Em plena ditadura militar, Tião (Carlos Alberto Riccelli) descobre que sua namorada, Maria (Bete Mendes), está esperando um filho e decide se casar com ela. Ambos trabalhavam na mesma fábrica, juntamente com o seu pai Otávio (Gianfrancesco Guarnieri), um militante sindical, outrora foi preso pela ditadura militar, pois lutava pela melhoria dos direitos trabalhistas para a classe.
Porém, todos os trabalhadores sindicais entram em greve no país. Com medo de perder o emprego e não poder sustentar a mulher e o filho, ele fura a greve, contrariando seu pai e sua namorada, que ficam furiosos com a sua decisão.
Gianfrancesco escreveu Eles não usam Black-tie para o Teatro de Arena em 1958, quando tinha apenas 21 anos de idade. Vinte e três anos depois, Hiszman adaptou o roteiro para o cinema, arrebanhando importantes prêmios nacionais e internacionais, inclusive o Leão de Ouro do Festival de Veneza, em 1981.
O filme foi um marco no cinema político neo-realista nacional. Hiszman gostava de abordar temas relativos à pobreza, que retratavam a realidade do Brasil. O elenco monstruoso é composto por Carlos Alberto Riccelli, Bete Mendes, o próprio Gianfrancesco Guarnieri, a grande Fernanda Montenegro, que é destaque no filme da primeira cena em que aparece até a última, Milton Gonçalves, Francisco Milani, dentre outros.
O filme não se refere apenas à realidade do país na época. Fala do posicionamento de cada um referente às dificuldades da vida. Há aqueles que cruzam os braços e se conformam com as dificuldades impostas pelos mais altos da cadeia e aqueles que lutam pelos seus direitos de melhoria, pela sua liberdade.
As cenas do filme, como as últimas em que Fernanda Montenegro e Gianfrancesco estão na cozinha catando feijão e a que os trabalhadores caminham pelas ruas com o corpo de Milton Gonçalves em um caixão, são tão marcantes e talvez eu não tenha visto cenas mais poderosas que essas em nada ao que se diz cinema nacional. * Texto de Fernanda Kalaoun.
Filme escolhido pelo Marc NT
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1 comentário:
Excepcional adaptação da peça teatral de Gianfrancesco Guarnieri para as telas, pelo próprio diretor Hirszman. Em plena ditadura militar, o filme faz uma analogia a esse governo, através da divergência de ideais acerca da greve. Assim, o grevista é comparado ao manifestante que participava de passeatas e lutava por um país melhor; por outro lado, o não grevista se assemelha ao sujeito alienado, que preocupava-se exclusivamente com si próprio, e permanece na mesma situação sem reclamar de nada. Guarnieri, inclusive, tem extraordinária interpretação como o pai que quer mudanças, mas na base do diálogo. Não só Guarnieri, como todo o elenco se destaca: Riccelli como o filho que não se rebela com as desigualdades do trabalho, Fernanda Montenegro, ainda que contida, como a mãe, Francisco Milani e Milton Gonçalves como dois grevistas, e principalmente, Bete Mendes como a namorada de Riccelli. Ela, aparentemente, atua no pacato papel da garota gestante, que vive com pai alcoólatra e mãe doente, e que pensa em dar uma vida melhor ao filho que espera. Contudo, a personagem se transforman quando adere a greve, e tem uma cena surpreendente em que briga com o namorado, por conta da omissão social dele. Certamente, uma cena de grande impacto, em que a própria Bete pôde desabafar com todas as letras, toda a repressão que passou na época da Ditadura. Outro momento que chama a atenção é no final quando Fernanda e Guarnieri estão sentados sobre a mesa, separando o feijão que presta, daquele que não presta. Sem dúvida, a cena mais simbólica do filme, em que também está presente as diferenças de consciência política entre os cidadãos: o feijão ruim é o omisso, enquanto o bom é o revolucionário. Enfim, uma das produções mais importantes da década de 80, obrigatória para reflexões e discussões do âmbito social. Apenas estraga a desnecessária cena em que Bete aparece como veio ao mundo, certamente influenciada pela estranha estética de mau gosto erótica que predominou nas décadas de 70 e 80. Evidentemente, isso não estraga o prazer de se ver essa fita, de ideal de esquerda. Um verdadeiro soco na boca do estômago para o regime que o Brasil enfrentava naquele momento. Por isso, é um filme obrigatório.
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