Mostrar mensagens com a etiqueta Tennessee Williams no Cinema. Mostrar todas as mensagens
Mostrar mensagens com a etiqueta Tennessee Williams no Cinema. Mostrar todas as mensagens

sexta-feira, 19 de agosto de 2016

The Glass Menagerie (The Glass Menagerie) 1973

Amanda Wingfield (Katharine Hepburn) é uma mãe dominadora presa às histórias do seu passado e possui planos irrealistas para o futuro dos filhos. Os seus projetos para a vida das crianças ameaçam até mesmo sufocar a tímida Laura Wingfield (Joanna Miles) e o aspirante a escritor Tom Wingfield (Sam Waterson).
Terceira adaptação desta peça de Tennessee Williams, desta vez para televisão. Três anos depois de  trabalharem juntos em "The Lion in the Winter", Katharine Hepburn e Anthony Harvey voltaram a trabalhar juntos, e num telefilme com um elenco recheado de estrelas. Aqui contava-se ainda Sam Waterston, Joanna Miles e Michael Moriarty. 
Por esta altura, em 1973, já Katharine Hepburn tinha conquistado grande parte dos media, e da indústria de entretimento - excepto a televisão. Já tinha ganho três Óscares (embora nunca tivesse aceitado nenhum), interpretou inúmeros clássicos, triunfou em dramas da Broadway, em comédias, e até mesmo num musical, mas nunca tinha representado para a televisão. . A sua lógica era misteriosa, será que ela propositadamente evitava a pequena tela por considerá-la insignificante, ou será que evitava tornar-se numa estrela ainda maior? Quando o produtor David Susskind lhe sugeriu aparecer numa adaptação para televisão de Tennessee Williams, Hepburn ergueu as suas barreiras habituais. Mas depois do produtor insistir e de lhe garantir todas as suas exigências criativas, Hepburn acabou por aceitar. Ela assinou perante um grande mediatismo, apesar da sua estreia na televisão não ter gerado as audiências que a ABC antecipava. Ainda assim o seu desempenho foi muito interessante. 
Apesar do diálogo poético e do desfecho assombroso, "The Glass Menagerie" foi uma peça que não envelheceu tão bem como outras obras de Williams. Diz-se que Williams se baseou na sua própria família para escrever a peça, o que explica a sua tão rica caracterização. 

Link
Imdb

quarta-feira, 17 de agosto de 2016

Choque (Boom!) 1968

A incrivelmente rica escritora Sissy Goforth (Elizabeth Taylor) vive sozinha com as suas criadas e enfermeiras numa ilha do Mediterrâneo, onde cria as suas próprias regras. Os seus dias consistem em ditar a sua biografia e implorar por injeções.É então que chega à ilha Chris Flanders (Richard Burton), conhecido como “o anjo da morte”, um homem com bastante charme, que tem o hábito de “visitar” mulheres infelizes pouco antes das suas mortes. E também lhe aparece o seu vizinho, conhecido como “A Bruxa de Capri” (Noel Coward), e juntos eles partilharão um jantar que mudará as suas vidas…
"Boom!", de Joseph Losey, é um dos filmes mais mal amados e criticados do final dos anos sessenta. O orçamento previsto de 3,9 milhões de dólares foi largamente ultrapassado, tendo ultrapassado os 10 milhões, em parte para pagar o salário do casal maravilha, Elizabeth Taylor e Richard Burton, e vestir Taylor com os seus maravilhosos fatos Tiziani (muitos desenhados de propósito por Karl Lagerfeld) e jóias Bulgari, além da construção de um cenário fabuloso. Os críticos não gostaram de todas estas extravaganzas, e desprezaram o filme. Muitos espectadores saíram dos cinemas antes do filme terminar, completamente perplexos com o que tinham acabado de ver. 
Na verdade o filme deve ser visto como realmente é: um "Camp Classic" da mais elevada ordem (portanto, menor). Alegadamente, consta-se que toda a gente estava bêbada enquanto decorriam as filmagens. Noel Coward sorri de forma pouco adequada várias vezes durante o filme, e Burton parece estar intrigado com o absurdo de falar as suas linhas ridículas. Baseado na peça de Tennessee Williams chamada "The Milk Train Doesn’t Stop Here Anymore", que também foi o autor do argumento, acabaria por custar caro ao escritor, pois até à sua morte em 1983 nunca mais viu uma história sua ser adaptada a um filme de série A em Hollywood. Mesmo assim, aqui fica ele para ser visto.

