quinta-feira, 26 de fevereiro de 2015

Dia de Cólera (Vredens Dag) 1943



No início do século 17 a Dinamarca é atravessada pelo medo da bruxaria. Uma velha mulher pede a Anne, a jovem esposa de um pastor, para a esconder, mas ela é capturada, torturada e queimada por alegadamente praticar bruxaria. Quando o filho do pastor, Martin, regressa a casa, fica fascinado pela beleza da madrasta, e acabam por se apaixonar os dois. O amor de Anne por Martin torna-se tão intenso que chega a desejar que o marido morra...
O realizador Carl Theodor Dreyer é conhecido pelo ambiente austero dos seus filmes, e pela sua abordagem de assuntos como a fé e o sofrimento humano. Uma década depois do seu famoso filme, "Vampyr",  ele fez um filme que é celebrado por muitos como a sua verdadeira obra-prima, o seu trabalho mais representativo do Dreyer homem, e do Dreyer cineasta. Passado durante o período da caça ás bruxas no século 17, Dreyer mostra-nos uma comunidade atormentada pelo medo. Por um lado, medo de serem acusados de bruxaria e serem brutalmente assassinados pela comunidade, por outro lado, medo de serem tentados pelo diabo, e serem atirados para o inferno por toda a eternidade. O filme foi feito durante a ocupação Nazi da Dinamarca, durante a Segunda Guerra Mundial, e é difícil não ver os paralelismos destas duas realidades.
"Vredens Dag" faz parte de uma trilogia com "The Passion of Joan of Arc (1928) e Ordet (1955). O que os três filmes têm em comum é uma crença no espírito humano para suportar qualquer calamidade, através ou em vez da religião. "Vredens Dag" é o mais obscuro dos três, o mais pessimista, mas Dreyer ainda consegue transmitir que o sofrimento mortal é transitório e que o sentimento humano é eterno e vai triunfar no fim. Os três filmes mostram a religião de um modo muito irónico, talvez subversivo. O subtexto escondido, é que a religião é um grande mal para a humanidade, ao passo que a fé é a sua grande salvação. As consequências da aderência cega à religião estão bem aparentes neste filme. Por contraste, Dreyer retrata a verdadeira fé com o mais nobre dos sentimentos: a vontade de transcender o "agora" e o "aqui", libertando todo o caos e o tumulto das vidas na terra.

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