"Produto notável de mais de cinco anos de filmagens intermitentes e de montagem pós-produção, "Eraserhead" foi a primeira longa-metragem de Lynch, depois de várias curtas prometedoras mas raramente vistas. Uma popular "fita de meia noite" e um filme de culto, este "sonho de coisas sombrias e perturbadoras", segundo a descrição do próprio Lynch, assegurou ao cineasta uma base de admiradores apaixonados e antecipou as extraordinárias imagens de "O Homem Elefante" (1980), "Dune" (1984) e "Coração Selvagem" (1990), bom como as bizarras narrativas distorcidas de "Twin Peaks", "Estrada Perdida" e "Mulholland Drive" (2001).
Com a sua intriga estranha, cenário de desolação pós-industrial e imagística a preto e branco, que parece extraída do subconsciente de um neurótico introvertido, "No Céu Tudo é Perfeito" atraiu comparações com as mises en scène expressionistas de "O Gabinete do Dr. Caligari" (1919) a decadência urbana futurista de "Metrópolis" (1926) e a paisagem de sonho absurda / surrealista de "Un Chien Andalou" (1929) - e todas elas com alguma justificação, embora muitos comentadores comecem as suas discussões acerca desta obra, notando que a pergunta "Sobre o que é este filme?" é mal colocada, senão irrelevante, tratam tipicamente de argumentar que, mesmo com as suas idiossincracias, é um filme de narrativa com diálogo, um protagonista, e uma linha de história mais ou menos linear.
O último argumento não é fácil de provar pelo resumo de uma intriga convencional. "No Céu Tudo é Perfeito" abre com um homem de aspecto estranho (Jack Fish) puxando alavancas nas profundidades dum planeta, enquanto para fora da boca do nosso flutuante "herói", Henry Spencer (Jack Nance), surge uma criatura tipo verme, talvez a simbolizar concepção e nascimento. Ao chegar ao seu esquálido bloco de apartamentos, localizado no centro de uma erma paisagem urbana, um vizinho informa-o que a sua namorada Mary o quer para jantar em casa dos seus pais. Durante uma refeição, entre outros pratos, há uma galinha-miniatura que deita sangue e mexe as pernas para cima e para baixo quando ele lhe espeta um garfo. Henry fica a saber que é pai de um bebé permaturo ainda internado no hospital. Mary vai lá com Henry, mas vem-se embora pouco depois, quando o choro constante do bebé defeituoso e aparentemente quadriplégico a mantêm acordada toda a noite.
O bebé, que parece um cruzamento de um réptil com um feto de vitelo, torna-se cada vez mais repulsivo e flagelado pela doença. Depois de fantasiar sobre uma mulher loura (Laurel Near), com bochechas de esquilo, que canta num palco e pisa vermes umbilicais dentro do seu radiador, e passando uma noite com a sua sedutora vizinha (Judith Anna Roberts), Henry imagina a sua própria cabeça a saltar - para ser substituída pela do filho - e de seguida levada para uma fábrica onde será convertida em borrachas para pontas de lápis.
Nenhum simples resumo da intriga, por mais exacto que seja, pode lograr transmitir o tom deste filme único e desafiante. A sensação de mal-estar, até de horror, que resultam de o ver e que continuam a aumentar de intensidade a cada novo visionamento são simplesmente inesquecíveis." Texto de SjS
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