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domingo, 12 de setembro de 2021

A Fonte da Virgem (Jungfrukällan) 1960

A história do filme é beaseada numa lenda sueca do século 13, chamada "Tores Dotte i Vangd" (A filha de Tore o Vange).  No conto duas irmãs exploram o conceito do bem versus o mal, na forma de Karin, a irmã virginal loira, e Ingeri, a morena e temperamental que tem ciúmes de Karin. Enquanto caminhavam por uma floresta para trazer velas para a igreja, Ingeri confunde Kari tanto que a irmã loira que se perde na floresta, e a irmã a abandona sem dizer uma palavra. Três pastores de cabras andam à espreita na florenta, e quando descobrem Karin sozinha e perdida violam-na e matam-na. 
A maior objecção dos censores foi a sequência da violação com cerca de 90 segundos. Apesar dos censores de Detroit terem concordado em dar autorização aos três cinemas de arte da cidade, desde que eles mantivessem longe o público com menos de 18 anos, no entanto este filme tornou-se num caso especial, e os censores acabaram por eliminar a cena de violação em "Two Women" e neste filme, mesmo nos casos em que eles eram mostrados apenas para adultos. 
Em Forth Worth, no Texas, os censores invocaram uma portaria que proibia a exibição de qualquer filme que fosse "indecente ou injurioso para a moral dos cidadãos". O distribuidor recusou fazer o corte das sequências propostas, e o caso seguiu para tribunal numa disputa entre a Janus Films e a cidade de Forth Worth. Um caso polémico que acabou por valer uma vitória importante para a Janus Films. 

terça-feira, 8 de janeiro de 2019

O Rosto de Karin (Karins Ansikte) 1984

Uma curta-metragem em formato de documentário que é um projecto pessoal, ou até mesmo uma lembrança para o realizador sueco Ingmar Bergman. É feito inteiramente de fotos e apresentado num formato de tempo linear, concentrando-se principalmente na mãe de Ingmar Bergman, Karin.
O filme começa com uma foto do passaporte da mãe do realizador tirada apenas dois dias antes dela morrer. Esta velha mulher, uma ex-enfermeira, é uma mulher bonita. Já todos sabemos a sua história, porque já a conhecemos de filmes anteriores realizados ou escritos por Ingmar, Mergulhamos no álbum de família do realizador, e visitamos o passado da família do realizador. Lá a encontramos, e também o pai de Bergman, que já sabemos que o realizador odiava. 
O filme não contém diálogos, apenas rostos, mas parece-se muito com um sonho assombroso. 

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quarta-feira, 8 de agosto de 2018

A Vergonha (Skammen) 1968

Jan (Max von Sydow) e Eva Rosenberg (Liv Ullmann) são um casal apaixonado, habituado a discutir, que mora numa pequena ilha isolada, sem nome, na costa de um país também sem nome, envolvido numa guerra cívil, para o qual o casal apolítico prefere ficar distante. Ambos são violinistas clássicos que se mudaram para esta ilha há quatro anos atrás, quando a sua orquestra foi desfeita. Quando o inimigo ataca a ilha, ficam ambos ligados a esta guerra, de uma maneira ou de outra.
Ingmar Bergman, um realizador apolítico, dirige uma parábola sombria, passada num ambiente bucólico de uma quinta pacífica. Fala sobre o que a miséria da guerra causa a todos os envolvidos, já que não há forma de o evitar quando começa. O objectivo é forçar-nos a encarar a realidade de que qualquer um dos lados de uma guerra é capaz de infringir grande crueldade, e que a guerra só serve para nos desumanizar, à medida que exerce forças externas das quais muitas vezes não temos controle. Neste drama de guerra alegórico, nenhuma das posições dos lados é declarada e Bergman quer deixar claro que não importa quem está certo ou errado, porque pretende fazer uma declaração geral condenando todas as guerras como erradas.
"A Vergonha" foi nomeado como melhor filme do ano para a National Society of Film Critics, mas passados cinquenta anos é quase considerado um filme menor na carreira de Bergman (se é que há filmes menores). Talvez tivesse mais impacto se tivesse sido feito sobre uma guerra específica. Por exemplo, a guerra que estava a ser mais badalada nesta altura era a Guerra do Vietname. Acontece que dois anos antes, em "Persona", Bergman tinha utilizado imagens famosas de um monge vietnamita a queimar-se vivo, e por causa disso tinha sido considerado anti-guerra do Vietname, e recebido más críticas nos Estados Unidos.
Filme escolhido pela Dora Domingos. 

