Para terminar este ciclo dedicado a Manuel Guimarães, fiquem com uma série de curtas realizadas por ele, entre 1967 e 1971. Espero que tenham gostado deste pequeno ciclo.
- O Porto, Escola de Artistas (1967) - Imdb Link
- Ensino das Belas-Artes (1967) - Imdb Link
- Expresso Lisboa-Madrid (1969) - Imdb Link
- António Duarte (1969) - Imdb Link
- Resende (1970) - Imdb Link
- Carta a Mestre Dório Gomes (1971) - Imdb Link
Tenham um bom fim de semana. O próximo ciclo vem já a seguir.
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sexta-feira, 13 de abril de 2018
quinta-feira, 12 de abril de 2018
O Trigo e o Joio (O Trigo e o Joio) 1965
O Baixo Alentejo com seus tipos de camponeses e ganhões, os "montes" a pintalgar de branco a planície imensa, as crendices, a nostalgia das canções, a labuta do trabalhador nas ceifas, pela conquista do pão.
O dinheiro mal gasto na feira, que era destinado à compra duma burra - indispensável para que a courela se transforme num mar de trigo - serve de pretexto ao drama particular que se relata, sobre a família de Loas, um pequeno lavrador em decadência...
"Em 1965, O Trigo e o Joio, baseado no romance homónimo de Fernando Namora, foi produzido em regime de cooperativa, destacando-se neste empreendimento colectivo a participação de Igrejas Caeiro, Fernando Namora e António da Cunha Telles.
Na sua crítica, Manuel de Azevedo, embora reticente, destaca essa qualidade "humana":
«Não será talvez um “grande filme” – num sentido ambicioso de estilo cinematográfico. Mas é de certo, um filme de mérito indiscutível, obra de equipa, onde há que aplaudir a humanidade de cada um. E nessa contribuição de sacrifício individual está, porventura, a maior qualidade de “O Trigo e o Joio” – caminho válido e seguro (embora não único) do cinema português, que não pode, sem perigo de esterilidade, ignorar a realidade portuguesa».
Azevedo comenta também o aspecto estético:
«Em “O Trigo e o Joio”, Manuel Guimarães demonstrou já um amadurecimento que lhe permitiu evitar alguns dos seus maiores defeitos: a retórica cinematográfica. O filme resulta, deste modo, numa obra equilibrada, expressiva, com qualidades espectaculares dignas de aplauso. (...) Filme sem ousadias formais, sem um estilo ambicioso, impõe-se pelo acerto e pela simplicidade da generalidade das sequências, em que a história corre sem grandes oscilações» (Diário de Lisboa, 10-11-1965).
De facto, o filme aparenta uma evolução narrativa que se aproxima mais do idioma do cinema novo, nomeadamente pelo uso de elipses; todavia, esta impressão revelou-se errónea após análise dos cortes da censura que, eles sim, foram os responsáveis pelas «elipses». Este foi mais um filme impiedosamente torturado pela Censura.
Nos anos 60, Guimarães aperfeiçoa a sua matriz clássica e mantém-se fiel a uma estrutura narrativa que usa formas clássicas essenciais, tanto ao nível do argumento e da composição dramatúrgica, como nas opções cinematográficas"
Texto do blog Manuel Guimarães - Cem anos de esquecimento
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quarta-feira, 11 de abril de 2018
O Crime da Aldeia Velha (O Crime da Aldeia Velha) 1964
Joana vive em Aldeia Velha e é a rapariga mais bonita da terra. Por isso, desperta sentimentos fortes em todos os habitantes da aldeia: grandes paixões nos rapazes, que disputam o seu amor - por vezes indo até à luta física - e grande inveja nas outras mulheres, que a acusam de estar possuída pelo demónio e de trazer todas as desgraças para as suas vidas. Entretanto, chega um novo padre à aldeia, que decide defender Joana das acusações que lhe são feitas e enfrentar as mulheres, incluindo a sua própria mãe.
Esta história é baseada num caso real sobre o linchamento de uma mulher supostamente possuída pelo demónio, ocorrido durante os anos 30 em Marco de Canaveses. Publicada em 1959, a obra de Bernardo Santareno coloca questões sobre o papel da religião e o seu impacto na humanidade, e foi interpretada na altura como um desafio ao regime fascista e às posições da Igreja Católica. Bernardo Santareno, nasceu em 1920, em Santarém. Influenciado por Brecht, Lorca e Pirandello, tornou-se um dos dramaturgos de vanguarda em Portugal e foi considerado um dos responsáveis pela revolução no teatro ocorrida pós 25 de Abril.
Este filme afasta-se um pouco do Cinema Novo português, mas o realizador Manuel Guimarães, era o único que fazia o elo de ligação entre o cinema antigo, e clássico, e o novo cinema portugês. Este era o filme de Guimarães que mais se aproximava deste movimento, e viu a luz do dia praticamente na mesma altura.
