domingo, 25 de janeiro de 2015

Angels of the Universe (Englar Alheimsins) 2000



Páll é um jovem e sensível artista. Depois de ser abandonado pela namorada, Dagny, desencadeia uma enorme descida para a loucura. Seguimo-lo na inevitável descida para a perdição: primeiro em casa com os pais, até ao momento em que não conseguem mais lidar com ele, e depois numa instituição mental.

"Sendo comummente apelidado como a versão islandesa do célebre One Flew Over the Cuckoo’s Nest, este filme de 2000 surpreendeu-me muito. Em primeiro lugar, o desempenho dos actores é digno de ser relembrado, especialmente no que concerne ao homem que interpreta o papel principal, Ingvar E. Sigurðsson. As suas expressões foram muito bem trabalhadas e construídas, assim como os maneirismos retratados, em tudo típicos de um doente esquizofrénico. O olhar deste actor, perdido no vácuo, bem como a sua expressão violenta e, por vezes, alheia à realidade, esteve sempre muito presente em todas as cenas.
O que mais me fascinou neste filme, para além da história, foi a dinâmica e o impacto espelhado nos diálogos. Inicialmente somos confrontados com uma personagem feliz, apaixonada e capaz de fazer tudo pela pessoa amada. Todas as suas palavras são poesia, os elementos da natureza utilizados como belas metáforas, possibilidades inimagináveis, a vida toda à frente do seu sorriso. Após a separação, e já no contexto da doença mental de Páll, surgem as reflexões mais profundas, acompanhadas sempre pelo cigarro (elemento, a meu ver, demasiado presente em todas as cenas. Poucos foram os momentos em que não se viu esse objecto fumegante suspenso nos dedos dos actores).
Existem pérolas magníficas, que deixam o espectador a pensar e a reflectir. Exemplo disso é o diálogo entre Páll e Óli, travado no corredor do hospital psiquiátrico:
Páll: When I was a boy, the patients went around in uniforms that looked like canvas bags.Óli: They changed that ages ago. The policy now is to make hospitals look as much like ordinary homes as possible.Páll: Why do you think that is?Óli: Because ordinary homes have become so much like hospitals.
Quanto à banda sonora (o motivo, aliás, que me fez ver este filme), é, na minha opinião, bastante boa. Quase etérea, com alguns laivos de uma loucura contida, proporciona a envolvência necessária para que o espectador viva todas as cenas da melhor forma possível. Correndo o risco de ser um pouco parcial neste aspecto, o tema final – “Bíum Bíum Bambaló” - é lindíssimo, sendo da autoria da banda Sigur Rós.
Englar Alheimsins tornou-se num filme especial para mim devido à sua capacidade de me fazer pensar e reflectir em vários assuntos, nomeadamente numa questão que há muito me fascina. Depois de o ver, penso que é inevitável que o espectador se questione acerca da dicotomia entre a realidade e o sonho, a lucidez e a loucura, a doença e a sanidade mental. Até que ponto podemos nós afirmar que a sociedade na qual estamos inseridos é uma sociedade sã, dita normal e cujos padrões devem ser seguidos? Como podemos afirmar que esta sociedade é “normal” quando vemos pessoas a roubar, maltratar e atacar pessoas? Não serão esses indivíduos ditos loucos? Como podemos afirmar que esta sociedade é normal quando assistimos a violência gratuita, ataques terroristas? Afinal de contas, o que separa estes dois conceitos tantas vezes tão próximos, sanidade e insanidade? Será que existe uma barreira que é destruída em algum momento da vida de um homem e que o faz ser um louco, um doente mental?
É pelo olhar atento e algo desiludido de um homem perdido que assistimos a todas estas questões. Porque, afinal de contas, o que é ser louco? O que é ser doido? O que são doentes mentais?
A personagem principal responde: são anjos. Anjos do Universo.
E é nessa resposta que se encontra a beleza deste filme."
Texto tirado daqui 
Legendas em inglês.

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