O Baixo Alentejo com seus tipos de camponeses e ganhões, os "montes" a pintalgar de branco a planície imensa, as crendices, a nostalgia das canções, a labuta do trabalhador nas ceifas, pela conquista do pão.
O dinheiro mal gasto na feira, que era destinado à compra duma burra - indispensável para que a courela se transforme num mar de trigo - serve de pretexto ao drama particular que se relata, sobre a família de Loas, um pequeno lavrador em decadência...
"Em 1965, O Trigo e o Joio, baseado no romance homónimo de Fernando Namora, foi produzido em regime de cooperativa, destacando-se neste empreendimento colectivo a participação de Igrejas Caeiro, Fernando Namora e António da Cunha Telles.
Na sua crítica, Manuel de Azevedo, embora reticente, destaca essa qualidade "humana":
«Não será talvez um “grande filme” – num sentido ambicioso de estilo cinematográfico. Mas é de certo, um filme de mérito indiscutível, obra de equipa, onde há que aplaudir a humanidade de cada um. E nessa contribuição de sacrifício individual está, porventura, a maior qualidade de “O Trigo e o Joio” – caminho válido e seguro (embora não único) do cinema português, que não pode, sem perigo de esterilidade, ignorar a realidade portuguesa».
Azevedo comenta também o aspecto estético:
«Em “O Trigo e o Joio”, Manuel Guimarães demonstrou já um amadurecimento que lhe permitiu evitar alguns dos seus maiores defeitos: a retórica cinematográfica. O filme resulta, deste modo, numa obra equilibrada, expressiva, com qualidades espectaculares dignas de aplauso. (...) Filme sem ousadias formais, sem um estilo ambicioso, impõe-se pelo acerto e pela simplicidade da generalidade das sequências, em que a história corre sem grandes oscilações» (Diário de Lisboa, 10-11-1965).
De facto, o filme aparenta uma evolução narrativa que se aproxima mais do idioma do cinema novo, nomeadamente pelo uso de elipses; todavia, esta impressão revelou-se errónea após análise dos cortes da censura que, eles sim, foram os responsáveis pelas «elipses». Este foi mais um filme impiedosamente torturado pela Censura.
Nos anos 60, Guimarães aperfeiçoa a sua matriz clássica e mantém-se fiel a uma estrutura narrativa que usa formas clássicas essenciais, tanto ao nível do argumento e da composição dramatúrgica, como nas opções cinematográficas"
Texto do blog Manuel Guimarães - Cem anos de esquecimento
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