Filme de estreia do russo Andrey Zvyagintsev, ganhou uma mão cheia de prémios no festival de Veneza (entre os quais o Grande Prémio), e bastam cinco minutos de filme para começarmos a perceber porquê. Dois irmãos, um adolescente, Andrey (Garin), e outro mais jovem Ivan (Dobronravov), sobem ao topo de uma espécie de torre abandonada. O céu acima está nublado - tudo no filme está nublado - e os rapazes, junto com alguns amigos, desafiam-se uns aos outros para se atirarem da torre, e mergulharem no mar. Todos o fazem, excepto Ivan, ficando a chorar sozinho no topo da torre até que chega a sua mãe chega para levá-lo para baixo. Mais tarde ele prova o seu valor ao atacar o líder dos jovens, que o chama de cobarde.
A atmosfera é toda cinzenta: as paisagens (o filme é passado algures fora de Moscovo, onde tudo parece decadente), o povo, o pai dos rapazes, que regressa a casa espontaneamente depois de estar inexplicavelmente 12 longos anos fora de casa. O silêncio tem uma voz bem chocante neste filme, e o pai rebelde parece tudo menos uma figura parental (o primeiro jantar com a família vemo-lo a rasgar um frango cozido em pedaços completamente em silêncio). Depois anuncia que vai levar os jovens numa pescaria no dia seguinte, com Ivan a tentar conhecer quem é a sua figura parental, e Andrey a tentar evitar qualquer caminho para a reconciliação. Claro que a pescaria vai correr mal...
As interpretações, principalmente dos dois jovens inexperientes a participarem no seu primeiro filme, são perfeitas, assim como a figura do pai, sem nome, é divina. Zvyagintsev esforça-se para não nos dar respostas fáceis, e o filme acaba numa assombrosa meditação sobre o homem no seu meio natural e selvagem. A idéia não é da história de uma família feliz, mas a representação arrepiante do colapso familiar na era pós-estalinista.
"O Regresso" marcava a chegada de um novo realizador de classe mundial, Andrey Zvyagintsev. É dificil acreditar que este é um filme de estreia, mas este sucesso não apareceu por acaso. Zvyagintsev, nascido na Sibéria, tinha chegado a Moscovo no início dos anos 90, quando a era soviética tinha terminado. Ele tinha o sonho de fazer filmes, mas durante uma década nunca teve dinheiro. Trabalhou como figurante na TV, e foi conhecendo pessoas, e arranjando contactos, até que o argumento deste filme, dos também jovens Aleksandr Novototskiy e Vladimir Moiseenko lhe foram parar ás mãos. Com um pequeníssimo orçamento de 500 mil dólares, o filme correria o mundo em inúmeros festivais, acabando por ganhar vários prémios importantes, como os 5 que venceu em Veneza.
Um trágico acontecimento marcou este filme, quando o jovem Vladimir Garin morreu logo após a produção ter terminado. Estava a brincar na torre vista no início do filme, quando foi encorajado pelos outros a mergulhar. Ele mergulhou, mas não veio ao de cima. O afogamento de Garin acabaria por criar uma aura de culto sobre a produção do filme, e sobre os outros jovens amigos de Garin, que estariam com o realizador no festival de Veneza.
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