Foi ainda no início deste blog que eu fiz um ciclo chamado "Policiais dos anos 80". Foi um ciclo que me deu bastante prazer a fazer, e pelo qual deu para perceber o "boom" do cinema policial nesta década, acompanhando igualmente a explosão do periodo do VHS. Se houve um género que os video clubes ajudaram a desenvolver foram os policiais. Muitos deles não tiveram a devida divulgação nas salas, com passagens despercebidas, enquanto outros se tornaram autênticos sucessos, como "Beverly Hills Cop" ou "48 Hours". Se seguirem este capítulo aconselho também a seguirem o ciclo dos "Policiais dos anos 80", caso não o tenham feito já.
A Máfia em Paris (Détective) 1985
Dois detectives investigam acontecimentos estranhos num hotel em Paris, enquanto um pugilista se prepara para um importante combate. Ao mesmo tempo entra em cena um casal que quer ajustar contas com o empresário do pugilista, e alguns malandrins, que tentam reaver dinheiro que lhes é devido.
Jean-Luc Godard no território do policial, puro e duro. Aqueles não familiarizados com as histórias de Godard. o uso intrusivo de música clássica, certamente que encontrarão neste filme uma experiência perturbadora. Mas os fãs de longa data do realizador facilmente reconhecerão aqui algumas obsessões familiares: a dificuldade em determinar a "verdade" de qualquer coisa, os constantes mal-entendidos entre os homens e as mulheres, o caos da vida urbana, e o impacto dos mídia em tudo, desde o desporto até ao sexo. O filme pode ser considerado como um tributo ao film noir. Os homenageados no grande ecrã são John Cassavetes, Edgar G. Ulmer, e Clint Eastwood.
Contavam-se pelos dedos de uma mão os filmes de Godard disponíveis em VHS. Para além deste, só havia mais 4: "Atenção à Direita", "O Desprezo", "Eu Vos Saúdo, Maria" e "Pedro, o Louco". Dois clássicos, e três contemporâneos, era tudo o que havia do realizador.
Morto à Chegada (D.O.A.) 1988
Um professor universitário e escritor (Dennis Quaid) chega, já envenenado, a uma esquadra da polícia, mas ainda ajuda a descobrir quem o envenenou. O título do filme, "D.O.A.", significa "dead on arrival", mas convém esperar para ver se o herói acaba mesmo morto no fim. Para descobrir o assassino o protagonista vai contar com a ajuda de uma aluna, interpretada por Meg Ryan.
Estreia na realização de uma dupla de realizadores, Annabel Jankel e Rocky Morton, que só fariam mais um filme na carreira, o terrível "Super Mario Bros.". Aqui fazem um remake de um famoso noir dos anos cinquenta, realizado por Rudolph Maté. Os dois realizadores criaram a personagem de Max Headroom em 1984, e estavam destinados a ser uma dupla de sucesso, mas o fracasso de "Super Mario Bros" parece ter condenado a sua carreira. É essencialmente um filme de perseguição, com um ritmo rápido e algumas boas interpretações. Meg Ryan aparece aqui em inicio de carreira, pela segunda vez contracenando com Dennis Quaid, com quem tinha inciado uma relação durante as rodagens de "Innerspace".
O filme também tinha um bom elenco de secundários: Charlotte Rampling, Daniel Stern e Brion James.
Crime em Campo de Cebolas (The Onion Field) 1979
Dois polícias (John Savage e Ted Danson) abordam dois tipos na estrada por causa de um farol no carro onde viajavam. Acabam por ser desarmados e ficam reféns dos dois homens. Um dos policias é morto num campo de cebolas, o outro consegue fugir. Daqui para a frente o filme gira à volta do policia que ficou vivo, e dos dois criminosos que foram logo capturados e agora disputam na justiça o adiamento da sua pena de morte.
Realizado por Harold Becker em inicio de carreira, um realizador que se tornaria especialista no policial e o no thriller, e que teve no seu melhor filme "Sea of Love", com Al Pacino e Ellen Barkin. A história é baseada em factos reais, num livro best seller de Joseph Wambaugh, um homem que era polícia antes de se tornar escritor. Dois anos antes Robert Aldrich tinha feito um filme a partir do seu livro "The Choirboys", que tinha odiado, tal como os críticos. Depois desta experiência estava determinado a não perder o controlo de qualquer outra adaptação sua. Quando surgiu a idéia de adaptarem "The Onion Field", um dos seus livros mais famosos, não só tomou conta do argumento como também investiu dinheiro na sua produção. Queria, sobretudo, mostrar como as coisas realmente tinham acontecido, sem os aditivos de Hollywood, e o resultado é um trabalho extremamente profissional, mas que sofria em comparação com outros policiais dos anos 80 e 90.
James Woods, no papel de um dos criminosos, é o melhor do filme, conquistando uma nomeação para os globos de ouro.
Brigada Anticrime (Sharky´s Machine) 1981
Tom Sharky (Burt Reynolds) é um policia dos narcóticos em Atlanta, que foi rebaixado depois de uma captura mal sucedida. Nas profundezas desta humilde divisão, ao investigar um caso de alta prostituição, Sharky tropeça num assassinato da Máfia com laços governamentais, e responde reunindo a sua equipa de investigadores ("sharky´s machine") para descobrir os cabecilhas dos criminosos e leva-los à justiça, antes que estes matem todos os investigadores e testemunhas, incluindo o próprio Sharky.
Burt Reynolds atrás e à frente das câmaras, no seu filme mais maduro até aos dias de hoje, numa obra bastante fiel ao livro de onde é inspirado, "Born Innocent", escrito por William Diehl. Infelizmente grande parte da rica narrativa do livro foi perdida nas duas horas de duração do filme, mas Reynolds estava mais interessado na caracterização das personagens e nas sequências de acção, e nesse campo trabalhou muito bem. É um filme violento, uma espécie de primo não muito afastado de "Dirty Harry", mas Reynolds contrabalança as sequências de violência com uma pitada de humor.
Tem um grande elenco, que inclui nomes como Vittorio Gassman, Brian Keith, Charles Durning, Henry Silva, Rachel Ward, entre outros.
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