Uma família de três gerações é soberbamente interpretada por não profissionais que discutem, fazem amor, e gostam da música de Léo Ferré. A esposa (Sandrine Battistella) age como se fosse prisioneira na sua própria casa, enquanto o marido (Pierre Oudrey) vive aprisionado ao trabalho. O filho e a filha questionam o crescimento num país onde o governo é hostil em relação aos trabalhadores, com a filha principalmente interessada em perguntar à mãe sobre questões sexuais. Godard aparece como ele próprio, um intelectual questionador que traça paralelos assustadores entre as paisagens e as fábricas.
De uma forma provocativa e segura, Godard questiona a realidade social dos tempos, e a forma como é vista por aqueles que sofrem as mais severas mudanças. Não chega a conclusões definitivas, mas abre uma porta para mais pensamentos sobre um mundo estranho, aceite pela maioria só porque é inacreditável.
"Numéro Deux" marca a colaboração bem sucedida formada por Anne-Marie Miéville e Jean-Luc Godard. É um filme experimental examinando os efeitos do homem contra a máquina, e de uma família da classe trabalhadora francesa composta por pais, filhos e avós. O seu formato invulgar projecta na tela da TV imagens de diferentes proporções, e ecrãs divididos, que são sobrepostas numa imagem de 35 mm depois de ser filmado em vídeo. O argumento de Godard contra as crenças tradicionais, a ética do trabalho, alienação, e a sua posição abertamente controversa sobre o comportamento erótico, contrariando os defensores tradicionais dos valores familiares, empurra as suas fronteiras sexuais e a sua visão radical de que os tempos económicos difíceis aumentam a possibilidade de mais autoconsciência entre as massas.
Apesar da natureza vanguardista do filme, é surpreendentemente lúcido, e um dos melhores e mais subversivos deste notável realizador.
Filme escolhido pelo Fernando Oriente.
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