Quando Tom Joad (Henry Fonda), regressa para a sua quinta no Oklahoma, depois de quatro anos na prisão, descobre que já nada é o que era. Estamos na década de 30, vive-se a depressão, e a sua família perdeu a casa e a quinta para o banco. Assim começa uma jornada incrível para Tom, ao ver a injustiça social à sua volta, ele muda de um pequeno criminoso para um sindicalista.
"As Vinhas da Ira" é um filme monumental feito por um realizador monumental, John Ford, baseado num livro brilhante de outra figura monumental, John Steinbeck. As verdades estabelecidas no livro e no filme, podem ser tão verdadeiras hoje como eram então. Tom leva a sua família em busca de trabalho e a promessa de uma vida melhor, na califórnia, mas tudo o que encontra são mentiras, corrupção policial, e exploração empresarial dos trabalhadores desesperados. Uma situação muito parecida com a dos trabalhadores migrantes provenientes do México e América Central, em busca do suposto sonho americano. Interessante, o argumento, adaptado por Nunnally Johnson, é, na realidade, muito mais optimista que o livro. O filme oferece alguns vislumbres de esperança ao clã Joad, e oferece alguma cor à escuridão que é o livro (assim como a algumas idéias políticas mais extremas).
Há um toque de sentimentalismo em "As Vinhas da Ira". É apenas uma sugestão, e nunca é um factor detractor dentro do filme. Os actores nunca permitem que o argumento de Johnson se torne demasiado sentimental. Os olhos sondantes de Henry Fonda, a mágoa do sorriso de Jane Darwell, o olhar vago de Dorris Bowden, e o rosto de derrotado de Frank Darien estão sempre presentes para atirar qualquer sentimentalismo para o lado. Ou, pelo menos, para garantir que o sentimentalismo seja merecido. Se houver qualquer sentimentalismo é gerado pela dureza que os seus personagens enfrentam em cada frame.
John Ford ganhou com este filme o seu segundo Óscar para melhor realizador, e, "As Vinhas da Ira, está certamente, entre as melhores obras do realizador.
E agora a visão sobre este filme, do Bruno - convidado do M2TM:
Primeiro, agradeço desde já o convite do Chico para este ciclo. Sinto-me honrado por fazer um pouco parte do M2TM. O azar é vosso que vão gramar com alguns textos meus. Espero que gostem.
Nós, trabalhadores, somos todos operários em construção. Seja de fato-macaco ou engravatado, de tijolo ou software na mão, trolha, carpinteiro, designer, arquitecto, gestor, engenheiro, professor, agricultor, somos todos operários em construção. Tudo o que é construção humana é obra das nossas mãos. Inclusivamente o lucro dos patrões. Mas compreendê-lo não é fácil, as respostas não se encontram na superfície das coisas, é preciso reparar, pensar e ir à raiz das coisas. Muitos de nós, trabalhadores, por falta de coragem, honestidade ou de oportunidade, nunca chega sequer a construir-se e desvendar a raiz social do seu próprio ser.
"As Vinhas da Ira" é um filme monumental feito por um realizador monumental, John Ford, baseado num livro brilhante de outra figura monumental, John Steinbeck. As verdades estabelecidas no livro e no filme, podem ser tão verdadeiras hoje como eram então. Tom leva a sua família em busca de trabalho e a promessa de uma vida melhor, na califórnia, mas tudo o que encontra são mentiras, corrupção policial, e exploração empresarial dos trabalhadores desesperados. Uma situação muito parecida com a dos trabalhadores migrantes provenientes do México e América Central, em busca do suposto sonho americano. Interessante, o argumento, adaptado por Nunnally Johnson, é, na realidade, muito mais optimista que o livro. O filme oferece alguns vislumbres de esperança ao clã Joad, e oferece alguma cor à escuridão que é o livro (assim como a algumas idéias políticas mais extremas).
