quinta-feira, 14 de maio de 2015

O Meu Tio (Mon Oncle) 1958



Jacques Tati , o realizador, encarna neste filme a figura de Monsieur Hulot , numa figura terna e cómica que em vários momentos nos recorda Charlot , embora com características ligeiramente diferentes. Monsieur Hulot é um homem simples, sem grandes pretenções , que vive a sua vida, é amigo do seu amigo e de quem encontrar, mas é extremamente trapalhão, e num modo quase infantil, foge das tentativas de "socialização" da sua irmã e do cunhado Monsieur e Madame Arpel ) que procuram torná-lo "responsável" através de uma casamento e de um emprego nas empresas de "tubagem" onde o Monsieur Arpel é responsável.
No meio deles, existe Gerald Arpel , filho de Monsieur e Madame Arpel , um miúdo regila e brincalhão, que contrasta com o ambiente moderno e de design que vê em sua casa, preferindo a companhia simples do seu tio, e a cumplice com os amigos que criou no bairro tradicional de Monsieur Halot .
"Mon Oncle " é um filme de 1958, mas que permanece tremendamente actual nos dias de hoje. Representando um período pós-guerra em França, fala-nos da orientação para ambientes "futuristas", retratando a evolução do design em contraste com os ambientes tradicionais vividos num bairro normal francês. Para além disso, mostra-nos a valorização exacerbada pelas classes média-alta a esses valores, em detrimento de valores de maior proximidade com o outro.
O maior fascínio da obra de Jacques Tati é a linguagem simples sobre assuntos bastantes complexos. Num argumento onde os diálogos são quase inexistentes (aliás, Monsieur Hulot só diz uma única frase durante todo o filme), Tati consegue retratar um ambiente de cinema mudo, onde o riso surge expontaneamente em resposta às acções das personagens, mas consegue também concentrar a nossa atenção para todos os aspectos não verbais, que acabam por servir como metáforas das questões que Tati levanta. Como se costuma referir em alguns livros de guionismo, "se puderes retratar uma ideia, uma emoção ou conceito através das acções das personagens fá-lo, não utilizando diálogos para isso". Tati consegue fazer isso de forma magistral, criando-me curiosidade para descobrir a sua restante obra.
Vencedor do Óscar de Melhor Filme Estrangeiro e do Prémio Especial do Júri em Cannes em 1958, "Mon Oncle" é um filme terno, consciente e extramente inteligente que temos a oportunidade ver (ou rever) novamente na grande tela. Para quem tiver a oportunidade, é uma aposta de que não se arrepende, ideal para quem quer sentir novamente o gosto de uma comédia honesta e actual. Por Nuno Cargaleiro.

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