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segunda-feira, 1 de fevereiro de 2016

O Silêncio (Tystnaden) 1963

Enquanto viaja de comboio num país estrangeiro, uma jovem mulher chamada Ester adoece subitamente. Com ela viajam a irmã, Anna, e um jovem rapaz chamado Johan, que se vêm obrigados a parar num hotel. Enquanto Ester se vê presa numa cama, a irmã começa a explorar a cidade, na procura de saciar os seus apetites carnais, deixando Johan a vaguear pelo hotel. Quando Ester descobre o que a irmã anda a fazer fica devastada, já que ela tem sido a sua inteira vida...
"O Silêncio" é facilmente um dos filmes mais negros de Ingmar Bergman, mais perturbadores e mais ambíguos. Foi também um dos seus maiores sucessos comerciais, em parte graças às suas cenas de sexo explícito, muito ousadas para aquele tempo, mas inconsequentes para a nossa actualidade. O filme é considerado o terceiro numa trilogia que inclui "Through a Glass Darkly" e "Winter Light". A ligação entre estes três filmes é apenas vaga, no entanto eles são bastante similares. O primeiro mostra-nos um mundo onde Deus está revelado, o segundo um mundo onde Deus está escondido. "O Silêncio" mostra-nos um mundo sem Deus, um mundo onde os seres humanos parecem ter pedido a alma, e são conduzidos por desejos egoístas que os levam ao Inferno ou à extinção.
O próprio Bergman não estava satisfeito com a noção da trilogia. Talvez faça mais sentido colocar este filme ao lado do seu posterior, "Persona". Os dois filmes são muito semelhantes, ambos lidam com um relacionamento íntimo muito complexo entre duas personagens femininas muito semelhantes. Em "Persona" as duas personagens parecem convergir para uma única identidade, enquanto em "O Silencio" as duas parecem estar num processo de divergência. Nos dois filmes as duas mulheres são dois aspectos contrastantes de um mesmo indivíduo - o espírito e a terra, a alma e a carne. Tudo isto é enfatizado pela fotografia de alto contraste de  Sven Nykvist. Luz e sombra claramente delineadas com as personagens do filme, representando dois componentes essenciais do nosso universo - o bem e o mal.
O problema de comunicação está no centro de muitos filmes de Bergman, mas aqui é fundamental. Não só as duas personagens principais acham muito difícil comunicarem uma com a outra (este caso incestuoso tornou-se numa aversão mútua), mas as duas também parecem completamente isoladas do mundo ao seu redor. Estão num país estranho, cuja língua não percebem e cujo povo não conseguem comunicar. Estão sozinhas, no verdadeiro sentido da palavra. 
O único personagem que faz a ponte entre as duas mulheres, e também entre o mundo exterior, é o jovem Johan. Ele tem uma empatia especial para todos que encontra. Johan é sábio apesar da sua idade, e está ciente de que a angústia pode ser razão para não se conseguir comunicar. Sem comunicação não há entendimento, sem entendimento há medo, e o medo leva-nos para a guerra. Uma curiosidade, o actor que interpreta Johan, Jörgen Lindström, seria visto na sequência de abertura de "Persona". Uma indicação, talvez, de que Bergman pretendia fazer uma ligação entre os dois filmes. 

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quinta-feira, 27 de novembro de 2014

Um Verão de Amor (Sommarlek) 1951



Marie (Maj-Britt Nilsson) é uma bailarina clássica não muito jovem que, ao encontrar um antigo diário, recorda um verão que passou com Erland (Georg Funkquist), um possessivo tio que vivia com a sua cancerosa esposa (Renée Björling) numa ilha perto de Estocolmo. Lá Marie faz amizade com um inocente jovem, Henrik (Birger Malmsten), por quem ela se apaixona. Quando o verão está para terminar os jovens amantes estão muito envolvidos, mas algo trágico irá acontecer.
Em 1958, em resposta a uma retrospectiva francesa dos filmes de Ingmar Bergman, que na altura tinha 19 filmes realizados, Godard publicou um artigo nos Cahiers du Cinema, comparando efusivamente a obra do realizador sueco com a de outros como Orson Welles, Jean Renoir, Alfred Hitchock, e Roberto Rossellini. Por esta altura já Bergman tinha realizado alguns dos seus melhores filmes, mas Godard reservou os mais belos elogios para este "Sommarlek", que considerou "o mais belo dos filmes".
É interessante perceber porque é que Godard ficou tão tocado por este filme, já que não é dos mais famosos nem reconhecidos filmes do realizador, embora tenha desempenhado um papel importante na formação da sua identidade cinematográfica, apontando para a direcção que o realizador tomaria nos seguintes anos. Era um projecto muito pessoal, que derivava directamente das memórias de um caso amoroso do realizador. Bergman chegou a dizer que este filme era mesmo uma reviravolta na sua carreira, e a primeira vez que um filme realmente lhe odedecia. Talvez este espírito independente, a voz de um artista totalmente envolvido no seu espírito de criação, que Godard viu no filme.
Bergman escreveu a história com o mesmo argumentista do filme anterior, Herbert Grevenius, e é construida em torno de uma estrutura em flashbacks bastante simples, mas bastante eficaz, que constrasta a monotonia do presente com a beleza do passado, mas sem resvalar para a generalização fácil, ou a nostalgia.
Com uma intensidade dramática bastante flexível, "Sommarlek" sugere que o esplendor do primeiro amor é passageiro, e que pela sua própria natureza pode ser apenas temporário, embora a sua memória nunca se desvaneça. O filme é estruturado em torno da tragédia e da inocência perdida, e termina com uma nota edificante em que voltar ao passado pode se tornar num meio importante de se compreender o presente.

