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domingo, 26 de abril de 2020

40 dias 40 filmes – Cinema em Tempos de Cólera: “Cidade nas Trevas”, de Fritz Lang

O Jornal do Fundão, os Encontros Cinematográficos, o Lucky Star – Cineclube de Braga, o My Two Thousand Movies e a Comuna associaram-se nestes tempos surreais e conturbados convidando quarenta personalidades, entre cineastas, críticos, escritores, artistas ou cinéfilos para escolherem um filme inserido no ciclo “40 dias, 40 filmes – Cinema em Tempos de Cólera”, partilhado em segurança nos ecrãs dos computadores de vossa casa através do blog My Two Thousand Movies. O vigésimo sexto convidado é o realizador, actor e encenador Jorge Silva Melo, que escolheu Cidade nas Trevas de Fritz Lang, dizendo-nos que “precisamos de uma imprensa livre, precisamos de si, não podemos viver nesta corrupção, neste mundo sem luz. Para Lang tudo era tremendo - e ameaçador o final que parece feliz. Temos de ouvir Puccini logo a seguir: nessun dorma!

Sinopse: Outro dos filmes favoritos de Lang. Adaptação de um romance de Charles Einstein que, por sua vez, teve como uma das inspiração o filme de Lang "Man Hunt". Lang retoma o tema do assassino "compulsivo" que desenvolvera em M, mas coloca-o no centro da disputa pela direcção de um jornal por um grupo de candidatos.

No seu Dicionário do Cinema, Jacques Lourcelles diz-nos que é o “penúltimo filme americano de Lang. Um dos pontos mais altos da sua carreira; na nossa opinião, o seu melhor filme. Baseado num romance, mas sobretudo baseado em relatos de notícias variadas recortadas de jornais e que ele tinha o hábito – mantido até ao fim da sua vida, embora já não trabalhasse mais - de coleccionar, Lang escreveu o guião minuciosamente com Casey Robinson e será um dos mais sofisticados da sua carreira. A preparação não menos minuciosa da rodagem e que permitiu manter, sendo o orçamento do filme bastante razoável, os intérpretes prestigiosos reunidos no conjunto (George Sanders, Ida Lupino, Thomas Mitchell, Rhonda Fleming, etc) só quatro ou cinco dias cada um, quando temos a impressão de os ver presentes ao longo de toda a intriga. (Só a Dana Andrews foi concedido um número de dias ligeiramente superior.) A ambição do filme é imensa, a perfeição do seu estilo, cujos elementos desdenham dar nas vistas, sóbria e eficaz. Lang quer dar a ver um panorama bastante vasto da sociedade americana, fundada aos seus olhos na competição e no crime. Como a competição e o crime se tornaram indissoluvelmente ligados, é este o seu tema, a partir do qual surgem as características do seu estilo, obedecendo todas a uma estética da necessidade que nenhum outro cineasta levou tão longe. Criador solitário e exigente, Lang não está totalmente à parte da corrente americana mais inovadora. While the City Sleeps integra e até interioriza de alguma maneira a revolução trazida no ano anterior ao relato policial por Kiss Me Deadly. Doravante já não há bons nem maus nos enredos. A ferocidade da competição trouxe todas as personalidades ao mesmo nível, o grau zero da moral e da consideração pelos outros. Se examinarmos à lupa (é o que faz o filme) o comportamento de cada uma das personagens envolvidas na acção, vemos ou que eles não têm ideia nenhuma do que lhes poderia servir de moral, ou então – e ainda é pior – que eles sacrificam à sua ambição quaisquer escrúpulos que pudessem ter, comportamento considerado como normal na sociedade em que estão inseridas. A partir daí, o criminoso que os jornalistas procuram com tanto ardor para conseguir um cargo torna-se não só a sua presa, mas também o seu reflexo. Às vezes é mais digno de piedade do que eles. Lang leva aqui a um grau de perfeição absoluta a sua arte das ligações necessárias ou mesmo fatais entre as sequências. Seja por um elemento de diálogo, por um elemento visual, por uma personagem ou pelo efeito de uma causa dramática específica, as sequências encadeiam-se umas às outras a um ritmo e a uma progressão lógica que parece obedecer a alguma fatalidade, que na verdade não é senão a consequência das acções cruzadas de cada um dos protagonistas ocupados em suplantar, a usar ou a destruir o próximo – grande teia de aranha onde por fim todos se encontram presos. Requinte supremo da mise en scène: aquelas divisórias de vidro que, dentro dos escritórios do jornal, separam as personagens permitindo-as verem-se umas às outras e dão à história a possibilidade de executar várias sequências frontais, ligadas numa interacção permanente. Este entrelaçado magistral é visto na luz soberba de uma chapa metálica rasgada a bisturi. Depois de muitos avatares e metamorfoses, redesenhados através da experiência e do estilo de um cineasta meticuloso e genial, o microcosmos expressionista reaparece aqui – talvez pela última vez – lavado de todas as suas histórias, dotado de uma pureza expressiva cuja abstracção e concentração fascinam. É um pequeno pedaço de inferno onde as criaturas estão ocupadas, achando-se livres e activas, sob o olhar de um cineasta que não procura outra coisa senão ver bem e dar bem a ver a realidade, mas mantendo o ponto de vista de Sirius sobre todas as coisas.”

