A história da família Fukuhara, ligeiramente empobrecida, a lutar para se restabelecer no pós-guerra do Japão. O cenário é o do início dos anos 50, mas o legado da guerra ainda paira fortemente no ar. No decorrer do filme um personagem é repatriado da Manchúria, outro é libertado de um campo de prisioneiros soviético, e os Fukuhara sofrem com a perca do negócio da lavandaria, perdida durante a guerra. A mãe, Masako é a força central do filme, interpretada pela inimitável Kinuyo Tanaka, uma actriz muito dedicada, e cheia de recursos, numa personagem cheia de perseverança, apesar de todas as vicissitudes que se abatem sobre ela, e que, ficamos convencidos no final, lhe continuarão a acontecer no futuro.
A viver com ela no início do filme, temos o marido Ryosuke, reduzido a um trabalho de guarda numa fábrica, enquanto o resto da família luta para recuperar o negócio da lavandaria. O adoentado filho Susumu, tendo adoecido por uma prolongada exposição ao pó, vai ser enviado para um sanatório, enquanto a irmã mais velha, Toshiko, é a narradora intermitente, uma jovem forçada a abandonar os estudos numa escola de costura para ajudar a família nas finanças. Ainda temos a jovem filha, Chako, e o igualmente jovem primo, Tetsuo.
Mikio Naruse apresenta um retrato resignado e pungente sobre a luta humana e o sacrifício dos mais velhos, sobrepondo com a inocência e o optimismo da juventude, com a austeridade da vida no Japão do pós-guerra, refletindo-se a erosão gradual da esperança, em prol da mudança e da incerteza: os festivais da cidade coincidem com episódios de mudança e incerteza na família. Desde a cena de abertura, acompanhada pela voice-over de Toshiko, com Masako a limpar a casa afeituosamente, Naruse transmite a imagem discreta e agridoce do seu arquetipo, a heroína resiliente - um retrato sentimental, contudo gracioso e reverente, de uma mulher envelhecida a lutar interminavelmente contra o fardo pesado da pobreza, mágoa, desilusão, e sonhos não realizados.
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