Como as obras do início da Nouvelle Vague ou os filmes mudos de Eisenstein, "Morte de um Ciclista" (Muerte de un ciclista) de Juan Antonio Bardem é um filme forjado a partir da convicção teórica e ideológica. Produzido em Espanha debaixo do regime de Franco, onde o cinema se tornou, nas palavras do próprio Bardem, "politicamente ineficaz, socialmente falso, intelectualmente inútil, esteticamente inexistente, e industrialmente partido," "Morte de um Ciclista" foi uma tentativa consciente de infundir o cinema espanhol com nova vida, para mostrar que o cinema podia, ao mesmo tempo, ser nacional e universal.
A inspiração imediata do filme veio do neo-realismo italiano, que cineastas espanhóis como Bardem viam como uma abordagem estética significativa para lidar com o tempo presente e passado. Bardem tentou mesmo trazer o imediatismo, o humanismo e profundidade emocional para o filme que tinha visto em "Ladrões de Bicicletas", de Vittorio De Sica (1948) ou Umberto D. (1952). Ao mesmo tempo, Bardem foi influenciado pelo cinema de Hollywood, particularmente pelo melodrama e suspense, que fundiu com a estética neo-realista neste filme, para produzir uma obra verdadeiramente original que funciona tanto como entretenimento tenso como uma crítica às divisões de classe na sociedade espanhola.
O filme começa numa estrada solitária, onde vemos o ciclista do título a subir uma colina. Este homem anónimo (nunca lhe vemos o rosto) é abalrroado por um carro que está a ser dirigido por María José de Castro (Lucia Bosé) e Juan Fernandez Soler (Alberto Closas). Juan é um professor universitário de baixo nível, e Maria é a mulher de um rico empresário (Otello Toso). Porque eles estão no caminho de volta de um encontro sexual, estão relutantes em ajudar o moribundo, com medo do seu relacionamento ser descoberto. Então, deixam-no abandonado na estrada e voltam para as suas vidas, mas este evento irá assombra-los, especialmente quando um jornalista das colunas sociais chamado Rafa (Carlos Casaravilla) insinua que sabe qualquer coisa. Ele não diz exactamente o que, nem porque, porque deixá-los a adivinhar faz parte da sua tática de poder, que só inflama o medo dos protagonistas de perder tudo.
A nível narrativo, "Morte de um Ciclista" está estruturado de uma forma descendente, em que vemos estes dois membros da classe superior lentamente a descerem aos infernos, com sentimentos como a culpa e o medo a começarem a consumi-los. Há aqui um certo tipo de suspense hitchcockiano, onde estamos constantemente no limite, esperando alguma grande revelação, que desafia os nossos preconceitos morais porque essencialmente nos encontra à espera que o casal adúltero seja acusado de fuga, e de homicídio. Nem Maria nem Juan estão de alguma forma inocentes, embora o atropelamento do ciclista foi, certamente, um acidente não intencional, mas a sua decisão de deixar o pobre homem a morrer na beira da estrada, a fim de protegerem-se é um pecado de proporções assustadoras , um acto verdadeiramente desumano que tentam justificar, mas nunca pode realmente resolver. A veia mais humanista no filme está centrada grande parte em Juan, que se sente pior com a situação, embora ele indiscutívelmente tenha menos a perder. Bardem usa a culpa como uma forma de explorar a classe dividida em Espanha.
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