Amanhã, a escolha de Mieriën Coppens.

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terça-feira, 7 de abril de 2020

40 dias 40 filmes – Cinema em Tempos de Cólera: "The Man i Love", de Raoul Walsh

O “Jornal do Fundão“, os “Encontros Cinematográficos”, o “Lucky Star – Cineclube de Braga“, o “My Two Thousand Movies” e “A Comuna” associaram-se nestes tempos surreais e conturbados convidando quarenta personalidades, entre cineastas, críticos, escritores, artistas ou cinéfilos para escolherem um filme inserido no ciclo “40 dias 40 filmes – Cinema em Tempos de Cólera”, partilhado em segurança nos ecrãs dos computadores de vossa casa através do blogue “My Two Thousand Movies”. O sétimo convidado é a actriz e realizadora Marta Mateus, que escolheu The Man I Love de Raoul Walsh.

Sinopse: The Man I Love é uma obra “diferente”, um soberbo melodrama à volta do destino de várias mulheres e das suas manifestações de independência, antecipando os retratos femininos que Walsh desenhará na década seguinte. Uma das obras maiores e mais “esquecidas” de Walsh e um dos filmes favoritos de Martin Scorsese, que expressamente o citou em New York, New York. Seguindo-se a Artists and Models, They Drive by Night e High Sierra, foi o quarto filme de Raoul Walsh com Ida Lupino, numa das suas grandes criações….

No seu livro sobre o realizador, Michel Marmin escreve que “The Man I Love, um dos mais belos monumentos de ternura e compaixão existentes, não requer nenhuma recomendação. Convido-os a deixarem-se guiar pelas tramas intrincadas de destinos plebeus cujas alegrias e tristezas geram o mais nobre encantamento, a deixarem-se fascinar por uma mise en scène exacta e feliz, eminentemente apta a captar a vida sem a abismar nem a sufocar, nas suas palpitações mais ténues e íntimas. The Man I Love, filme raro e pouco reconhecido, é no entanto uma manifestação exemplar de um cinema lúcido e forte.”
Justificando a sua escolha, Marta Mateus situa-nos “a grande Ida Lupino, actriz, realizadora e produtora na vanguarda da luta pela igualdade dos direitos das mulheres em Hollywood, frente à câmara de Raoul Walsh. O tema de George Gershwin (inesquecível na voz de Billie Holiday) empresta-lhe o título. O mais belo e exemplar filme onde o cinema vai ao encontro da música para a integrar na narrativa e no enredo, unindo duas das grandes artes que aqui respiram o mesmo tempo, ritmo e melodia. A memória de que a vida é também um clássico de desencontros em busca desta unidade.”

