americanos, que mais tarde viria a ser conhecida por Movie Brats, estava a tomar conta de Hollywood. Esta geração, também chamada de Nova Hollywood, teria a sua presença bem vincada no festival deste ano, em Cannes. Outros filmes importantes deste ano: "The Towering Inferno", de John Guillermin, "Chinatown", de Roman Polanski, "Lacombe Lucien", de Louis Malle.
Já em 1974 o Festival de Cannes era um dos eventos mais portantes do mundo. Maurice Pialat fica muito desiludido pelo seu novo filme não ser exibido sequer no festival, "La Guele Ouverte". Robert Bresson fica furioso pelo seu "Lancelot du Lac" não ter sido escolhido para a selecção oficial, e diz que o Festival de Cannes está a levar o cinema para a mediocridade. Mas mesmo assim, o filme foi apresentado fora de competição, e Michel Piccoli foi o seu porta-voz: "O Sr. Robert Bresson, em acordo com os seus produtores e a Sociedade dos Realizadores Franceses, decidiu não apresentar, esta noite, "Lancelot do Lac". Por respeito aos membros do júri, e ao público, teve a gentileza de reconsiderar a sua decisão, mas parece fundamental mostrar a sua indignação com as condições em que se realiza o Festival de Cannes. O espírito que rege a seleção e a organização deste festival em geral, parece contrária à sua ideia do que é o cinema."
René Claire, o presidente do júri, mudou a tradição. Cannes este ano não será diplomaticamente correcto. Os prémios não serão mais entregues para agradar a todos, seria feita uma pequena revolução que seria muito bem recebida pela imprensa. Jovens realizadores americanos estariam em destaque nesta edição, alguns com menos de 30 anos. E de facto eles viriam a mudar a história do cinema.
Faziam ainda parte do Júri os seguintes elementos:
- Jean-Luc Dabadie (França)
- Kenne Fant (Suécia)
- Félix Labisse (França)
- Michel Soutter (Suiça)
- Mónica Vitti (Itália)
- Alexander Walker (Uk)
- Rostislav Yurenev (União Soviética)

Ao longo do próximo mês, vamos passar aqui em revista,  uma boa parte dos filmes que passaram em Cannes na edição deste ano. Da seleção oficial, das seleções paralelas, os filmes que foram exibidos fora de competição. Fiquem atentos, que vai valer a pena. No final, faremos as contas.