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quarta-feira, 26 de novembro de 2014

This Can't Happen Here (Sånt Händer Inte Här) 1950

 Atka Natas é um agente secreto da ditadura de Liquidatzia. Ele visita a sua ex-mulher Vera, uma química que está envolvida com um grupo de exilados, tentando levar os seus compatriotas para fora de Liquidatzia. Almkvist, um policia honesto e ex-amante de Vera, entra em contato com ela enquanto investiga a morte de um dos refugiados. Natas tem uma lista de agentes que operam no país que os recebe e quer vendê-los aos americanos. No entanto, antes que possa fazê-lo, Vera tenta matá-lo, depois de uma discussão sobre a tentativa de mandar os seus pais para fora de Liquidatzia.
"Sånt händer inte här", é de longe considerado o pior filme de Bergman. Se o nome Alan Smithee existisse nos anos 50, provavelmente tinha adquirido os créditos da realização deste filme. Assim que Bergman conseguiu alcançar alguma influência tentou renegar esta obra, e pediu para que ela não fosse mostrada novamente, o que foi cumprido pelas autoridades suecas.
Baseado no livro "Within 12 Hours" do escritor norueguês Peter Valentin (um pseudónimo de Waldemar Brøgger) que foi publicado em Estocolmo em 1944 pela Bonniers. Devido ao conflito eminente entre o Governo sueco e a indústria cinematográfica por causa do imposto sobre o entretimento, a Svensk Filmindustri fez questão de produzir um possível sucesso internacional na forma de um thriller de espionagem. Herbert Grevenius foi contratado para escrever o argumento, e Ingmar Bergman, por razões financeiras, acabou a dirigir. Acabou por se tornar numa experiência dolorosa para ambos. 
A maior parte das críticas foram negativas, mas um número considerável de críticos não sabia se deviam levar o filme a sério.  Grevenius e Bergman eram personalidades sérias no mundo do cinema, e por isso era difícil de acreditar como tinham concluido tal coisa.

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terça-feira, 25 de novembro de 2014

Rumo à Felicidade (Till Glädje) 1950



No início, anuncia-se, de maneira quase indiferente, a morte da esposa e da filha a Stig Eriksson, o marido. A sequência seguinte poderia ser a cena de encerramento, em que o maestro e amigo, interpretado pelo ator e também diretor Victor Sjöström (o mesmo ator do incrível Morangos Silvestres) consola o recém-viúvo. Porém, entre os quatro minutos iniciais e a cena final, há o miolo, apresentado na forma de uma grande elipse, que constrói o curso do relacionamento entre os dois músicos ao som da Ode à Alegria da Nona de Beethoven.
Alguns que escreveram sobre esta obra a consideraram marcadamente banal; um mero ensaio de temáticas que seriam melhor desenvolvidas por Bergman em outros filmes, como Uma lição de amor e, sobretudo, em Cenas de um casamento. Outros lembram que Bergman estava no meio de uma separação amorosa na época das filmagens (seu segundo divórcio, de vários que ainda viriam) o que explicaria muita coisa. E não deixam de ter certa razão. Se considerarmos o miolo, trata-se de um roteiro bastante banal realmente: um casal de músicos violinistas pertencentes a uma mesma orquestra, sem grandes posses, em constantes dificuldades financeiras, sem grande talento no exercício do seu ofício, sem grande carisma, um marido bastante dependente e imaturo que tem uma jovem amante, uma esposa bastante compreensiva, que busca cuidar dos filhos, que já foi casada e que já abortou, que ama Sig, um casal que passa por crises em seu relacionamento. Nada realmente de especial.
Esta digressão de aproximadamente uma hora e vinte minutos, porém, apesar de compor um arco muito bem resolvido e construído, flertando ora com o melodrama ora com a poesia, com seus excelentes momentos, é apenas o instrumento pelo qual se acessa o significado da dor de Sig, sobretudo nos minutos iniciais, e as palavras de consolo do maestro, na cena final. O convívio com o cotidiano da vida do casal acessa o conteúdo daquilo para o que inicialmente éramos indiferentes, à maneira de um mecanismo empático. O menino é a solidão de Sig, mas é também a de Bergman, uma solidão que transborda da Lanterna mágica, sua autobiografia, de seus problemas familiares, do difícil convívio com seu pai, das suas brigas com Deus – a constante constatação de que estamos sozinhos.
A mediocridade de Sig como violinista, que falha barbaramente ao tentar o cargo de solista, seria então a do jovem diretor, em um dos primeiros filmes de sua longa carreira? Quando filmar é um modo de alcançar as esquinas mais sombrias da alma, Bergman é hábil ao usar como argamassa da produção artística os seus demônios privados.
Quem lê estas anotações deve estar curioso quanto ao título, Rumo à felicidade (Till Glädje), pois seria possível se argumentar a esta altura que não se trata de uma história propriamente feliz, mas pesada e melancólica. Retome-se, porém, a ideia de que o argumento do filme reside em suas extremidades, e, se a música de fundo é, não impunemente, a Ode à alegria, a conclusão é a gratidão pela vida, aquela que não se expressa perfeitamente pela linguagem das palavras.
O papel da música, aliás, parece ser central em expressiva parte da obra do diretor sueco. Um exemplo significativo: em O sétimo selo, a Morte declama um trecho do capítulo oitavo do livro das revelações ao som da cantata Carmina Burana, de 1937 – que é a primeira parte da trilogia composta pelo alemão Carl Orff a partir do codex de poesia medieval, formada também pela Catuli Carmina, de 1943, e pela Trionfi dell’Afrodite, de 1952.
A música é também o tema de fundo de Rumo à felicidade e, a partir destas considerações, é possível se localizar precisamente o tom de gratidão, a que nos referimos, que se imprime à obra: depois de saber da morte de Marta, o maestro explica que a música é uma questão de alegria. Uma alegria que não se expressa em risos, ou a felicidade que diz “Eu sou feliz”, mas que é uma forma de felicidade tão imensa, tão particular, tão espiritual que se encontra além da dor e do desespero sem limites. Uma felicidade além de toda compreensão.
Texto de Leonardo Branco. Daqui.