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segunda-feira, 9 de abril de 2018
A Costureirinha da Sé (A Costureirinha da Sé) 1959
Aurora é uma jovem simples e ingénua do bairro da Sé que trabalha num atelier de costura e que vive uma história de amor com Armando, motorista de táxi. Este romance causa a inveja de uma vizinha que queria Armando para a sua filha Leonor.
Mas um dia, chega de visita ao bairro um jovem belo e rico por quem Leonor se apaixona. Para além disso, aproxima-se a data do "Concurso de Vestido de Chita" que todas as costureiras querem ganhar.
"Depois das atribulações ligadas à chamada "trilogia neorrealista" de Manuel Guimarães (Saltimbancos, Nazaré, Vidas Sem Rumo) , onde as limitações do realizador, a pressão da Censura, e o ostracismo do público se conjugaram para criar uma realidade amargurante, o cineasta foi forçado a trabalhos alimentares até que, em 1959, se criaram condições para o seu retorno à longa-metragem de ficção. Só que, mais ou menos acossado pela imperiosidade do êxito popular, Guimarães fez um hiato nas preocupações sociais e decidiu-se por um filme marcadamente comercial, "A Costureirinha da Sé".
Adaptação de uma opereta tripeira de Arnaldo Leite e Heitor Campos Monteiro, rodado a cores, em cinemascope (o que, no panorama do cinema português do tempo, era um notável esforço de produção, e tomando como protagonista uma das vedetas do cançonetismo da época (Maria de Fátima Bravo), "A Costureirinha da Sé" viria a conquistar o ponto mais baixo da carreira do cineasta, cedendo em toda a linha ao tom popularucho e, por ironia do destino, nem sequer colhendo nas bilheteiras o fruto dessa cedência."
Em Dicionário do cinema português, 1895-1961
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domingo, 8 de abril de 2018
Vidas Sem Rumo (Vidas Sem Rumo) 1956
Um bairro com a penumbra dos becos, as vielas tortuosas, os amores e esperanças íntimas: Gaivota, uma pobre tonta, sonha com um marinheiro que Pardal, o rapaz que a adora, deseja ser ele. Marlene, irmã de Gaivota, vive uma cruel realidade com Meia-Lua, um vadio à beira do crime e da violência. À noite, numa velha barca abandonada, Pardal faz-se capitão com outros que lhe dão curso à fantasia, até que o choro duma criança os surpreende. Será necessário protegê-la e, ao suspeitarem da sua origem, o bairro alvoroçar-se-á de desalento, ódio e ameaça…
Sobre este filme, escreveu a crítica em 1956: «Vidas sem rumo não é um passo em frente na cinematografia nacional mas também não é um passo à rectaguarda – o que já é raro e notável. “Vidas sem rumo” pretende ser neo-realista e lírico. É ambas as coisas em extremo, o que resulta numa super realidade poética, estranha e fantástica. “Vidas sem rumo” pretende ser humano. As figuras não são suficientemente analisadas e o nosso contacto com elas é superficial e rápido»
A terceira longa-metragem de Manuel Guimarães tinha argumento do próprio, com diálogos de Alves Redol. Por causa da sua declarada influência da cultura neorrealista foi visto pelo regime como uma ameaça à sua organização e ordem pública. Depois de três anos de rodagem viu uma grande parte das suas cenas serem censuradas, segundo os autores cerca de 45% das suas cenas foram cortadas, tornando o filme num dos mais tristes casos do cinema português.
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sábado, 7 de abril de 2018
Nazaré (Nazaré) 1952
A história da pobre comunidade piscatória da Nazaré, das suas tragédias, conflitos e dramas colectivos. António Manata e Manuel Manata são dois irmãos pescadores muito diferentes. Um é forte e valente e o outro fraco e cobarde. A mulher de António sonha em construir uma casa e vai juntando pedra para a fazer, mas o dinheiro da pesca nunca chega para isso. Manuel tem uma relação de amor-ódio com o mar. Para mostrar a todos que é um bom pescador, reúne uma companha, pede um barco emprestado e lança-se ao mar em busca do seu sustento e para vencer os seus medos.
Depois de "Saltimbancos" a carreira de Manuel Guimarães estava bem lançada, e, logo de seguida, com a colaboração de Alves Redol, faz este "Nazaré", uma obra que andava pelos mesmos caminhos de outro grande filme do cinema Português, "Maria do Mar". Sobre este filme Manuel de Azevedo escreveu:
«Não há dúvida de que o caso de Manuel Guimarães, por exemplo, nunca foi tratado com o carinho que merece e apontado pelo que representa de sincero esforço de reabilitação. Os seus filmes “Saltimbancos” e “Nazaré”, sendo embora insuficientes pela imprecisão estilística e falta de profundidade dramática, representam, no entanto, qualquer coisa de diferente, de sincero, de merecedora de respeito e interesse. Dizer que as suas obras não valem porque não são perfeitas, é o mesmo que exigir que todos os artistas sejam génios; ou que toda a criação seja uma obra prima».
Foi um bom sucesso do cinema português da altura. Em apenas três semanas já tinha 27 mil espectadores.
