segunda-feira, 12 de janeiro de 2015

Anjo Preverso (Manon) 1949



Uma adaptação da clássica obra de Abbe Prevost, chamada  "Manon Lescaut", transportada para o pós guerra Francês da segunda guerra mundial, na qual um ex-activista da resistência francesa resgata Manon dos camponeses por a quererem linchar por colaborar com os Nazis. Os dois mudam-se para Paris, mas a sua relação fica tensa depois de se envolverem em especulações, prostituição e assassinatos.
Talvez a coisa que melhor caracteriza o cinema de Henri-Georges Clouzot seja uma preocupação mórbida com a susceptibilidade da natureza humana. Isto é mais aparente nos primeiros filmes de Clouzot, "L'Assassin Habite au 21" (1942), e "Le Corbeau" (1943), onde é mais subtilmente sentido que nos filmes do pós- Segunda Guerra Mundial. A infâmia e a injustiça de ser expulso depois de fazer filmes como "Le Corbeau", foi considerada imoral e ofensiva para o realizador, influenciando a sua escolha do assunto e do estilo nos filmes posteriores. E isso não podia ter sido mais flagrante do que aqui, na adaptação da história de Manon Lescaut, inspirada no livro de Prevost.
Sem grande esforço transportado para os anos que se seguiram à Libertação da França, "Manon" não só é uma poderosa história de amor, como também era um dos mais fortes e chocantes indicadores de como era a vida depois da Segunda grande guerra, depois da ocupação Nazi. Enquanto que a maioria dos realizadores daquele período tentavam apenas entreter, com melodramas escapistas ou comédias ligeiras, Clouzot era o único a remar contra a maré, tentando abrir os olhos às pessoas para a decadência que estava lentamente a cair sobre o país. A França que era retratada em "Manon" não era a França prometida pelo General de Gaule, uma terra orgulhosa renascida das cinzas, mas sim uma França suja, habitada por novos ricos que se tinham enchido de dinheiro graças ao mercado negro e à exploração do negócio da prostituição. O filme provocou assim grande controvérsia, tanto por causa da sexualidade evidente como por mostrar o que era realmente o país nos dias correntes, com conseguiu grande aclamação internacional, tendo ganho o Leão de Ouro no Festival de Veneza.
Hoje em dia é menos conhecido do que outros grandes filmes de Clouzot, mas merece ser considerado uma das suas melhores obras, não só pela sua representação muito real do que era a França da altura, mas também pela sua humanidade, inteligência e brilhantismo artístico. 

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