George A. Romero é o realizador que, nas palavras de Stephen King, tirou o terror para "fora da Transylvania". Antes de "Night of the Living Dead" (1968), o género estava preso num mundo de velhos condes, falsos morcegos, e portas rangendo. Os monstros de Romero não eram mutantes do espaço, ou aristocratas sugadores de sangue, mas sim pessoas normais, "vizinhos que tiveram pouca sorte", nas palavras do próprio realizador. A sua combinação tóxica de efeitos de gore, técnicas de documentário, e subtexto zeitgeist levaram o cinema de terror para novos extremos de realismo, e relevância contemporânea.
Feito em 1968, o ano do Black Power e dos protestos estudantis, "Night of the Living Dead" era a imagem mais literal possível da américa, a devorar-se a si própria, de acordo com uma review contemporânea.
"Snapshots of the Time", era como Romero gostava de descrever a sua série subsequente de filmes políticos e cerebrais, também chamados de "splatter movies". "Dawn of the Dead" (1978), era uma sátira lacerante ao consumismo, e talvez o ponto mais alto da série. "Day of the Dead" (1985), levou as obsessões de Regan sobre a ciência, e atirou-as para uma história claustrofóbica envolvendo cientistas loucos e experiências sádicas. A guerra do terror de George W. Bush era o foco satírico em "Land of the Dead" (2005), escrito antes dos eventos do 11 de Setembro de 2001, novos diálogos foram adicionados ("we don´t negociate with terrorists"), para lhe dar uma maior importância.
Longe dos devoradores de carne, o trabalho de Romero era uma mistura de falhas e obras primas menores. O seu segundo trabalho, "There´s Always Vanilla" (1971), era uma má experiência no território da comédia romântica, tanto que o filme é quase desconhecido. Já "Hungry Wives" (1973), era uma tentativa de explorar o campo da bruxaria. Com "The Crazies" (1973), Romero estava de volta a terra firme, com um filme sobre um vírus que se está a espalhar pela américa. "Martin" (1977), considerado uma obra menor, mas é o seu melhor filme fora da sua série de zombies...
Romero faleceu no passado dia 16 de Julho, com 77 anos. Nas próximas três semanas vamos fazer aqui uma revisão completa da sua carreira. Recordaremos os seus filmes mais conhecidos, e também daremos espaço aos outros, num ciclo que será integral. Espero que gostem.
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