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segunda-feira, 24 de novembro de 2014

Sede de Paixão (Törst) 1949


Escrito por Herbert Grevenius (o mentor de Bergman), que colaborou com ele em vários outros filmes, e adaptado de várias curtas escritas pela actriz Birgit Tengroth, a estrutura da história é uma tentativa transportar as relações complicadas dos seus personagens.
Grande parta da acção apresenta-nos um casal problemático, Ruth (Eva Henning) e Bertil (Birger Malmsten), quando eles regressam a Estocolmo depois de uma viagem a Itália. A Europa que eles visitam foi devastada pela guerra, com a paisagem cicatrizada, tal como o casal tem as suas ruínas emocionais. No comboio em que viajam, discutem o casamento, brigam, atiram comida para os alemães esfomeados, e até recebem conselhos de um padre sueco. Atormentada por insónias e alcoolismo, a mente de Ruth voa para lembranças de um caso que teve com Raoul (Bengt Eklund), um homem que a manteve como amante até ela ficar grávida. Um aborto mal feito deixou-a estéril, e quase arruinou a sua carreira de bailarina.
Eva Henning é o que de melhor se pode encontrar neste filme. Ela interpreta a bailarina Ruth com uma energia maníaca, saltando de polo para outro no espaço de duas frases. Num momento ela está bem, e logo a seguir está mal, alternando entre o passado e o presente, que dá ao filme uma sensação muito noirish.     
O tema central é mais uma vez a lenta dissolução do casamento, bastante familiar para quem conhece a obra de Bergman, e que foi tão bem explorado em obras como "Scenes from a Marriage", mas também "Summer With Monika". Em termos gerais este é um Bergman em boa forma. O seu trabalho atrás da câmera é bastante inventivo, e supera alguns problemas a nível de diálogos que se encontrava em filmes anteriores, conseguindo um brilhante trabalho da sua actriz principal, assim como todo um excelente trabalho técnico.
Legendas em inglês.

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domingo, 23 de novembro de 2014

Prisão (Fängelse) 1949



No ínício do filme, um realizador (Hasse Ekman) é abordado por um ex-professor (Anders Henrikson), agora envelhecido, acabado de saír de um asilo para doentes mentais, e que lhe lança a idéia de um filme sobre o Inferno na Terra. A vida é "um caminho cruel mas sedutor entre o nascimento e a morte",  diz Henrikson, mas Ingmar Bergman, trabalhando pela primeira vez a partir de um argumento dele próprio, passa o resto do filme a tentar argumentar o contrário. Será que Deus está morto? Será que ele alguma vez existiu? Qualquer pessoa que realmente pense sobre a vida comete suicídio, afirma o escritor interpretado por Birger Malmsten, cuja visão niilista do mundo é nos mostrada através da sua relação com uma prostituta adolescente (Doris Svedlund). Os personagens principais são modelos deste primeiro período do jovem Bergman conturbado, onde o peso do mundo lhes esmaga a alma, e só o isolamento regressivo lhes oferece refúgio.
Extremamente sombrio (o título em sueco significa prisão), o filme é, obviamente, uma purgação para a tensão de jovens cineastas, neuroses, embora o desespero de Bergman aqui esteja próximo de um egoísmo mórbido e angustiante.
Mesmo com alguma familiaridade com os psicodramas obscuros de um universo sem deus que viriam a compor muitos dos filmes posteriores de Bergman, este filme seria recebido com algum choque. Os seus primeiros filmes (anteriores a este "Prisão") tinham alguns elementos mais escuros, mas em geral eram melodramas muito mais sociais, adaptados da literatura popular, com um público muito mais comercial em conta. "Prisão", foi, de facto, o primeiro filme onde Bergman teve o controlo sobre tudo, e o ambiente ficou muito mais negro. Percebendo que este não seria o tipo de filme que a Svensk Filmindustri financiaria, Bergman levou o script para a Terrafilm, para quem já tinha realizado anteriormente "Music In Darkness". Por necessidade, já que não iria ser um filme comercial, "Prisão" teve de ser feito com um orçamento muito limitado, e num espaço de tempo muito curto, e o resultado é consequentemente tenso e sombrio, muito mais perto do Bergman que conhecemos, do que qualquer outro filme realizado por si nos anos 40.