Link
Imdb

terça-feira, 16 de agosto de 2016

Flor à Beira do Pântano (This Property Is Condemned) 1966

A cidade de Dodson, no Mississippi, na era da Depressão, fica particularmente devastada com a chegada de Owen Legate (Robert Redford), um oficial com o bolso cheio de avisos de demissão para os ferroviários. Alva Starr, interpretada por Natalie Wood, é a namoradeira da cidade, com muitos planos, mas sem ter para onde ir ... até que Legate aparece na sua porta. O inevitável romance enfurece a mãe de Alva (Kate Reid), e causa a furia de toda a cidade.
Robert Redford apareceu em vários papéis no cinema e na televisão no inicio dos anos sessenta, mas foi apenas com o seu primeiro grande sucesso na Broadway, "Barefoot in the Park" (1963), que Hollywood começou a reparar nele. A sua interpretação de bissexual contracenando com Natalie Wood em "Inside Daisy Clover" (1965) deu-lhe um Globo de Ouro como "Best New Star" e a admiração e a amizade de Natalie Wood. No ano seguinte os dois voltariam a contracenar, neste "This Property Is Condemned", baseado numa peça de um só acto de Tennessee Williams.
Elizabeth Taylor era apontada para protagonista, com John Huston a realizar, mas ela queria o marido Richard Burton atrás das câmaras. Huston e Taylor saíram da produção (Taylor era demasiado velha para o papel), que iria parar a Natalie Wood, ela própria uma fã de Tennessee Williams. Natalie Wood acabaria por escolher Robert Redford para contracenar com ela, com o actor a recomendar o seu amigo Sydney Pollack, que tinha apenas realizado o seu filme de estreia, para dirigir.  Redford disse mais tarde ao seu biógrafo que "This Property Is Condemned" teve um desenvolvimento infernal. Segundo ele o argumento foi passando de mão em mão, desde Huston a Francis F. Coppola, incluindo James Bridges, Charles Eastman, e John Houseman, sem que nenhum se apercebesse que isto tinha de ser uma peça de um só acto. Finalmente Pollack fechou-se num quarto de motel com os vários rascunhos do argumento, e, literalmente, cortou-os e colou-os, para depois passar a um novo argumentista, David Rayfiel, para passar a limpo. Reza a lenda que Tennessee Williams ficou tão insatisfeito que pediu para ser removido dos créditos finais, apenas conseguindo que nos créditos finais aparecesse "suggested by a play by Tennessee Williams," em vez do habitual "based on a play by."   
A rodagem também foi muito problemática. Natalie Wood estava a passar por um periodo muito dificil na sua vida, e o argumento mudava de dia para dia. Era uma casa de loucos. Havia muita tensão na produção, e Redford chegou a escrever no seu diário que esperava que Natalie fosse embora da produção do filme. Depois das filmagens terem terminado, por causa de todo o stress da vida familiar e profissional, Wood tomou uma overdose de comprimidos para dormir. 

Link
Imdb

domingo, 14 de agosto de 2016

A Noite de Iguana (The Night of the Iguana) 1964

Numa cidade isolada da costa mexicana, um padre com a fé abalada esforça-se para juntar os cacos da sua vida despedaçada. E três mulheres - uma viúva proprietária de um hotel, uma artista etérea e uma adolescente ninfomaníaca - podem ajudar a salvá-lo. Ou destruí-lo! 
Baseado numa peça da Broadway de Tennessee Williams sobre um padre sem hábito que se tornou guia turístico no México, a versão cinematográfica de John Huston foi nomeada para 4 Óscares: Melhor Actriz Secundária ( Grayson Hall), Melhor Fotografia a Preto e Branco, Direcção de Arte e Guarda Roupa. O único Óscar ganho seria pelo Guarda Roupa da autoria de Dorothy Jeakins.
"Night of the Iguana" é essencialmente um estudo de personagem, sobre a crise existencial de um homem (Richard Burton) cujo legado familiar tanto sobre liderança espiritual como irresistíveis "apetites" continuam a assombrá-lo. O restante elenco é pura dinamite, com uma Ava Gardner muito tensa como a infeliz proprietária de um hotel, Deborah Kerr como a visitante sexualmente inexperiente, Sue Lyon num papel bem próximo do que ela havia tido dois anos antes, em "Lolita", e Grayson Hall como a solteirona com um segredo. Burton certamente que tem o seu próprio segredo, e com o avançar da noite mais interessantes as conversas ficam. 
Burton vivia na altura um romance com a actriz Elizabeth Taylor, com quem casaria pela primeira vez pouco depois de terminadas as filmagens. Corriam rumores que a actriz o visitava durante o set, o que colocava a produção do filme constantemente nos jornais. O filme era rodado no México, num local que não aparecia nos mapas, chamado Puerto Vallarta, uma localidade que nem sequer tinha voos comerciais. Depois ficou um local muito conhecido, e hoje em dia tem resorts de luxo que recebe milhares de visitantes todos os anos.

