"No conjunto de filmes iniciais de Michael Powell. o Ladrão de Bagdad ocupa um lugar singular. Não é um filme de guerra, é uma co-realização com o alemão Ludwig Berger e o americano Tim Whelan, curiosamente dois cineastas com um largo currículo no cinema mudo. Por outro lado, é um filme colorido, o que não é muito comum nessa época.
Aliás a cor desempenha um papel fundamental nesta «fantasia arábica» como é designado no genérico inicial. Viviam-se os primórdios do cinema a cores e imperava algum experimentalismo cromático que umas vezes resultava e noutras não. Felizmente, o Ladrão de Bagdad é muito bem sucedido. Todo o filme é, do ponto de vista formal, muito conseguido e artística e tecnicamente muito arrojado e inovador, ganhando Óscares nas chamadas categorias técnicas como os efeitos visuais a direcção artística e a cinematografia, para além de ser o primeiro filme a utilizar a o bluescreening. Havia uma versão de 1924 da qual esta supostamente um remake, mas parece que as diferenças entre ambas são substanciais, embora eu não tivesse visto o original. Embora não seja extraído das Mil e Uma Noites, o Ladrão de Bagdad inspira-se no mágico maravilhoso que nos foi deixado por essa obra literária. Por esses motivos e pela simplicidade do argumento, pelos efeitos visuais muito avançados para a época e pelo tom encantatório que é tão típico da cultura árabe, é um filme que abrange uma segmento etário muito amplo, designadamente, crianças e adolescentes, sem, no entanto, desagradar aos adultos Poder-se-á dizer de uma forma um pouco simplista, que o Ladrão de Bagdad tem inegáveis pontos de contacto com o Feiticeiro de Oz de Victor Flemming, datado do ano anterior, sobretudo porque vive no mesmo imaginário de um mundo fantasioso e alternativo onde as leis da física e da biologia não são as mesmas que conhecemos neste nosso mundo. São os encantamentos e feitiços que transformam homens em cães e cegam outros, que encantam princesas, tapetes voadores, génios da lâmpada que concedem desejos, sultões, dançarinas de véu e cavalos alados, mas que permitem uma redenção final voltando tudo à primeira forma, onde os maus são castigados e os bons recompensados. Este traço profundamente maniqueísta, típico das histórias infantis, encontrou na cultura árabe (mais uma vez as Mil e Uma Noites) o seu expoente máximo. Curiosamente, apesar de do filme ter sido rodado na Grã-Bretanha e nos Estados Unidos por vários realizadores diferentes. o filme não se ressente particularmente desse facto, apesar das cenas filmadas em território americano terem sido sujeitos a códigos de vestuário femininos mais restritivos. Conrad Veidt, o popular actor alemão que vinha do cinema mudo, está, mais uma vez, magnífico no papel do usurpador do trono. A revelação é o jovem actor indiano Sabu Dastagir que posteriormente teria uma carreira bem sucedida em Hollywood, tendo também participado em Black Narcissus igualmente de Michael Powell e de Emeric Pressburger.
Não é uma obra totalmente assinado por Michael Powell. Foge bastante ao universo habitual dos seus filmes, embora a forma multifacetada como filma, inviabiliza que se possa falar, num estilo Powell e Pressburger. Mas é um filme delicioso e refrescante. Provavelmente como hoje já não se fazem."
* Texto de Jorge Saraiva
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