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segunda-feira, 29 de fevereiro de 2016

Pousada das Chagas (Pousada das Chagas) 1972

"Pousada das Chagas" foi uma encomenda caída do céu. A Fundação Gulbenkian tinha criado um museu de arte sacra em Óbidos e queria fazer um documentário sobre ele. Estávamos em 1970, e depois de " Mudar de Vida", em 1966, eu tinha deixado de acreditar no cinema clássico. A tarefa era urgente e não havia tempo para pensar. Enchi os bolsos com bocados de papel - citações de Rimbaud, Légende Dorée, Camões, Lao-Tse - e fui para Óbidos filmar conjuntamente com Luís Miguel Cintra e Jorge Silva Melo, pessoas de talento quase insolente. O que emergiu foi um "drama sacro" modernista, uma colagem de vozes, textos, objectos, espaços, pulsações. Corpos que ardem, que sofrem, que irradiam energia. (Paulo Rocha).
 "Pousada das Chagas" é uma encomenda mecenática da Gulbenkian, antecedendo os subsídios ao Centro Português de Cinema que relançariam o cinema português no inicio dos anos 70. Ante-estreou em 25 de Fevereiro de 1972 na Fundação Calouste Gulbenkian, em complemento ao filme " O Passado e o Presente", de Manoel de Oliveira, também em ante-estreia e, também, subsidiado pela Fundação e produzido pelo Centro de Cinema Português. Nessa noite, no Grande Auditório, com os seus 1500 lugares esgotados, teve lugar uma sessão solene com a presença do Presidente da República, Américo Thomaz, e de quase todo o governo. "Uma representação entre o documentário e a ficção sobre o Museu de Òbidos. O processo de colagem (actor-décor, textos literários-arte sacra) e a precisão gestual evidenciam a influência de outras culturas na obra de Paulo Rocha e anunciam os seus caminhos futuros. O filme é sobretudo um ascético ritual, em busca de uma secreta correspondência das artes".
João Bénard da Costa, "Cinema Novo Português: Revolta ou Revolução?", in Cinema Novo Português 1960/1974, ed. Cinemateca Portuguesa, 1985 

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domingo, 28 de fevereiro de 2016

Mudar de Vida (Mudar de Vida) 1966

Furadouro, próximo de Ovar. Enquanto Adelino cumpria o serviço militar em África, Júlia casou com o seu irmão Raimundo, como ele pescador. A luta pela sobrevivência, contra o mar e a tradição, marcam esse conflito amoroso e a paixão que renasce, para Adelino, quando é atraído pela natureza selvagem da jovem Albertina. Terra, mar, homem e progresso interligam-se num drama constante.
Segundo filme de Paulo Rocha, depois da estreia em "Verdes Anos", foi concebido como uma resposta directa ao filme "Acto da Primavera", do seu seu mentor Manoel de Oliveira, e filme onde Rocha tinha colaborado como assistente, é uma obra-prima do realismo, usando conceitos ficcionais, e actores amadores interpretando-se a si próprios, para recriar um retrato etnográfico do Furadouro, uma aldeia piscatória isolada. A premissa dramática sobre um soldado que regressa a casa para um lugar que mudou durante a sua ausência, serve de pretexto para Rocha examinar respeitosamente as especificidades do povo do Furadouro, as suas rotinas diárias e rituais, e as relações envolventes com a história da aldeia.
Um dos melhores exemplos do docudrama jamais vistos. Há um estranho contraste entre a história de amor condenado e os elementos realistas, tais como a busca de trabalho, o retrato da vila piscatória para onde Adelino regressa que é extremamente pobre. Os residentes vivem em casas que são pouco mais do que cabanas. Chamar este filme de "retrato etnográfico" é uma simplificação enganosa. Ele usa elementos etnográficos de uma forma complexa e bastante misteriosa. De salientar ainda a maravilhosa equipa de produção: diálogos de António Reis, António Campos como assistente de realização, Alfredo Tropa no som, música de Carlos Paredes, e Elso Roque na fotografia.

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sábado, 27 de fevereiro de 2016

Os Verdes Anos (Os Verdes Anos) 1963

Júlio de dezanove anos, vem para Lisboa, tentar a sorte como sapateiro. No dia da chegada, um incidente leva-o a conhecer Ilda, jovem da mesma idade, empregada doméstica em casa próxima da oficina... Júlio sente-se num ambiente estranho e hostil, desenrolando-se uma série de peripécias que lhe despertam a desconfiança em relação a Ilda, que decide romper o namoro...
A dicotomia entre o rural e o urbano é representada logo nos primeiros planos do filme, numa panorâmica de uma paisagem rural com Lisboa em fundo. É um espaço limite, ainda não urbano mas também já não rural. Quando terminam os títulos iniciais a câmara completa um movimento vertical mostrando primeiro um terreno arado, com alfaias agrícolas, acabando por revelar a presença próxima de modernos edifícios de habitação. Esta introdução é representativa do conflito mostrado no filme: a incapacidade dum homem do campo em se adaptar à sua nova vida na cidade, uma inadequação que marcou muitos outros portugueses que migraram para as grandes cidades em busca de melhores condições de vida. A cidade que Paulo Rocha mostra, ao contrário de todos os filmes portugueses que o antecederam, é uma Lisboa contemporânea, dos túneis do Metro à Cidade Universitária, dos edifícios de habitação colectiva modernistas aos cafés e lojas daquele tempo, como a famosa loja da rampa helicoidal projectada por Conceição Silva no Chiado.
Com argumento e realização de Paulo Rocha, produção de António da Cunha Telles, diálogos de Nuno Bragança e música de Carlos Paredes, a longa-metragem Os Verdes Anos estreou em 1963 e foi premiado no Festival de Cinema de Locarno. Considerada um marco do cinema português, nela se destacam as interpretações de Isabel Ruth, Rui Gomes, Ruy Furtado, Cândida Lacerda, Paulo Renato e Carlos José Teixeira. O filme é um retrato da Lisboa dos anos 60, do seu provincianismo e da sufocação de uma geração jovem.

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