Há um toque de sentimentalismo em "As Vinhas da Ira". É apenas uma sugestão, e nunca é um factor detractor dentro do filme. Os actores nunca permitem que o argumento de Johnson se torne demasiado sentimental. Os olhos sondantes de Henry Fonda, a mágoa do sorriso de Jane Darwell, o olhar vago de Dorris Bowden, e o rosto de derrotado de Frank Darien estão sempre presentes para atirar qualquer sentimentalismo para o lado. Ou, pelo menos, para garantir que o sentimentalismo seja merecido. Se houver qualquer sentimentalismo é gerado pela dureza que os seus personagens enfrentam em cada frame.
John Ford ganhou com este filme o seu segundo Óscar para melhor realizador, e, "As Vinhas da Ira, está certamente, entre as melhores obras do realizador.
E agora a visão sobre este filme, do Bruno - convidado do M2TM:
Primeiro, agradeço desde já o convite do Chico para este ciclo. Sinto-me honrado por fazer um pouco parte do M2TM. O azar é vosso que vão gramar com alguns textos meus. Espero que gostem.
Nós, trabalhadores, somos todos operários em construção. Seja de fato-macaco ou engravatado, de tijolo ou software na mão, trolha, carpinteiro, designer, arquitecto, gestor, engenheiro, professor, agricultor, somos todos operários em construção. Tudo o que é construção humana é obra das nossas mãos. Inclusivamente o lucro dos patrões. Mas compreendê-lo não é fácil, as respostas não se encontram na superfície das coisas, é preciso reparar, pensar e ir à raiz das coisas. Muitos de nós, trabalhadores, por falta de coragem, honestidade ou de oportunidade, nunca chega sequer a construir-se e desvendar a raiz social do seu próprio ser.
Sendo um filme produzido por um grande estúdio de Hollywood e vencedor de dois Óscares, surpreendeu-me a sensibilidade demonstrada num ponto em particular. É certo que há muitos filmes que mostram as condições de vida dos trabalhadores, mesmo explicitamente, mas neste caso há um pormenor que normalmente só quem adere à luta percebe: a aprendizagem. Para tal sensibilidade, presumo, muito terá contribuído livro homónimo de John Steinbeck.
Tom Joad, personagem principal, ingénuo politicamente ao início, é também ele um operário em construção. Vítima das contradições do capitalismo num momento histórico particularmente difícil e violento à vida humana - a Grande Depressão -, ele vive com a sua família um conjunto de experiências que lhe permite ganhar rapidamente uma consciência social que o incita lutar por justiça ao lado dos oprimidos.
O filme tem uma narrativa cujo ritmo pode não agradar a um espectador mais impaciente, imediatista, mas é extremamente rico em conteúdo, e por isso, mais que poder ver e ouvir, é preciso que o espectador se desafie a reparar. É que durante o filme várias temáticas são explicita ou implicitamente abordadas: a natureza de classe das leis e das autoridades (sempre em favor do capital e da propriedade privada), a importância das greves e da união dos trabalhadores, o desenvolvimento da corrupção moral dos homens perante o medo do desemprego, da fome, da falta de habitação, pois os trabalhadores e suas famílias ficavam frequentemente a habitar nos casebres das fábricas e latifúndios, emprestados pelos patrões que os chantageavam com o desalojamento, e aborda assuntos como a jorna, a migração... E Tom Joad não chega a perceber o porquê da miséria e da injustiça, está ainda confuso, em construção. Mas percebe o suficiente para se colocar do lado certo da barricada e que é necessário lutar.
O herói deste filme chama-se Tom como se poderia chamar Joe Hill, o seu nome cantado ou não, é como um espectro que ronda onde quer que haja injustiça e alguém que a combata.
Andarei por aí no escuro. Estarei em toda a parte para onde quer que olhem. Onde houver uma luta para que os famintos possam comer, estarei lá. Onde quer que haja um polícia a espancar alguém, estarei lá. Estarei nos gritos das pessoas quando se zangam. Estarei nos risos das crianças quando têm fome e as chamam para jantar. E quando as pessoas comerem aquilo que cultivam, e viverem nas casas que constroem. Eu estarei lá, também.
por Bruno - Leitura Capital*.
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