O “ninja” é um guerreiro medieval japonês encarregue de matar samurais. Enquanto que o samurai se orienta por um complexo e vinculativo código de ética, os ninjas eram carteiros, peixeiros, pescadores, correctores da bolsa, amoladores de tesouras, decoradores de interiores, etc que se dedicavam a matar sem escrúpulos, escondidos pelo negrume da noite. Ora, nos anos 80 Menahem Golan terá lido meia página na diagonal de um livro de História e decidiu fazer um filme de ninjas. Não o normal ninja japonês, muito desinteressante. Golan criou um ninja mágico, místico, indestrutível, demoníaco, metafísico… Esse filme, Enter the Ninja (1981) haveria de moldar a imagem do ninja na moderna cultura popular, criando um símbolo de guerreiro perfeito, invisível e imbatível. Os que vestem de preto e branco, porque os vermelhos e amarelos são o equivalente às camisolas vermelhas do Star Trek. Só lá estão para fazer “blarghhhh” depois de 3 segundos de tempo de ecrã.
Enter the Ninja, protagonizado por um um improvável Franco Nero, seria o primeiro de uma trilogia. Uma trilogia conceptual, sem continuidade. Ligada apenas pelos tais ninjas pós-modernos, metafísicos, sobrenaturais. O segundo seria Revenge of the Ninja e terminaria com o melhor filme de ninjas de todos os tempos, Ninja III: The Domination. A Golan / Globus, pelas mãos de Sam Firstenberg, criava aqui um híbrido que para sempre ira mudar o cinema de série B, um fenomenal crossover protagonizado por uma senhora ninja que seria um misto de ninjas, flashdance e Exorcist. Demónios possuem uma atraente noviça para a tornar na mais perfeita máquina de matar… e amar! O elemento mais importante desta renascer do ninja moderno foi Sho Kosugi, mestre ninja que interpreta praticamente todos os papeis de ninja. Seja como protagonista ou duplo de cara tapada.
Depois disso a Golan/Globus misturou mais uma vez os elementos no seu shacker cinematográfico em em 1985 criou American Ninja, o primeiro de 5 filmes que retratava as desventuras de ninjas militarizados, motas, perseguições, guerra, perseguições, lança granadas, decapitações, todo um manancial de carnificina. Sucesso absoluto. E eram estes os nossos ninjas, aqueles pelos quais nos apaixonámos.
O efeito secundário e abundantemente nefasto desta gloriosa vaga foram os clones. De repente os clubes de vídeo viram-se invadidos de filmes de ninja de qualidade nula. Alguns eram até filmes relançados com novas cenas de ninjas. Imaginem um drama familiar que não foi lançado ou teve pouco sucesso aquando da estreia. Sem problemas, tudo se revolve! Rodam-se 20 minutos de cenas de ninja no meio de uma mata, com fumos, saltos mortais, shurikens no pescoço, sangue a esguichar e intercalam-se com o filme. Afinal o casal separou-se porque o marido era dark ninja e morreu numa mata perto de casa, não ficou desempregado por ter errado como vendedor de seguros nem se atirou para baixo de um comboio. Mesmo que more em Manhattan e a mata seja do outro lado da estrada. E o marido original seja um sueco de 1,72m de cabelos louros pelos ombros e a sua versão ninja seja um oriental careca de 1,52m.
Filme após filme, lá se ia empilhando a nossa angústia. Cheguei a alugar três num fim de semana. Mesmo sabendo que eram merdosos, havia sempre aquela ínfima esperança de que o acaso se tivesse encarregue de criar um bom filme, por mestria do realizador ou pelo aglomerado de improbabilidades estatísticas. Ou pelo menos um que não fosse horrível. Foram tempos miseráveis, meus amigos. Até que aos poucos fomos desistindo, e os filmes deixaram de ser distribuídos.
* Texto por Pedro Cinemaxunga, daqui.
Enter the Ninja (1981)
Revenge of the Ninja (1983)
Ninja III: the Domination (1984)
Sem comentários:
Enviar um comentário