"Este filme tem sido demasiadas vezes apoucado, como sendo como sendo o melhor dos três filmes protagonizados por James Dean durante a sua vida tragicamente curta. Na verdade, "Fúria de Viver" ainda é de longe o melhor filmes dos anos cinquenta sobre o então novo fenómeno da delinquência juvenil. É também uma obra findamental de Nicholas Ray, um realizador talentosíssimo e original, que infelizmente, continua a ser tão subestimado como trabalhava em Hollywood.
"Vocês estão a dar cabo de mim", grita Jim Stark (James Dean) para os pais que estão a discutir, dando voz à angustia e alienação sentidas por tantos protagonistas de Ray. O realizador já vinha abordando o problema da solidão dos marginalizados da América desde o seu primeiro filme "Os Filhos da Noite" (1949), mostrando-se particularmente compreensivo com os jovens vulneráveis que se voltam para uma geração mais velha, nem mais sábia nem mais feliz, à procura de orientação. Jim sente-se incompreendido pela família, pelos professores, pelos policiais e pela maioria dos seus coetâneos. A constante busca de emoções fortes é tão irresponsável (embora menos condenável, tendo conta a idade) como a recusa dos adultos a confrontarem-se com dilemas morais, juntamente com outras almas perdidas, Judy (Natalie Wood) e Plato (Sal Mineo), Jim tenta estabelecer a sua própria família alternativa, baseada na compreensão mútua. Não admira, pois, que o trio, aproximado pela morte absurda e desnecessária de um amigo que o tédio leva a testar a bravura no alto de uma falésia "brincando às galinhas" e unido por noções idealistas de "sinceridade", viva numa bela mansão em ruínas, nas colinas de Los Angeles, bem longe das outras pessoas.
A resposta de Ray à questão de como retratar o idealismo romântico dos seus jovens sonhadores é admirável e deliciosamente física. Inicialmente pressupunha-se que o filme seria a preto-e-branco, mas Ray convence a Warner a deixá-lo rodar a cor. Os tons muitas vezes expressionistas e as composições tipicamente carregadas Cinemascope evocam a natureza febril da adolescência. Ray utiliza a arquitetura e o cenário, em particular a diferença entre o espaço público e privado, para aumentar a nossa compreensão das emoções das personagens. A escuridão dentro de um planetário transforma-se num espaço para estar entre amigos, onde buscar refúgio, sonhar e até contemplar o lugar do indivíduo no cosmos. Mais tarde, o terraço cá fora é transformado, por uma posição elevadíssima da câmara, numa arena iluminada pelo sol onde uma luta à faca estilo tourada é encenada com gestos apropriadamente histriónicos. Ray sabe que, sobretudo quando jovens, encaramos a nossa vida como um drama. O seu impecável sentido de cor, composição, montagem, iluminação e desempenho aumenta a importância da acção.
Um dos motivos porque ele e Dean foram feitos um para o outro não foi apenas o estilo do actor, mas o seu corpo inteiro, que deu vida dramática à agitação interior. Ver o Jim de Dean é ver uma personagem nascer e crescer diante dos nossos olhos. Isto, é claro, condiz com o tema de "Fúria de Viver", mas também complementa a realização de Ray, na medida em que a sua extrema fisicidade exprime a fúria interior.É, pois, lamentável que os projectos em que Ray e Dean planeavam trabalhar juntos nunca se tenham concretizado. Tiveram de se ficar por um grande filme."
Texto de Geoff Andrew para o livro "1001 Filmes para ver antes de morrer".
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