Um flashback para o primeiro encontro entre Yukiko Koda (Hideko Takamine, a habitual protagonista de Naruse), e Kengo Tomioka (Masayuki Mori), numa área rural ocupada pelos japoneses na Indochina, durante a Segunda Guerra Mundial, pouco depois de Yukiko aparecer na casa de Tokyo de Tomioka que ele divide com a sua velha e doente esposa Kuniko (Chieko Nakakita). Yukiko sabia que ele era casado desde o início, mas ela acredita que ele a vai receber de regresso ao Japão, e cumprir a promessa de se divorciar da esposa, para casar com ela. Mas quando a guerra acaba e eles são repatriados de volta para o Japão, Yukiko descobre que ele não vai deixar a mulher, nem reacender a paixão que começou numa terra estrangeira.
Há uma linha muito ténue entre o amor e a paixão, e as normas culturais são talvez o factor mais decisivo. No ocidente, os ex-amantes que não concordam em ser abandonados e perseguem os/as seus ex-pares, têm um rótulo - stalkers. Na altura que este filme saíu, a obsessão pelo amor não correspondido não era visto como algo tão sinistro, tanto no Ocidente como no Oriente. Na verdade, era a base para muitas histórias de amor satisfatórias, incluindo clássicos como "Jezebel", "Gone With the Wind" ou "Wuthering Heights". Naruse, um homem que viveu uma vida bastante infeliz, e cujo prolongado afastamento da mulher, a actriz Sachiko Chiba, o levou ao divórcio, dá-nos um olhar, principalmente sentimental, e mesmo invejoso, sobre o amor. No entanto, nenhum caso de amor começa com tristeza, e o olhar melancólico de Naruse no princípio deste caso é a flor a lutar pela luz, num campo cheio de ervas daninhas.
O papel da mulher na sociedade é muito mais complexo aqui, um dos filmes mais aclamados de Naruse. Passado num ambiente de pós-guerra, Naruse contrasta o exotismo idealizado do inicio de uma relação com as suas turbulentas consequências, contrastando com a dura realidade da derrota do Japão na Guerra. Como também pode ser visto em alguns filmes de Ozu, são as mulheres que são vistas como sendo mais pragmáticas quando se lida com as realidades práticas da vida quotidiana, enquanto os homens chafurdam na derrota e na vergonha. Naruse é muito mais convincente do que Ozu, neste neo-realismo melancólico.
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