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sábado, 22 de novembro de 2014

Ingmar Bergman - Parte 2

No passado mês de Agosto iniciamos aqui uma série de ciclos dedicados a Ingmar Bergman, nos quais pretendemos visitar toda a sua carreira. Depois dos primeiros cinco filmes, nesta segunda parte vamos pegar na sua carreira de 1949 até 1951.
Aqui, os filmes de Bergman concentram-se em jovens amantes, geralmente das classes trabalhadoras. A maioria das vezes a acção passa-se nas cidades e nos seus subúrbios, com claras influências do neo-realismo, principalmente Roberto Rossellini. A recordação é um importante recurso estilístico nesta fase.
Vamos acabar este ciclo com "Sommarlek", o filme que revelaria internacionalmente Bergman, e que seria a sua primeira participação num festival internacional de cinema (neste caso, Veneza). Neste filme, através de flashbacks, ele vai abordar uma série de temas que seriam recorrentes na sua obra, como a perda da identidade artística, o fim do amor, e da lenta decadência da vida, que passam a partir daqui a ser exploradas com uma nova confiança.



Sendo assim, o alinhamento para esta semana vai ser o seguinte:

Domingo: Prisão (1949)

Segunda: A Sede (1949)

Terça: Rumo à Felicidade (1950)

Quarta: This Can't Happen Here (1950)

Quinta: Um Verão de Amor (1951)

sexta-feira, 22 de agosto de 2014

Cidade Portuária (Hamnstad) 1948



Berit é uma jovem com problemas, é suicida e depressiva. Como lhe é impossível viver com a mãe, ela passou muitos anos em instituições. Agora ela tem um emprego numa fábrica, com a condições de que possa viver com a mãe de novo. A relação entre as duas continua muito tensa, até que uma noite ela conhece um homem chamado Gösta. Será que ele a poderá ajudar?
Na sua quinta longa-metragem Bergman deixa os limites da cidade, e da vida urbana, e vai para fora, filmando em exteriores, num verdadeiro estaleiro naval. A utilização de um ambiente verdadeiro prepara a acção para um argumento mais realista, e sexualmente mais firme. Se Gösta à primeira vista parece um personagem bidimensional, é apenas porque ele não tem sentimentos. Ele pode lutar por uma mulher, e até mesmo dizer que a ama, mas não até Berit testar os seus níveis de compromisso, que ele também tem de testar a si próprio. A sua explosão emocional é intensa, mas a sua mudança para uma alma sensível é convincente. A certa altura Bergman tem Eklund a olhar directamente para a câmera como se ele estivesse a olhar directamente para o público, em vez da prostituta com quem ele está no quarto, e o efeito é de arrepiar.  
"Hamnstad" está um pouco à frente no seu tempo, mostrando directamente que a maioria dos reformatórios são prejudiciais para problemas futuros. Bergman arranca um desempenho notável a Nine-Christine Jönsson. Como Berit ela é perturbada e neurótica, mas também consegue arrancar momentos de ternura. Aqui já temos uma sugestão da afinidade de Bergman para trabalhar com actrizes. Afinidade essa que lhe daria alguns dos seus melhores trabalhos, no futuro.

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quarta-feira, 20 de agosto de 2014

Uma Luz nas Trevas (Musik i Mörker) 1948



Na Suécia, o pianista da classe alta, Bengt Vyldeke, sofre um acidente no serviço militar, e fica cego. Volta para casa da sua tia, Beatrice Schröder, e no ínicio é ajudado pela irmã Agneta, desde que a sua noiva Blanche o abandonou.Quando Agneta vai para a universidade é a jovem criada Ingrid que ajuda Bengt na sua vida diária, e acaba por se apaixonar por ele...
Depois de gozar o sucesso dos seus dois primeiros filmes, Bergman foi abruptamente trazido de volta à terra depois do fracasso comercial de "A Ship Bound For India". O realizador ainda tinha muito a aprender sobre a indústria do cinema, e a sua primeira consideração nesta fase da carreira, é que os seus filmes tinham de ser um sucesso comercial. Depois de deixar a Svensk Filmindustri, foi trabalhar com um produtor independente chamado  Lorens Marmstadt, e os seus estúdios Terrafilm, para trabalhar na adaptação de "Music in Darkness", de Dagmar Edqvist. Bergman odiava a história, mas trabalhou com o autor no argumento, e estava determinado a manter o filme divertido, dentro do estilo do seu mentor inicial, Gustaf Molander. Resultou, e o filme foi um sucesso, consolidando a reputação de Bergman, e abrindo caminho para a Svensk Filmindustri.
Apesar de ter sido um sucesso como entretimento popular, não tem quase nada do que hoje em dia é reconhecível de Bergman, e é um melodrana bastante leve. A luta por equilibrar o melodrama com o psicodrama porque ele se tornaria conhecido nos seus filmes posteriores, é evidente nas primeiras cenas do filme. Bergman equilibra bem o contraste entre a escuridão e a luz, dando ao filme um tema forte, balanço e estrutura, mas parece não ter a força das suas convicções melodramáticas. Na altura em que fez este filme, não parecia ter a convicção ou a capacidade de retratá-lo melhor na tela. Ainda assim é uma curiosidade para os fãs do realizador.  

