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sábado, 24 de maio de 2014

Cobra Verde (Cobra Verde) 1987



O temido bandido Cobra Verde (Klaus Kinski) é contratado pelo dono de uma plantação para supervisionar os seus escravos. O bandido acaba por se envolver com as filhas do patrão e engravida-as. Em vez de o mandar matar, o patrão envia-o para África, para um local onde é o único homem branco, e onde vai ser vítima de humilhação e tortura. Mais tarde, ele irá treinar soldados num exército rebelde. Longe de casa, Cobra Verde está à beira da loucura.
Um filme exótico e de uma grandeza épica, com espetaculares imagens, não só do Brasil, mas também dos rituais e costumes africanos, do mar, das florestas, incluindo ainda um exército de mulheres ganesas em topless. Herzog alcançou toda esta beleza por uns meros 2 milhões de dólares. Muito pouco comparado com um filme "grande" de Hollywood da altura. Infelizmente, o argumento, e as suas metáforas, não pareciam ser muito claras para ele. Herzog começa por fazer a avaliação da vida dura de um bandido brasileiro, e acaba a explorar o comércio de escravos africanos. Talvez haja uma semelhança entre estas duas atrocidades, com o fictício Cobra Verde a servir de ligação devido aos seus próprios problemas, e a ambição que o levou a fazer coisas que vão acabar por o destruir.
Herzog deixa Kinski andar mais livremente, talvez porque já não tivesse forças para o conter, o que leva Kinski a ter a sua interpretação mais desinibida e desequilibrada. O personagem de Kinski é incansável, e, como sempre, o actor tenta o impossível, como um homem destemido, astuto e insano. A interpretação de Kinski é maníaca, e é incrível como aos 61 anos consegue ter um desempenho tão físico, mas a sua agitação interna, e a força com que trabalha com os africanos são de um jovem de 25 anos.
Seria o último filme entre Herzog e Kinski. Nunca mais voltariam a trabalhar juntos, e Kinski faleceria apenas quatro anos depois, vítima de um ataque de coração. Depois deste "Cobra Verde" Kinski só entraria em mais três filmes. Mas ainda seria recordado no documentário de Werner Herzog.

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sexta-feira, 23 de maio de 2014

Fitzcarraldo (Fitzcarraldo) 1982



Fitzcarraldo (Klaus Kinski) é um homem obcecado por ópera, que quer construir uma Ópera no meio da selva. Para conseguir isso ele primeiro tem de fazer uma fortuna no negócio da borracha, e para o conseguir ele elabora um plano astuto que envolve transportar um enorme barco pelo rio, através de uma montanha com a ajuda dos indios locais.
Uma das melhores colaborações entre Kinski e Herzog, talvez apenas suplantada pelo primeiro filme dos dois (Aguirre), e talvez mesmo o melhor do ponto de vista visual. Falta-lhe apenas a crueza e a ferocidade que fizeram de "Aguirre" um filme tão convincente. Nesse aspecto "Fitzcarraldo" é um filme mais simples.
Mas simples não é bem a palavra certa para este filme, uma vez que envolve arrastar um navio através de uma montanha. Herzog arrastou mesmo um navio através de uma encosta, apesar de lhe terem dito que era impossível. Com Stanley Kubrick disse: "Um filme é - ou deve ser - mais sobre música do que sobre ficção. Deve ser uma progressão de estado de espírito e de sentimentos. O tema, o que está por trás da emoção. O sentido, tudo o que vem depois". O filme fala para nós a um nível muito profundo, mas explicá-lo em palavras é muito difícil, já que mesmo o realizador não é capaz de fazê-lo. Isto resume o filme perfeitamente, já que não há razão para tentar explicá-lo verbalmente, pois representa o cinema na sua forma mais artística.
Kinski, num dos seus papéis mais frenéticos, aparece aqui na sua melhor força. O facto da história ser mínima pode deixar em aberto algumas críticas, mas há que apreciar todos os méritos cinematográficos do filme. Fitzcarraldo é um filme que celebra tanto a importância da arte nas nossas vidas como a resistência do espírito humano em face às adversidades. Muito bem trabalhado e intensamente poético na sua simplicidade narrativa, é um filme fascinante.

