Páll é um jovem e sensível artista. Depois de ser abandonado pela namorada, Dagny, desencadeia uma enorme descida para a loucura. Seguimo-lo na inevitável descida para a perdição: primeiro em casa com os pais, até ao momento em que não conseguem mais lidar com ele, e depois numa instituição mental.
"Sendo comummente apelidado como a versão islandesa do célebre One Flew Over the Cuckoo’s Nest,
este filme de 2000 surpreendeu-me muito. Em primeiro lugar, o
desempenho dos actores é digno de ser relembrado, especialmente no que
concerne ao homem que interpreta o papel principal, Ingvar E.
Sigurðsson. As suas expressões foram muito bem trabalhadas e
construídas, assim como os maneirismos retratados, em tudo típicos de um
doente esquizofrénico. O olhar deste actor, perdido no vácuo, bem como a
sua expressão violenta e, por vezes, alheia à realidade, esteve sempre
muito presente em todas as cenas.
O que mais me fascinou neste filme, para
além da história, foi a dinâmica e o impacto espelhado nos diálogos.
Inicialmente somos confrontados com uma personagem feliz, apaixonada e
capaz de fazer tudo pela pessoa amada. Todas as suas palavras são
poesia, os elementos da natureza utilizados como belas metáforas,
possibilidades inimagináveis, a vida toda à frente do seu sorriso. Após a
separação, e já no contexto da doença mental de Páll, surgem as
reflexões mais profundas, acompanhadas sempre pelo cigarro (elemento, a
meu ver, demasiado presente em todas as cenas. Poucos foram os momentos
em que não se viu esse objecto fumegante suspenso nos dedos dos
actores).
Existem pérolas magníficas, que deixam o
espectador a pensar e a reflectir. Exemplo disso é o diálogo entre Páll
e Óli, travado no corredor do hospital psiquiátrico:
Páll: When I was a boy, the patients went around in uniforms that looked like canvas bags.Óli: They changed that ages ago. The policy now is to make hospitals look as much like ordinary homes as possible.Páll: Why do you think that is?Óli: Because ordinary homes have become so much like hospitals.
Quanto à banda sonora (o motivo, aliás,
que me fez ver este filme), é, na minha opinião, bastante boa. Quase
etérea, com alguns laivos de uma loucura contida, proporciona a
envolvência necessária para que o espectador viva todas as cenas da
melhor forma possível. Correndo o risco de ser um pouco parcial neste
aspecto, o tema final – “Bíum Bíum Bambaló” - é lindíssimo, sendo da autoria da banda Sigur Rós.
Englar Alheimsins tornou-se num
filme especial para mim devido à sua capacidade de me fazer pensar e
reflectir em vários assuntos, nomeadamente numa questão que há muito me
fascina. Depois de o ver, penso que é inevitável que o espectador se
questione acerca da dicotomia entre a realidade e o sonho, a lucidez e a
loucura, a doença e a sanidade mental. Até que ponto podemos nós
afirmar que a sociedade na qual estamos inseridos é uma sociedade sã,
dita normal e cujos padrões devem ser seguidos? Como podemos afirmar que
esta sociedade é “normal” quando vemos pessoas a roubar, maltratar e
atacar pessoas? Não serão esses indivíduos ditos loucos? Como podemos
afirmar que esta sociedade é normal quando assistimos a violência
gratuita, ataques terroristas? Afinal de contas, o que separa estes dois
conceitos tantas vezes tão próximos, sanidade e insanidade? Será que
existe uma barreira que é destruída em algum momento da vida de um homem
e que o faz ser um louco, um doente mental?
É pelo olhar atento e algo desiludido de
um homem perdido que assistimos a todas estas questões. Porque, afinal
de contas, o que é ser louco? O que é ser doido? O que são doentes
mentais?
A personagem principal responde: são anjos. Anjos do Universo.
E é nessa resposta que se encontra a beleza deste filme."
E é nessa resposta que se encontra a beleza deste filme."
Texto tirado daqui
Legendas em inglês.
Sem comentários:
Enviar um comentário