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quinta-feira, 5 de abril de 2018
Saltimbancos (Saltimbancos) 1951
Tony é um trapezista que consegue um emprego num pequeno circo. Quando uma tempestade leva a tenda Tony fica pelo amor de Belmira, que poderia ser uma cavaleira...se eles não tivessem vendido o cavalo. Brincam ao ar livre, dormem sob as estrelas, economizam cada centavo, porque há uma nova tenda a ser comprada...a crédito. Mas Belmira não é feliz, ela sonha com uma verdadeira casa, enquanto Tony vive fascinado pelo mundo do circo. E os dias sombrios estão de volta.
Este é o universo subterrâneo e exótico do Circo Maravilhas. Pequeno e decadente, tristonho e dramático na sua miséria, nos conflitos e fatalismo dos velhos artistas, na coragem da veterana trapezista, no trilhar errante duma aventura insolidária, onde o afecto e o companheirismo rasgam, no horizonte, uma esperança inextinguível...
Esta era a primeira longa metragem de Manuel Guimarães, feita numa altura em que o cinema português atravessava uma crise criativa. As comédias de costumes começavam a entrar em decadência, e não havia muito mais. Manuel Guimarães começou por ser o único realizador português a pegar num movimento muito em voga na Europa, principalmente em Itália: o Neorealismo. Embora com as suas imperfeições, seria o filme que mais se conseguia aproximar deste movimento. Depois de receber óptimas critícas estava lançada a carreira de Guimarães.
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terça-feira, 3 de abril de 2018
Manuel Guimarães
Manuel Guimarães é "um dos mais incompreendidos e mais injustamente desconhecidos realizadores portugueses, cuja obra é urgente rever e redescobrir"
Manuel Guimarães é "um dos mais incompreendidos e mais injustamente desconhecidos realizadores portugueses, cuja obra é urgente rever e redescobrir", lembra ainda a Cinemateca sobre o realizador que surge nos anos de 1950, antes da emergência do Cinema Novo da década de 1960.
Nascido na região de Albergaria-a-Velha, em 1915, Manuel Guimarães iniciou a carreira no cinema, integrado nas equipas de Manoel de Oliveira (de quem foi assistente de realização, em Aniki-Bóbó, em 1942), Brum do Canto ou Arthur Duarte, depois do curso de Pintura da Escola de Belas Artes do Porto.
Realizou o primeiro filme em 1949, a curta-metragem O Desterrado, sobre o escultor Soares dos Reis. Seguir-se-ia Saltimbancos, de 1951, que adaptava o romance de Leão Penedo. Acentuou a crítica social em Nazaré, sobre o dia-a-dia dos pescadores, e em Vidas Sem Rumo, centrado nas comunidades mais pobres de Lisboa, obras que o transformaram em alvo da censura e da ditadura do Estado Novo.
Para sobreviver, passou a dirigir filmes comerciais e reportagens de acontecimentos desportivos. Foi nesse contexto que surgiu A Costureirinha da Sé (1958), exemplar tardio da comédia "à portuguesa", já em registo de filme-opereta, filmado na zona histórica do Porto e marcado por um apurado trabalho da cor.
Na década de 1960, dirigiu O Crime da Aldeia Velha (1964), sobre a peça homónima de Bernardo Santareno, e "O Trigo e o Joio (1965), a partir do romance de Fernando Namora.
O documentário, porém, dominava a sua actividade regular: produções de arte para a RTP e filmes sobre temas como os tapetes de Viana do Castelo, o ensino das Belas Artes, o escritor Fernando Namora, o escultor António Duarte, os pintores Dórdio Gomes e Júlio Resende, ou Areia Mar – Mar Areia, já da década de 1970.
Tráfego e Estiva (1968), curta-metragem sobre Lisboa ribeirinha, com música de Carlos Paredes e narração de Luís Filipe Costa, foi o primeiro filme português rodado em 70 milímetros.
Em 1972, Manuel Guimarães ensaiaria a comédia em Lotação esgotada". Mas foi com Cântico Final (1975), a partir do romance de Vergílio Ferreira, que fez ressoar, no protagonista, os seus últimos anos de vida, como destaca a Cinemateca, na apresentação da obra. "Tocante reflexão biográfica", escreve a instituição, Cântico Final é a súmula perfeita de uma vida norteada por um sentido ético inflexível e uma obra desalinhada dos padrões críticos da sua época, mutilada pela censura e menosprezada pela história do cinema, mas sempre caracterizada por uma grande dignidade artística".
Manuel Guimarães morreu em Janeiro de 1975, aos 59 anos. A montagem de Cântico Final foi concluída por seu filho, Dórdio Guimarães."
Este texto do jornal Público dá origem a este ciclo sobre o realizador português Manuel Guimarães, uma das grandes jóias do cinema português, que só teve o azar de ter nascido na altura errada, apesar dos seus filmes estarem ligados ao neorealismo, que era então preponderante. Veremos aqui grande parte das suas longas, e também um número considerável de curtas. A partir de quinta-feira.
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