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quinta-feira, 22 de maio de 2014

Woyzeck, o Soldado Atraiçoado (Woyzeck) 1979



Franz Woyzeck (Klaus Kinski) é um soldado mentalmente instável no exército alemão, que vive de uma dieta de ervilhas por causa de uma experiência conduzida por um médico. Um dia ele descobre que a sua esposa lhe tem sido infiel, o que começa a bater forte na cabeça do soldado, fazendo dele ainda mais instável.
"Woyzeck" é uma filme curioso, baseado numa famosa e inacabada peça, escrita em 1836 por Georg Büchner, falecido com tifo aos 23 anos, tendo terminado apenas quatro fragmentos da peça. A ordem pela qual os quatro fragmentos nos são mostrados não é clara, e a peça foi ignorada durante 60 anos. Apesar disto, a rejeição de Büchner pela estrutura tradicional e o seu foco sobre o estado mental de um indivíduo levaram a que a fosse agora seja considerada uma obra moderna, e um percursor do Expressionismo e o Teatro do Absurdo.
Pode parecer surpresa que Herzog e Kinski tenham feito outro filme no mesmo ano que "Nosferatu", tendo em conta o complicado relacionamento entre os dois, e que seria necessário algum tempo para descansar entre as filmagens. Mas, em vez disso, Kinski usou a sua exaustão como vantagem para o seu intérprete deste filme. Esta é mais uma das suas grandes interpretações do actor, e, na realidade, Kinski é mesmo o ponto forto do filme.
Esta premissa sombria faz do filme um pouco estranho, as suas origens teatrais estão bastante evidentes ao longo da obra, e também porque grande parte da acção se passa entre portas e com um reduzido número de personagens. O trabalho de câmara de Herzog é muito mais contido do que os trabalhos habituais do realizador, talvez porque ele ainda se encontrava a recuperar do cansaço de "Nosferatu", e o filme acabaria por ser filmado em apenas 21 dias.
Dos cinco trabalhos entre os dois, este é o menos conhecido. 

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Nosferatu, o Fantasma da Noite (Nosferatu: Phantom der Nacht) 1979



Jonathan Harker é enviado para o castelo do Conde Drácula, para lhe vender uma casa em Varna, onde Jonathan vive. Mas o conde Drácula é um vampiro, um morto-vivo que vive de sugar o sangue dos homens. Transtornado por uma fotografia de Lucia Harker, a esposa de Jonathan, o Conde muda-se para Varna, levando consigo a morte, e a peste...
Remake do clássico do cinema mudo, do mesmo nome, de F. W. Murnau, é um conto baseado no livro de Bram Stoker, "Dracula". Não é uma tentativa de refazer a história, ou uma tentava de modernizar o conto, muito mais do que isso, é uma homenagem a Murnau. Tal como o filme anterior, também tem uma história muito diferente do livro, com Herzog a preferir recriar muitas das cenas do filme original, e a conseguir criar um ambiente bem assustador, mais do que o original.
O desempenho de Klaus Kinski é extraordinário, de cabeça rapada, orelhas em forma de morcego, e dentes de rato, que fazem desta uma das recriações mais assustadoras do famoso vampiro. Herzog originalmente gravou o filme em duas linguas ao mesmo tempo, inglês e alemão, o que como é claro trouxe problemas com as dobragens, já que o filme incluía actores de várias nacionalidades. (esta versão do post é a inglesa).
Por mais que fosse uma homenagem a Murnau, Herzog conseguiu incluir algumas sequências que são tipicamente "Herzoguianas", tal como a onda de ratos que chegam à cidade, e para a qual o realizador teve de libertar alguns milhares de ratos vivos, para conseguir os ângulos certos. Uma sequência que tem tanto de impressionante como de desagradável, e que leva a perguntar o que terão feito a todos aqueles ratos depois de terminadas as rodagens?
A principal inovação para a obra de Murnau é apresentar a criatura vampiresca não tanto como um monstro perverso, mas mais como uma vítima, um ser que tanto devemos ter medo como pena. E é aqui que Kinski sobressai, com uma caracterização que dificilmente o faz ser reconhecido, consegue provocar-nos um poderoso sentimento de emoção. O filme é dele.