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Um Barco para a Índia (Skepp till India Land) 1947



O marinheiro Johannes Blom regressa ao seu porto de origem, depois de sete anos no mar, para descobrir que a mulher em quem ele pensava está completamente desanimada. A história anda então sete anos para trás (os flashbacks viriam a tornar-se habituais nos filmes de Bergman), até uma altura em que Johannes vivia e trabalhava com o seu abusivo pai, Alexander.
Terceiro filme de Ingmar Bergman, e o primeiro a ser lançado na América. É uma história melodramática, madura e complicada, sobre quatro almas díspares, cujas vidas precisam de ser recuperadas. Todas elas parecem ter algum tipo de ligação com um rebocador velho que salva destroços. Bergman escreveu o argumento a partir de uma peça de  Martin Söderhjelm, e apesar de estar ainda longe dos seus melhores trabalhos, já se encontram aqui alguns vislumbres do que viria a ser o seu cinema, sobretudo no que toca à alienação e à solidão, temas que seriam recorrentes na obra do realizador.
Com este filme, Bergman estende o naturalismo teatral dos seus dois primeiros filmes, para uma formação um pouco mais grotesca da crueldade humana, através da empobrecida família de Blom, e são rasgados e torturados por várias decisões, demónios e deformidades. E tal como muitos dos filmes posteriores de Bergman, apresenta aqui o litoral como cenário, a mais sombria e radiante vista da Suécia, um desperdício de luz que não favorece muito a captação cinematográfica, mas do qual Bergman sempre soube tirar o máximo proveito.
É um dos filmes mais complexos psicologicamente do realizador, que faz um uso abusivo do simbolismo. Recebeu uma grande ovação no festival de Cannes.

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terça-feira, 19 de agosto de 2014

Chove no Nosso Amor (Det Regnar på Vår Kärlek) 1946



Maggi conhece David depois de ter perdido o comboio, e passa a noite com ele. Sem dinheiro, os jovens amantes invadem uma casa de verão, mas são surpreendidos pelo dono, que se oferece para lhes alugar a casa, não sabendo eles que esse homem tem um motivo escondido. Vivendo juntos, os dois jovens têm de enfrentar o passado, e lidar com uns vizinhos intrometidos, e as autoridades.
O segundo filme de Ingmar Bergman pode ser pouco polido, e faltar-lhe a profundidade que iria caracterizar o seu trabalho posterior, mas é mais do que uma curiosidade no seu catálogo secundário. Os primeiros sinais de um realizador capaz de atraír o seu público para a situação de personagens altamente empáticas, neste caso, dois estranhos que se encontram numa estação de comboio. Ambos estão abandonados à sua sorte, sem dinheiro, e com um passado turbulento.
Embora atravessado por algumas piadas centradas nas personagens excêntricas da cidade, o filme acaba por trazer uma visão bastante sombria da humanidade. Independentemente das boas intenções do casal, cada mudança para melhor é logo anulada por alguma suspeita ou má vontade dos que os rodeiam, especialmente da parte da esposa do homem que emprega David. A sua resposta maliciosa ao primeiro sinal de perigo de David, ao aceitar uma má noticia através de um telefonema perguntado com uma alegria malévola "O que aconteceu...alguma coisa trágica?", representa o pico do desprezo, atirado como um balde de água fria. Um filme bastante interessante, apesar de se encontrar longe das melhores obras do realizador.

