"Ao contrário das habituais cinebiografias ficcionais (uma das mais famosas, Sede de Viver, sobre Van Gogh, tendo sido produzida no mesmo ano) ou dos filmes documentais, sobretudo curtas-metragens que se detém sobre as obras de arte acabadas de grandes artistas, o filme de Clouzot se propõe a mostrar o artista em atividade. Nesse sentido, compõe as sequências iniciais do filme com gravuras realizadas em tempo real ou próximo do real e, posteriormente, através do recurso da montagem procura ilustrar o que Picasso descrevera como sua técnica de justaposição de cores e desenhos. O sentido de utilizar uma colagem das alterações efetivadas no quadro se faz a partir da própria reclamação de Picasso de que as obras desenhadas em tempo real são bastante superficiais. Pode-se perceber nitidamente a diferença quando contrapostas com a primeira obra que deixa para lado a preocupação com a filmagem em tempo real. Ao final, o realizador expressa sua preocupação de que o espectador poderá acreditar que foi produto de 10 minutos e o próprio Picasso afirma que foi de 5 horas de trabalho. Embora as obras apresentadas a partir dessa opção sejam via de regra mais bem acabadas, Picasso demonstra desgosto com os rumos que a sobreposição de gravuras e cores que efetuou em um dos quadros. O aspecto de improviso e espontaneidade é visivelmente enganoso, o que deixa a indagação do quanto o “erro” provocado no quadro que desgostou o pintor não serviria apenas para exemplificar o seu próprio processo de produção. Trata-se de uma produção indicada sobretudo aos aficcionados incondicionais do mundo das artes, no sentido de que Clouzot não introduz seu documentário com nada que diga respeito especificamente a Picasso ou sua arte e tampouco o entrevista. No máximo, existe o evidentemente ensaiado contato de Clouzot com seu “ator” no ateliê do mesmo, procurando controlar o tempo de realização da pintura com o tempo de filme restante no chassi da câmera, etc. Sua estrutura é basicamente composta das imagens do pintor e da trilha sonora triunfante de Auric, um dos mais tradicionais do cinema francês de então. O filme foi tema de um artigo de André Bazin." Cid Vasconcelos, daqui.
Em 1956 ganhou o prémio do Juri no festival de Cannes, e voltaria a ser exibido, fora de competição, neste ano de 1982.
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