quinta-feira, 19 de fevereiro de 2015

Segunda de Manhã (Lundi Matin) 2002



Todas as segundas de manhã, Vincent começa a mesma rotina monótona. Uma hora e meia de trânsito até ao trabalho pouco inspirador numa fábrica. Em casa, as obrigações familiares que estão sempre a interromper a sua paixão pela pintura. Vincent já não suporta as segundas de manhã! Esta farto da fábrica, da mulher e das crianças, das contradições incompreensíveis da vida e do dia-a-dia do sítio em que vive. O velho Albert todos os dias faz o mesmo caminho. Cansado, um dia, Vincent resolve ver um pouco do mundo e viaja até Veneza. Talvez aí ele consiga encontrar o que falta na sua vida...
O georgiano Otar Iosseliani tem um grande fascínio pelos pequenos detalhes da vida das pessoas, e pela forma como elas lidam com as surpresas, decepções, e prazeres que surgem nas suas vidas. Vincent encontra o seu lugar em Veneza. O pai dá-lhe o dinheiro que ele precisa e diz-lhe para procurar um parente afastado, que por acaso é uma pessoa bastante desagradável que se apresenta como um cavalheiro rico, e bastante conhecedor das artes.
Nada liga o filme de cena para cena, para além de um egocentrismo central. Toda a gente está tão preocupada com a sua vida, que não ligam a mais coisa nenhuma. Mas isso é tudo muito divertido, e as pessoas fazem coisas muito peculiares e engraçadas. Mais uma vez com um diálogo escasso, o filme é quase completamente em silêncio. Há algumas sequências extremamente astutas e inteligentes: um churrasco surreal numa praia italiana, um analfabeto a escrever uma carta de amor, e também muitas personagens excêntricas, como um carteiro que lê o correio de toda a gente, um padre que espia as mulheres casadas através de um telescópio, ou uma idosa num carro desportivo. O humor é suave e inofensivo para toda a gente, seco, sarcástico, e absolutamente genial.  

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