Link
Imdb

sexta-feira, 12 de agosto de 2016

Corações na Penumbra (Sweet Bird of Youth) 1962

Paul Newman é Chance Wayne, um ex-"gigolo" que volta à sua terra natal acompanhado por Alexandra Del Lago (Geraldine Page), uma actriz em decadência. A intenção de Wayne é impressionar Tom Finley (Ed Begley), o cacique local, um político corrupto que o expulsou da cidade. Mas a figura patética de Del Lago, que se afoga em álcool, drogas e sexo com a sua incapacidade de aceitar a passagem dos anos, não é a mais adequada para melhorar a imagem de Wayne. 
Uma das peças mais corrosivas e perturbadoras de Tennessee Williams, "Sweet Bird of Youth" foi um grande sucesso nas mãos de Elia Kazan pelos palcos da Broadway, mas teve uma produção algo problemática a passar para a tela. Por um lado, A MGM sabia que ía ter problemas com o Código de Produção, por causa da sua história: um ex-gigolo com aspirações a se tornar um actor de Hollywood tem uma relação com uma actriz outrora famosa, com um fraco por álcool e haxixe. Quando o casal visita a terra natal dele alguns segredos são expostos. O terrível final da peça original tinha Chance a ser castrado por vários durões. A versão cinematográfica não podia ser tão explicita, e Richard Brooks teve de reescrever completamente o final para algo muito mais optimista.
Por sorte, quatro dos principais membros do elenco da peça da Broadway concordaram entrar no filme: Paul Newman, Geraldine Page, Rip Torn, e Madeleine Sherwood, todos concordaram recriar os seus papéis na Broadway. Newman estava a tornar-se numa estrela de Hollywood muito rapidamente, contando já com duas nomeações para o Óscar de melhor actor (uma por "Cat on a Hot Tin Roof"(1958) e outra por "The Hustler"(1961)). Embora o seu desempenho em "Sweet Bird of Youth" seja louvável, é Geraldine Page quem rouba o filme, no papel de Alexandra del Lago, uma personagem originalmente inspirada em Tallaluh Bankhead, uma amiga próxima de Tennessee Williams.
 Foram três os actores nomeados para Óscares neste filme: Ed Begley, Geraldine Page e Shirley Knight, mas apenas o primeiro conseguiu levar uma estatueta para casa.

Link
Imdb

quinta-feira, 11 de agosto de 2016

A primavera em Roma de Mrs. Stone (The Roman Spring of Mrs. Stone) 1961

Karen Stone (Vivien Leigh) é uma atriz de meia-idade decadente que perde o marido ao sofrer um enfarte durante uma viagem de férias a Roma. Sentindo-se solitária, Karen envolve-se com Pablo di Leo (Warren Beatty), um jovem gigolo italiano. 
Baseado em mais um romance de Tennessee Williams, "The Roman Spring of Mrs. Stone" contava com Vivien Leigh no principal papel, também ela uma actriz decadente de meia idade, que regressava ao cinema depois de uma ausência de seis anos, no seu penúltimo papel de protagonista, contracenando com Warren Beatty, um jovem jovem 24 anos mais novo e que se estreava no grande ecrã neste ano. O seu outro filme deste ano era "Splendor in the Grass", de Elia Kazan. A realização estava a cargo de José Quintero, a única obra para cinema de um homem virado para o teatro. 
É dito que a novela original de Tennessee Williams se passa no período logo após a grande guerra, e o seu subtexto poético permanece o mesmo na adaptação para o cinema, feita por Gavin Lambert ("Bigger than Life" e "Bitter Victory"). Dez anos separam a peça original e esta versão cinematográfica, e infelizmente esses dez anos fazem muita diferença. Nem a peça original, nem o filme são tão brilhantes como outras obras do dramaturgo, mas com um elenco e uma equipa destas era impossível o filme passar despercebido.
Vivien Leigh já tinha ganho uma Óscar a interpretar personagens de Williams, mas atravessava um dos períodos mais negros da sua vida. A passar por um processo de divórcio no preciso momento da rodagem do filme, soube durante um jantar que o seu marido pretendia casar-se com outra actriz, Joan Plowright. Leigh estava desolada quando terminou a rodagem do filme, e o seu olhar de desolação e de tristeza que seguimos durante o filme era verdadeiro. A sua interpretação, mesmo assim, ficou fora das nomeações para os Óscares, mas outra actriz foi nomeada como secundária, Lotte Lenya, como condessa Magda Terribili-Gonzales.