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segunda-feira, 18 de agosto de 2014

Crisis (Kris) 1946



Ingeborg é uma professora de piano numa cidade pequena, que cria a sua filha adoptiva, Nelly, até à idade adulta. Quando Nelly faz os 18 anos, fica chocada com a chegada de Jenny, a sua verdadeira mãe, a quem ela chama de "tia". Jenny quer levá-la para a grande cidade, e ensiná-la a ser esteticista no seu salão. Estas são notícias devastadoras para Ingeborg, que está doente e não espera viver muito tempo. Ulf está apaixonado por Nelly, e pede-lhe para ficar, mas ela não gosta dele, e está apaixonada por outro homem.
A estreia de Bergman no mundo do cinema manteve um pé no mundo do teatro, com uma adaptação de uma peça de Leck Fisher. A "crise" do título não é referente a uma ameaça física ou situação perigosa, embora haja pelo menos um personagem à beira do precipício, do qual poderá não voltar. Pelo contrário, cada crise que é enfrentada neste filme, é de alma. O filme é um conto de moralidade, e as circunstâncias da narrativa de todas as pessoas envolvidas a questionarem as escolhas que fizeram e onde estão eticamente nas suas vidas.
Superficialmente, e provavelmente para a maioria dos críticos, "Crisis" representava a sedução de uma inocente da pequena cidade, pela corrupção da cidade grande. Mas a forma como a história é contada sugere abordagens de questões mais profundas, de ordem psicológica da angústia existencial, que futuramente iriam estar por detrás de muitas obras de Bergman. A expressão cinematográfica de Bergman já estava bem desenvolvida aqui, mas a inexperiência do realizador estava bem patente, quando ele se sentiu perdido ao fim de três semanas de filmagens, tendo sido enviado Victor Sjostrom para supervisionar o trabalho. Bergman tinha apenas 28 anos nesta altura.

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sábado, 16 de agosto de 2014

Ingmar Bergman - Parte 1

Em Hollywood, apaixonar-se é um final feliz. Nos filmes de Ingmar Bergman o amor é apenas o começo, e o final é sempre uma dúvida. Mas a reputação de Bergman pela melancolia não é merecida.Os primeiros filmes de Bergman têm títulos como "Torment" (como argumentista), e "Crisis", mas eles estão cheios de vida, paixão e ternura, pelo menos nestes primeiros tempos.
A carreira de Bergman começou como argumentista em "Torment" (1944), um conto noir-ish sobre um estudante volátil e o seu sádico professor de latim.  Elegantemente dirigido por Alf Sjoberg, o argumento deste filme já tem as marcas de Bergman: personagens vivas, imprevisíveis, franqueza sexual, e uma visão céptica dos pilares culturais, desde o romance à honra. A primeira aventura de Bergman na realização, "Crisis", traz outro elemento de destaque, os pequenos mas poderosos conflitos entre as mulheres, com uma jovem a ficar dividida entre a sua mãe biológica e a mulher carinhosa, mas conservadora, que a criou. As tensões entre mãe e filha persistem em "Cidade Portuária", um dos mais fortes filmes que veremos esta semana, uma jovem rebelde cuja mãe a envia para o reformatório, para lhe impedir os impulsos suicidas, acabando por se apaixonar por um marinheiro. Este breve e deprimente resumo não captura o fluído movimento da câmera, ou a potência emocional do filme, que equilibra a miséria com a ânsia e a esperança.
Há uma vitalidade e frescura surpreendente nas interpretações de todos os filmes de Bergman. Desde o início Bergman desenha algo genuíno dos seus actores, desenvolvendo um estilo visual que consegue ser atraente, embora aparentemente sem esforço, nunca tentando uma visão impressionante, mas simplesmente capturando os momentos inesperados da vida. Os primeiros filmes de Bergman são mais crús que os seus clássicos posteriores, mas por vezes o talento pode ser visto mais facilmente na sua forma menos polida.



Vamos iniciar aqui uma série de ciclos dedicado a este realizador, ainda sem as próximas datas marcadas, mas vamos começar aqui, com os seus cinco primeiros filmes.

