Um rapaz em Lisboa, nesta Lisboa em obras. As paragens de autocarro, as entrevistas para emprego, os cafés sujos, o metro de uma noite, os centros comerciais de bairro, as lojas de fotocópias, os arrumadores de automóveis, os hospitais, um encontro à chuva, as creches onde se colocam os filhos, a dura ressaca, o Corte Inglês, as cervejarias onde se mata o tempo.
"Em 1995 foi um espectáculo estreado nos Encontros ACARTE que fez história no Teatro Português. Cinco anos volvidos, o filme abre, também ele, novas portas para o cinema português. Imersão no quotidiano, crónica deste tempo de uma certa gente jovem, pobre gente que sem rumo sobrevive e que o filme olha com energia e desencanto, escrito em diálogos rápidos que decantam um linguarejar quotidiano, filmado em elaborados planos-sequência que esmeram o virtuosismo do conjunto, "António, Um Rapaz de Lisboa" é obra a colocar, finalmente, Jorge Silva Melo no quadro dianteiro da cinematografia europeia. Vale a pena notar a excelência e a diversidade de registo dos actores, magicamente coesos - com Lia Gama em destaque, se é permitido dar tribuna a alguém no seio de um elenco tão vasto e onde se encontram praticamente todos os jovens actores que valem a pena nestes dias (e alguns outros, de diversas gerações e tocados pela excelência, como Glicínia Quartin, Maria João Abreu, Teresa Roby, ou Carlos Gonçalves). Vale a pena aplaudir o complicadíssimo trabalho de câmara - Rui Poças é o responsável. Vale a pena constatar o imenso calor humano que exala desta fita e a paleta de emoções que produz. Há momentos de puro êxtase - o doravante célebre plano de Sylvie Rocha na montra, com chuva e Donizzetti. "António, Um Rapaz de Lisboa" é um acontecimento cinematográfico maior a fechar os anos 90." Texto do Expresso, 19-01-2002
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