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segunda-feira, 19 de maio de 2014

Aguirre, o Aventureiro (Aguirre, der Zorn Gottes) 1972



Algumas décadas depois da destruição do império Inca, uma expedição espanhola deixa as montanhas do Perú e desce até ao rio Amazonas, em busca de tesouros e riquezas. Depressa eles se deparam com grandes dificuldades, quando Don Aguirre (Klaus Kinski) um homem cruel preocupado apenas com a riqueza, se torna o líder da expedição. Esta nova liderança irá levá-los à "cidade de ouro", ou à destruição...
"Aguirre, der Zorn Gottes", primeira colaboração entre Herzog e Kinski, por muitos considerado a sua melhor. "Aguirre" é um filme fascinante, que tem tanto de terrível como de belo, que sentimos ser diferente de tudo o conhecemos, tal como a obra do próprio Herzog. Como se o trabalho de Herzog pertencesse a um género completamente à parte, porque é tão único e original.
É difícil imaginar um actor melhor para o papel de Aguirre do que Klaus Kinski. Kinski tinha pensado interpretar o seu personagem como um louco mais convencional, mas Herzog foi insistente para que o personagem fosse mais contido, para transmitir a ameaça que ele representava de forma mais eficaz. Kinski criava assim um dos personagens mais grotestos do seu repertório, um monstro monomaníaco tão absorvido pelas suas ambições, tão confiante nas suas crenças que não vê os perigos reais ao seu redor, de modo a que, se torna o líder condenado de uma missão suicida.
O filme custou cerca de 350 mil dólares, que mesmo naquela altura era um orçamento muito baixo para um projecto tão ambicioso. Foi rodado em apenas cinco semanas, na floresta do Perú, e foi uma filmagem rodeada de problemas, em parte por causa dos desentendimentos entre o realizador e o actor.
"Aguirre, der Zorn Gottes", é um filme sobre a loucura do homem, em especial a do "homem branco nas américas", mas também continha outro tema da preferência de Herzog, o do homem vs natureza. O realizador tenta capturar o lado selvagem escuro e ameaçador da natureza humana criando uma visão da natureza selvagem completamente diferente do que já tinhamos visto antes.
Legendas em inglês.

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sábado, 17 de maio de 2014

Herzog e Kinski - Maiores Amigos, Maiores Inimigos

Se a relação entre um realizador e um actor pode ser como um casamento, então Werner Herzog e Klaus Kinski foram o Richard Burton e a Elizabeth Taylor do seu tempo. Não apenas fizeram um punhado de filmes juntos, como também estiveram envolvidos na sua própria competição pessoal: ver qual é que conseguia enlouquecer o outro. Combustíveis, por vezes inseparáveis, Herzog posteriormente descreveu esta ligação como sendo "duas massas críticas que resultam numa perigosa mistura quando entram em contacto". Herzog tentou matar Kinski durante a rodagem de "Aguirre, Wrath of God" (1972) e anos depois planeou explodir a casa de Kinski, só não o fez porque teve pena do cão do actor. Kinski, por outro lado, gritava com o realizador, chegando a encostar um sabre ao pescoço de Herzog, durante a rodagem de "Cobra Verde". Na sua autobiografia Kinski acusou Herzog de traição, sadismo, megalomania, e, pior de tudo, falta de talento. O realizador, por sua vez, fez um documentário sobre a sua relação com Kinski, chamou-lhe "My Best Fiend" (O Meu Melhor Amigo), e começou com imagens de uma peça de teatro de Kinski onde ele abusa da audiência. Se esta relação tempestuosa ofuscou o trabalho dos dois, eles apenas têm que se culpar a si próprios.
Trabalharam juntos em cinco filmes, ao longo de 15 anos. Depois de "Cobra Verde" nunca mais voltaram a trabalhar juntos, Kinski faleceu 4 anos depois, em 1991. Alguns anos mais tarde Herzog dedicou-lhe um documentário, ao qual chamou "Mein liebster Feind" (O Meu Maior Amigo). Vamos começar este ciclo já, com este documetário, que podem tirar daqui. A programação do resto da semana vai ser a seguinte:

Segunda: Aguirre, o Aventureiro (1972)

Terça: Nosferatu, o Fantasma da Noite (1979)

Quarta: Woyzeck, o Soldado Atraiçoado (1979)

Quinta: Fitzcarraldo (1982)

Sexta: Cobra Verde (1987)