Segunda: Crisis (Kris), 1946

Terça: Chove no Nosso Amor (Det Regnar på vår Kärlek), 1946

Quarta: Um Barco para a Índia (Skepp Till India Land), 1947

Quinta: Uma Luz nas Trevas (Musik i Mörker), 1948

Sexta: Cidade Portuária (Hamnstad), 1948

segunda-feira, 10 de junho de 2013

Noite de Circo (Gycklarnas Afton) 1953



Noite de Circo (Gycklarnas Afton) é geralmente considerado um dos primeiros filmes, se não o primeiro, que realmente definiu as preocupações estilísticas e temáticas de Ingmar Bergman, talvez porque se sente que ele tivesse sido tirado directamente do subconsciente do férvido realizador. Bergman afirma que a inspiração para o filme veio de um dos seus sonhos, que ele traduziu com uma sequência de flashback surreal e fundamental, no início do filme. De acordo com a sua autobiografia, Bergman escreveu o argumento num período de três semanas, sem parar para pensar, que ressalva ainda mais a opinião de que o filme veio directo do seu subconsciente. Foi também a primeira colaboração de Bergman com o lendário diretor de fotografia Sven Nykvist, que assumiu o lugar quando o anterior diretor de fotografia deixou a produção para para viajar para os Estados Unidos para um curso sobre a utilização da câmara CinemaScope.
Tendo lugar na viragem para o século 20, "Noite de Circo" passa-se num circo itinerante quase na miséria, o que imediatamente dá ao filme um certo ar de surreal, com os seus palhaços, animais treinados, e outros locais vagamente bizarros. O personagem principal é Albert Johansson (Åke Grönberg), o proprietário corpulento do circo que está constantemente suando através da sua meia-idade. Quando o filme começa, o circo está de volta à pequena cidade onde ele deixou a mulher (Annika Tretow) e os filhos, há muitos anos. A amante de Albert, uma linda jovem chamada Anne (Harriet Andersson), não gosta da idéia de que ele planeia para ver a sua ex-esposa, então permite que os seus ciúmes a conduzam para os braços de Frans (Hasse Ekman).Como a história sugere, o filme gira em torno dos ciúmes e da humilhação sexual, algo com que Bergman estava particularmente sintonizado. Quando escreveu e dirigiu este filme já estava no terceiro casamento, e estava envolvido numa relação extra-conjugal com Harriet Andersson, uma desconhecida a quem ele tinha feito uma estrela, lançando-a no seu filme anterior, "Sommaren med Monika" (1953). O filme toca numa série de pontos amargos em que os personagens são tentados por outros a falhar miseravelmente para manter a sua dignidade.
Para Albert, ver a sua esposa e os filhos pela primeira vez em muitos anos será tenta-lo com a oportunidade de deixar a vida no circo, uma vida nómade e errante e uma grande falta de estabilidade. Enquanto esta vida já foi suficientemente deslumbrante para ele deixar a família, falhou claramente ao não conseguir fazer bom uso da promessa de independência e aventura. Anne, por outro lado, parece agir principalmente por causa do medo, sentindo que Albert estará tentado a deixá-la por um uma vida normal, assim ela terá de deixá-lo em primeiro lugar. Bergman desenhou pedaços de si próprios em ambos os personagens, mas particularmente em Albert com o seu desejo simultâneo do show business e da normalidade burguesa (curiosamente, este é um dos poucos filmes que Bergman, que também era um director de teatro, passado no mundo do show business). 
Como muitos dos filmes de Bergman são autobiográficos por natureza, pelo menos emocionalmente e filosoficamente, é difícil não ler aqui uma mentalidade escura, que oferece a melhor promessa de reconciliação, mas há esperanças na felicidade genuína. Os personagens são todos destorcidos e tristes, vivendo vidas miseráveis, ​​e não transcendendendo as suas limitações. O filme chega a um ponto culminante de tristeza e absurdo quando Albert e Frans lutam no anel central do circo. A luta literal de Albert pelo respeito termina com ele a comer a poeira, uma imagem apropriada para uma visualização desanimada do filme sobre a natureza das relações humanas. Outro ponto importante, o flashback citado no início do filme, envolvendo o palhaço do circo (Anders Ek) ter que recuperar a esposa (Gudrun Brost) a partir de um mergulho despido, com um grupo de soldados a olhar de soslaio e rindo. Bergman filmou a sequência de uma forma tão dura, com a luz superexposta a assumir um tom de pesadelo, com a imagem branqueada ameaçando a mesma falta de visão e coerência tradicionalmente associada com a escuridão. 




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sexta-feira, 10 de maio de 2013

A Hora do Lobo (Vargtimmen) 1968


Cheio de fantasmas e de shock-cuts, A Hora do Lobo (1968) é o mais próximo que Bergman alguma vez esteve de fazer um filme de terror.. Max Von Sydow interpreta um artista solitário que se refugia com a sua esposa (Liv Ullmann) numa uma ilha remota para trabalhar. "Vizinhos" abrasivos e assustadores começam a incomodá-lo, mas todos eles são apenas fantasmas - fantasmas da sua mente. Infelizmente, a esposa do artista começa a vê-los também. Algumas das imagens, como a de um menino a olhar para Von Sydow quando ele está a pescar, irá assombrá-lo muito tempo depois. O filme é contado a partir do ponto de vista de Ullmann, depois do artista estar morto. Ela fala diretamente para a câmera, com barulhos da equipa de filmagem a poderem ser ouvidos durante os créditos de abertura, lembrando-nos desde o início que tudo isto é só um filme.
Um primo mais escuro de "Persona", "A Hora do Lobo" mantém uma estrutura mais familiar - sequências estranhas contadas em flashback pela viúva do artista -, mas afastam-se das confissões emocionalmente vulneráveis ​​da viúva, como a mentira, o segredo, do pintor a morrer emocionalmente, que perde a capacidade de discernir a realidade, mas é suficientemente cognitivo das suas ações para a observação clínica dos efeitos sobre a sua leal esposa.
Com as recordações de Ullman, um final chocante, e uma fotografia num preto e branco requintado, há uma semelhança especial com o chocante clássico de 1961, de Jack Clayton, "Os Inocentes." Como o pesadelo do funeral  em "Morangos Silvestres", e a banda-sonora de Lars Johan Werle faz lembrar o vale de lama surreal de Alejandro Jodorowsky em "Fando e Lis" (em termos de sonoridade e texturas físicas há uma semelhança indireta).

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