Link
Imdb

quarta-feira, 10 de agosto de 2016

Bruscamente no Verão Passado (Suddenly, Last Summer) 1959

Uma jovem é internada num hospital psiquiátrico, depois de testemunhar a morte do primo. A tia, que a internara, quer uma intervenção cirúrgica para acabar o que parecem ser alucinações, mas o neurocirurgião que a trata percebe que se tratam de alucinações reais. A história gira à volta de uma personagem misteriosa, (Sebastian Venable, o primo), cuja figura só conseguimos ver em breves flashbacks, o que dá maior poder à narrativa, porque tentamos compreender exactamente o que causou a sua morte horrível, e porque a sua mãe está tão determinada a esconder a verdade sobre o seu enigmático filho.
Adaptação de uma peça de Tennessee Williams de 1957, de um único acto,dirigida de uma forma tensa por Joseph L. Mankiewicz (Dragonwyck/Cleopatra). Este chocante melodrama lida com temas bastante pertinentes, como a loucura, prostituição homossexual, incesto e canibalismo. Levamos muito tempo até chegar à revelação final, mas, quando esta chega, é bastante eficaz. Gore Vidal escreve o argumento, e consegue mantê-lo menos contundente do que a peça, cheio de insinuações ocultas, que vamos descobrindo à medida que o tempo vai passando. Com um slogan bastante efectivo: "...suddenly last summer Cathy knew she was being used for something evil!", o filme acabaria por fazer bastante sucesso nas bilheteiras, como já era habitual nas obras adaptadas das peças de Williams. 
Desde os anos 30 que a MPAA, o organismo de auto-censura da indústria cinematográfica, tinha sido criado para impor o seu código de produção, regulando o que podia e não podia ser visto. No final dos anos 50 os padrões tinham ficado mais frágeis, e as fronteiras estavam a ser empurradas, com os filmes a abordarem cada vez mais temas que outrora eram tabu, como o sexo e as drogas. "Suddenly, Last Summer" (1959) foi uma das produções mais ousadas deste periodo, e servia como prenuncio ao que viria na década de sessenta.
Como já era habitual, os filmes de Williams eram excelentes veículos para as suas actrizes. Mais uma vez valeu nomeações ao Óscar, aqui ex-aqueo para as suas duas actrizes principais Katherine Hepburn e Elizabeth Taylor. Taylor ainda não tinha 30 anos e já conseguia a sua terceira nomeação, segunda consecutiva graças a obras de Tennessee Williams. Neste ano a concorrência era muito forte, e a estatueta foi para alemã Simone Signoret.

