Com O Sinal do Pagão (Sign of the Pagan), Douglas Sirk resolve fazer uma incursão numa nova área: o filme histórico de cariz épico baseado no antigo Império Romano. Não sei se esta opção se deve à vontade deliberada do cineasta, ou se apenas à necessidade de cumprir contratos. Nicholas Ray, por exemplo, assinou muitos filmes que ele próprio considerou menores, porque nem sempre um cineasta tinha autonomia para fazer o que quisesse.
Sign of the Pagan adapta uma história de Oscar Rodney e passa-se no século V, numa altura em que o Império Romano estava dividido entre Ocidente (sediado em Roma) e Oriente (em Constantinopla). Aborda os sinais crescentes de desunião com Theodosius no Oriente a querer uma autonomia cada vez maior face a Valentinianus, o imperador romano. Embora unidos pela mesma fé cristã, declarada religião oficial no século anterior por Constantino, a desunião vai crescer. Essa fractura vai ser aproveitada por Atila o poderoso rei dos Hunos que procura unir os diversos povos bárbaros para poderem marchar contra Roma, em primeiro lugar e, em seguida, para Constantinopla. Um dos poucos pontos interessantes do filme é a caracterização da figura de Atila, aqui desempenhada por Jack Palance. Ao contrário das visões mais reducionistas da História, Atila surge como um homem inteligente, capaz de fazer compromissos quando acha que os mesmos são necessários para alcançar os seus objectivos. Claro que impera nele um tremendo desejo de vingança, pelo que ele e o seu povo sofreram às mãos do Império Romano, mas embora bastante supersticioso, procura evitar que a guerra contra Roma se transforme num conflito religioso. Em contrapartida, aquela que deveria ser a personagem principal do filme, Martianus, desempenhada pelo actor Jeff Chandler, é apagada e previsível e a performance do actor também não ajuda. Descontando as inúmera imprecisões históricas (por exemplo Martianus que chegou a imperador do Oriente foi um isolacionista, ao contrário do que surge no argumento onde se afirma como um paladino da defesa e unidade do império romano), o argumento é, na generalidade , fraco e demasiado previsível, o que não deixa de surpreender em Sirk, que nos habituou a lidar com histórias bastante mais complexas e com personagens cujas interacções se propiciam a variadas interpretações. Aqui, exceptuando a figura de Atila, tudo o mais é de um simplismo que chega a roçar o confrangedor, incluindo uma aparição do papa Leão e a conversão de filha de Atila que parece tão forçada, que é pouco credível. Por outro lado, se a realização de Sirk é segura, sem erros e com uma boa utilização da cor, o baixo orçamento cria uma ideia de pobreza de meios que se torna desconfortável, quando comparada com outras grandes sagas históricas com Quo Vadis, Ben-Hur ou Cleópatra, isto para apenas nos situarmos apenas no período romano. Sirk tenta contornar a situação filmando muito em interiores e em locais isolados e durante a noite, procurando retirar o tom épico que estes filmes normalmente têm e que são o grande chamariz para o público. Mas quando se vê forçado a filmar a batalha final que opõe romanos e hunos, o resultado é quase indigente. Uma cena rotineira e quase sem arrebatamento. Decididamente, os filmes épicos não seriam propriamente o campo onde Sirk melhor se expressava.
Pelo que acima ficou escrito, Sign of the Pagan não é um filme particularmente entusiasmante. Disputa com Taga, Son of Cochise, o pouco honroso galardão de ser o pior de todo este ciclo. Curiosamente duas obras atípicas, uma sobre o Império Romano e outra sobre índios americanos. Mas não é caso para desesperar. O melhor de Sirk seria feito nos últimos 5 anos da sua carreira.
* Texto de Jorge Saraiva.
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