Para vos falar um pouco do que vai ser este ciclo vamos ter de fazer uma viagem no tempo, até meados dos anos 80, inicio da minha cinefilia, e, provavelmente, também da cinefilia de muitos de vós.
Nesta altura não havia internet. Não havia a facilidade de encontrar filmes como encontramos agora. Então como é que fazíamos? Por um lado tínhamos a televisão, com uma programação muito mais decente do que encontramos hoje em dia. Só havia dois canais, mas a variedade era enorme. Como não havia rivalidade entre canais, o serviço público era bastante bom, havendo espaço para o cinema de entretenimento, mais virado para o primeiro canal, e espaço para o cinema de autor, com diversas rubricas na 2 como por exemplo o "Cinco Noites, Cinco Filmes". Havia o cinema nas salas, também elas com espaços muito mais variados do que existem agora. Havia o cin
ema de bairro, o cinema de rua, mas não é disso que iremos falar neste ciclo.
A partir da década de 80 começou a ser comercializado um novo aparelho electrónico, o video gravador. Este aparelho tinha em primeiro lugar uma função, gravar programas da televisão. Programas esses que depois poderiam ser reproduzidos mais tarde, e quantas vezes quiséssemos. Depois descobriu-se um novo potencial para o aparelho, o aluguer de videocassetes, os objectos onde ficavam gravados os programas. Desta forma, era possível para as pessoas verem os filmes estreados recentemente na sua própria casa, mediante o pagamento de um aluguer que era inferior a um bilhete de cinema.
De certa forma o mercado videográfico português acabou por assemelhar-se ao do cinema, com a concentração de empresas e representações das grandes companhias americanas (as majors), e o afastamento para a periferia de empresas que não conseguiam ter grande poder negocial, para conseguir vencer no mercado internacional.
O mercado videográfico evoluiu rapidamente, em 1988 havia cerca de 2000 filmes no mercado de aluguer, seis anos depois esse número já ultrapassava os sete mil, incluindo a adição de um novo filão, a venda directa. Os filmes que se podiam encontrar eram sobretudo as obras mais comerciais, e o cinema clássico americano. O cinema de autor era bastante raro. Em 1993 podiam ser encontrados apenas três filmes de Ingmar Bergman, um de Truffaut, cinco de Godard, seis de Kurosawa, três de Pasolini, dois de Resnais, com bastantes autores a não terem sequer presença no mercado nacional. Para falar a verdade, quem frequentava um clube de vídeo, pelo menos naquele tempo, não procurava filmes que o fizessem pensar muito, mas sim objectos de fácil entretenimento.
Este ciclo tem o objectivo de querer fazer recordar esses tempos do aluguer das VHS, as videocassetes. Entrar naquele estabelecimento, e deparar-nos com diversas prateleiras, com dezenas e dezenas de filmes. O momento de escolher o filme para ver não era fácil. De um lado tínhamos a prateleira das novidades, que estavam quase sempre vazias, já que eram sempre os mais procurados. Os restantes filmes estavam divididos por secções. Acção e Aventura, Comédia, Drama, Terror, Policial, e até os Pornográficos, que se encontravam sempre com a capa ao contrário. Era um pouco vergonhoso pesquisar esta última secção, principalmente se estavam mais clientes do Clube do Vídeo na sala, por isso deixávamos para aqueles tempos mortos em que nos encontrávamos sozinhos (pelo menos acontecia isso comigo, já que era um miúdo de 15 anos).
Este vai ser um ciclo longo, terá mais de 100 filmes que serão postados ao longo do mês de Novembro. Como a quantidade é enorme, serão postados 4 a 5 filmes por dia, em posts menores do que é habitual. Não iremos ter aqui os grandes êxitos de bilheteira daquele tempo, nem este ciclo pretende ser um "best of" do que melhor se encontrava no mercado videográfico. Vai ser apenas uma selecção pessoal, feita por mim, com um pouco de tudo, principalmente pérolas perdidas no tempo.
Este ciclo será dividido por capítulos. Cada capítulo será dedicado a um género (Acção e Aventura, Drama, Comédia, etc), e terá de 7 a 15 filmes. Como estamos na altura do Halloween, o primeiro capítulo será dedicado ao cinema de terror, já a partir de amanhã.
Por agora é tudo, espero que seja do vosso agrado. Até já.
2 comentários:
Bons tempos aqueles, em que se ia ao Clube de Vídeo alugar os filmes para os serões de cinema em casa com amigos ou família; foi uma pena ter acabado e provavelmente não voltarão a existir devido à fraca cultura cinematográfica em Portugal, e ao facto de já não ser possível como nas décadas de 1980/1990, ter dinheiro para alugar uma cassete vhs.
P.S.: Podia escrever no seu blog uma publicação sobre o tempo dos clubes de vídeo, seria interessante para dar a conhecer o conceito e a época em que surgiram em Portugal.
No Brasil ainda é possível encontrar os clubes de vídeo, que lá são chamados de locadoras.
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