Link
Imdb

terça-feira, 9 de agosto de 2016

Gata em Telhado de Zinco Quente (Cat on a Hot Tin Roof) 1958

Harvey Pollitt (Burl Ives) é um rico proprietário de terras, além de possuir uma fortuna de US$ 10 milhões. Harvey festeja o aniversário e é visitado pelos dois filhos, mas ignora que tem um cancro inoperável, pois o médico tinha lhe dito que estava recuperado. Gooper (Jack Carson), um dos filhos, e a sua esposa (Madeleine Sherwood) tiveram algumas crianças e cobiçam poder herdar os milhões do "Velho". Por outro lado Brick (Paul Newman), o seu filho preferido, é um alcoólatra e ex-estrela de futebol americano, que vive um casamento infeliz. Esta situação deixa Maggie (Elizabeth Taylor), a sua esposa, muito frustrada, porque ama o marido apesar de ser desprezada por ele. 
A peça "Cat on a hot Tin Roof" foi um êxito da Broadway na primavera de 1955, e não demorou muito para que a MGM comprasse os direitos para a sua adaptação ao cinema, com James Dean e Grace Kelly apontados para os papéis principais, de Brick e Maggie. A peça de Tennessee Williams vencedora de um prémio Pulitzer, revelou-se ser mais complicada do que parecia, e foram precisos três anos para que a MGM conseguisse uma adaptação do do argumento que conseguisse satisfazer os standards do Código Hays, e quando o argumento ficou pronto já Dean tinha morrido e Kelly era uma princesa na vida real. O argumento ficou sem qualquer referências à homossexualidade do protagonista, e foi-lhe retirado bastante narrativa para tornar o filme fluído para um público mainstream. Tennessee Williams não ficou muito satisfeito com todas estas alterações, e chegou a desencorajar as pessoas a verem o filme, mas apesar disso foi um dos grandes sucessos de bilheteira do ano, para além de ter conseguido seis nomeações para o Óscar (incluindo Filme, Realizador, Actor, Actriz e Argumento), acabando por perder tudo. 
Apesar de toda a inépcia da MGM em lidar com críticas a valores da sociedade americana (homofobia, mentira, avareza, são apenas três dos pontos que o autor aponta o dedo nesta peça), o filme é compensado pela electrificante presença de Paul Newman e Elizabeth Taylor. É incrível pensar que poucas semanas depois de iniciar a rodagem deste filme, Taylor tinha perdido o marido num acidente de avião. Poucas foram as vezes que a actriz tinha conseguido uma prestação tão arrepiante. Taylor e Newman representavam duas escolas de interpretação muito diferentes, ela era muito instintiva, ele era muito devoto ao "método", com o confronto entre os dois a ser brilhante.
O filme era originalmente para ter sido dirigido por George Cuckor, mas este acabou por ser substituído por um muito menos experiente Richard Brooks quando se apercebeu nos problemas que seriam levantados pelos censores. Brooks já era um dos autores do argumento, e a sua decisão de ensaiar o filme como se fosse uma peça de teatro assegurou-lhe a intensidade claustrofóbica da fonte original, e ainda amplificava o poder das interpretações, como não havia mise-en-scéne ou trabalho de câmera para nos distrair. 

Link
Imdb

terça-feira, 2 de agosto de 2016

A Rosa Tatuada (The Rose Tattoo) 1955

Uma viúva obcecada com a morte do marido (Anna Magnani) enclausura-se e afasta qualquer possibilidade de retomar a sua própria vida, levando a filha consigo no seu martírio. Quando menos espera, um camionista italiano desperta novamente a sua paixão adormecida, enquanto a filha descobre a sexualidade à própria maneira. 
Ana Magnani foi a musa do dramaturgo Tennessee Williams durante muitos anos, sendo eles amigos de longa data com Williams a escrever pelo menos três peças para ela. "The Rose Tattoo" foi escrito expressamente para Magnani, e apesar dela não ter entrado na versão teatral da Broadway, entrou no filme, tendo ganho com ele o seu único Óscar. Era o segundo Óscar que Williams proporcionava ás suas actrizes, depois de Vivien Leigh ter vencido em "Um Eléctrico Chamado Desejo".
Algures entre os trabalhos que colocaram Williams no mapa, "A Streetcar Named Desire" (1951) e "The Glass Menagerie" (1950), e as versões para cinema de "Cat on a Hot Tin Roof" (1958) e "Suddenly Last Summer" (1959), este filme oferecem-nos variações dos seus temas habituais como a opressão familiar, o amor proibido, o luto, o alcoolismo e a loucura.
Tal como outras personagens de luto na obra de Williams, Serafina está obcecada com a beleza do seu sofrimento, com o seu amante morto a ser idolatrado de todas as perspectivas. Este amante morto, aparece muitas vezes na obra do dramaturgo, como o Fred de "Night of the Iguana", o Sebastian de "Suddenly Last Summer" ou até mesmo em "Cat on a Hot Tin Roof". Serafina está condenada a lamentar o seu homem perdido na forma do marido. Na sua mente ele foi congelado em algum ponto da juventude viril.
Daniel Mann era o homem atrás das câmaras.