Amanhã, a escolha de Maria João Madeira

* Legendas em espanhol

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quinta-feira, 19 de setembro de 2019

The Twilight Zone - The Masks (The Masks) 1964

Robert Parrish, Mitchell Leisen, John Brahm, Stuart Rosenberg, Joseph M. Newman, Don Weis, Richard C. Sarafian, Don Siegel e Jacques Tourneur foram alguns dos cineastas que trabalharam com Rod Serling em “The Twilight Zone”. A série parece ter nascido da frustração de Serling para com os cortes que as cadeias de televisão e os seus patrocinadores faziam constantemente aos seus projectos. Virou-se então na direcção do fantástico e da ficção científica para conseguir falar sobre os tempos em que vivia sem ter de fazer grandes concessões. Os temas eram possíveis graças ao género; o mergulho no género concedia-lhes a universalidade. 
Ida Lupino realizou seis filmes de uma assentada entre 1949 e 1953, o tempo que durou a sua companhia cinematográfica, The Filmmakers, começando a trabalhar para a televisão como realizadora em 1956, com um episódio de “On Trial” (The Trial of Marry Surratt), e acumulando uns impressionantes 67 créditos até 1968. Pode-se tentar desabonar estes trabalhos, dizendo que eram feitos de forma demasiado rápida, que a televisão é um meio que privilegia os argumentistas e os produtores, demasiado formatado para que o realizador possa fazer mais que não seja ilustrar o que está escrito, mas Ida Lupino sempre teve de fazer os seus filmes bem rápido, não tinha dinheiro para os fazer devagar, e se nos deslocarmos aos tempos em que as companhias e os produtores a punham suspensa por não querer interpretar certos papéis (foi assim que aprendeu os ossos do ofício, aproveitando esse tempo livre para falar com realizadores, operadores de câmara e directores de fotografia) podemos presumir que Lupino só aceitava os trabalhos que queria mesmo fazer. 
Com certeza que terá sido esse o caso para The Masks, o episódio que realizou para a “Twilight Zone”, escrito pelo próprio Rod Serling. Passado no Carnaval, faz-nos entrar na última noite de um patriarca neste mundo, rodeado pelos familiares esfomeados já há muito tempo pela sua herança. As máscaras do título, toda a progressão da história e particularmente esses momentos de máscaras imóveis enquadradas em toda a sua estranheza enquanto se ouvem as agonias e as sentenças das várias personagens, reenviam-nos para essa sensação dionisíaca de que somos nós próprios apenas com máscaras, escondidos, seguros e justificados para darmos largas a desejos e vontades soterradas numa só noite de gatos pardos ou de cães à solta. O Carnaval de uma vida, até à morte, e que traz as consequências devidas. Ou não estivéssemos na “Quinta Dimensão”.
Texto do João Palhares.

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quinta-feira, 6 de outubro de 2016

Cega Paixão (On Dangerous Ground) 1951

Amargurado pelos anos de contacto direto com a escória da sociedade, um duro detetive de polícia (Robert Ryan) é designado para investigar a morte de uma jovem fora da cidade. Logo conhece o pai da vítima, e fica com o desejo de vingança. Acaba por se envolver com uma jovem cega (Ida Lupino), que pode ser a irmã do assassino.
Nicholas Ray nunca foi o tipo de realizador que facilitasse, nem que isso o ajudasse no box-office, por isso a imagem do polícia intransigente em "On Dangerous Ground" acaba por não ser uma surpresa. Contudo, as audiências no início dos anos cinquenta não estavam preparadas para esta história, que incluía um detective sádico a tentar apanhar um assassino que podia ser um doente mental. Mesmo um final quase milagroso não salvou o filme do desastre bilheteiras, levando a RKO a perder 450 mil dólares na altura da estreia, que para aqueles tempos era uma soma bem considerável.
A história de um polícia que procura um assassino deficiente mental e se apaixona pela sua irmã, foi submetida à RKO como um possível futuro projecto de Ray, contudo os leitores do estúdio consideraram que este projecto seria inadequado para ser filmado. É aqui que entra o produtor John Houseman, que queria terminar o contrato com a RKO e afastar-se do seu errático dono, Howard Hughes. Houseman conseguiu garantir os direitos do livro quando Ryan mostrou interesse no papel de protagonista, e, já com três talentos associados ao projecto, a RKO decidiu dar luz verde para se iniciarem as filmagens. Houseman descreveu o tempo que esteve a trabalhar para a RKO como o pior e mais negro momento da sua carreira, trabalhando numa atmosfera desagradável e improdutiva, que não podia ter sido mais distante dos dias que trabalhou com Orson Welles e o The Mercury Theater. Felizmente Houseman e Nicholas Ray deram-se bem nos vários filmes em que trabalharam juntos. O valioso membro anónimo em "On Dangerous Ground" era o argumentista A.I. Bezzerides, que adaptou o livro de Gerard Butler em colaboração com Ray. 

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