Link
Imdb

segunda-feira, 1 de agosto de 2016

Um Eléctrico Chamado Desejo (A Streetcar Named Desire) 1951

Depois de perder o trabalho e a sua casa no Mississippi, Blanche Dubois desloca-se para New Orleans, para visitar a irmã, Stella. Blanche mal consegue acreditar no nível em que Stella caiu. Vive num apartamento apertado num bairro decadente da cidade, casada com um brutamontes chamado Stanley, que parece saído directamente da idade da pedra. Não demora muito até que o seu ar de senhora e o seu criticismo exagerado a tornem numa visita pouco desejada, e Stanley começa a acreditar que ela esconde alguma coisa...
Adaptação de Tennessee Williams de uma peça sua vencedora de um Pulitzer em 1947, estava rodeada de controvérsia desde o primeiro minuto, mas tornou-se num filme marcante no modo como mudava o retrato do sexo no cinema americano. Apesar de algumas alterações à peça original de Williams, e alguns cortes de última hora para cumprir com os Códigos de Produção de Hollywood, o filme foi devastado com uma enorme onda de criticismo, para não falarmos em total condenação, pelas suas conotações eróticas e evidentes referências sexuais. Mesmo assim foi um grande sucesso, tendo conseguido 12 nomeações ao Óscar, tendo apenas ganho quatro (incluindo Melhor Actriz e Melhor Actor/Actriz Secundários).
Foi realizado pelo cineasta independente Elia Kazan, que já tinha dirigido a primeira adaptação teatral da peça. O elenco era constituído na sua maioria por actores que tinham colaborado na adaptação teatral de Kazan, principalmente Marlon Brando, que aqui participava na sua segunda obra cinematográfica. A principal mudança era a inclusão da actriz Vivien Leigh, como Blanche, repetindo o papel que tinha interpretado na primeira adaptação inglesa da mesma peça, dirigida na altura pelo então marido Laurence Olivier. Era o seu papel mais icónico desde a sua participação em "Gone With the Wind", como Scarlett O´Hara. Doze anos passaram entre estes dois filmes, que valeram dois Óscares a Vivien Leigh.
O que é tão impressionante neste filme, mesmo hoje em dia, é a intensidade sensual e o realismo, em vez da prosa altamente estilizada da peça, e, como é óbvio, os cenários teatrais. O cenário claustrofóbico (que quase faz lembrar uma cela num asilo), e a fotografia quase noir criam um sentimento sufocante de opressão, que reflecte e acentua a crescente tensão sexual na casa dos Kowalski, e a descida à degradação mental de Blanche. Até a música é profundamente evocativa, sugestionando a atmosfera de um bordel barato de Paris.

Link
Imdb

domingo, 31 de julho de 2016

Tennessee Williams no Cinema

Tennessee Williams foi um dos dramaturgos mais importantes do século XX nos Estados Unidos.
“Porque é que eu comecei a escrever? Porque descobri que a vida é insatisfatória.”
Tennessee Williams

Thomas Lanier Williams, mais conhecido como Tennessee Williams, nasceu no dia 26 de março de 1911, na cidade de Columbus, Mississipi.
Na infância adoeceu com difteria, o que o obrigou a permanecer em casa e ficar ausente da escola por um ano, período em que aproveitou para mergulhar nos livros, descobrir mais sobre si mesmo tornando-se uma criança introspectiva e virada para uma realidade única em que as perturbações familiares lhe serviam como base de criação. Por crescer no seio de uma família onde estas perturbações psicológicas e os vícios resultantes eram o alicerce da sua personalidade, a construção das suas personagens e das suas realidades foi também enriquecida pela vivência do seu eu criador, Rose sua irmã terá sido uma Blanche Dubois evidente.
Tanto o dramaturgo como o homem perseguem temas como: opressão racial, social e sexual,da qual ele mesmo se sentiu vítima. Esta jornada em busca duma noção de justiça básica e crua revela por vezes uma enorme violência na forma simplista como aborda sentimentos e desejos básicos das personagens; é impossível não sentir o negativismo presente nos seus enredos. As suas histórias desenrolam-se, normalmente, na região sul dos EUA, num ambiente tumultuoso onde elas mesmas se sentem deslocadas social e intelectualmente.

Apesar de ter começado no cinema com 26 anos, e sem sucesso algum nessa época, todas as suas principais obras foram objecto de adaptação cinematográfica embora ele não as tenha escrito para o cinema, mas sim para o teatro. Podemos considerar que a sua obra literária apesar de já ser em si mesma excelente, ganhou bastante com a qualidade dos filmes nela baseados sendo alguns deles considerados obras-primas, clássicos do cinema americano. Tal é o caso de Um Eléctrico Chamado Desejo de Elia Kazan, 1951, ou de outro grande sucesso: Gata em Telhado de Zinco Quente de Richard Brooks, 1958. As duas produções que referi inspiraram variadas transcrições cinematográficas, como nos será dado constatar através do ciclo que o "My Two Thousand Movies" agora inicia.
* Texto de José Santos.



Nos próximos dias faremos uma visita pelos filmes de Tennessee Williams. Serão 10 ao todo, mas não esquecer os que já passaram por este blog no passado:

- "Baby Doll" (1956). Post
- "The Fugitive Kind" (1960). Post
- "Senso" (1954). Post