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quinta-feira, 16 de agosto de 2018

King & Country (King & Country) 1964

Durante a Primeira Guerra Mundial as tropas britânicas são entrincheiradas em Passchendaele, na Bélgica. Entre os voluntários há um jovem soldado britânico, Arthur Hamp, que é o único sobrevivente da sua companhia original. Hamp passou três anos nas trincheiras, e isso fez dele um veterano. Nunca foi acusado de cobardia, mas um dia resolve deixar a guerra para trás e regressar a casa. Em Calais, na França, é apanhado por uma patrulha da Policia Militar que prontamente o prende por sair sem permissão.  Os comandantes de Hamp decidem convocar uma Corte Marcial e acusá-lo de deserção. Se for considerado culpado pode ser fuzilado, e vai ser defendido pelo Capitão Hargreaves, que parece céptico sobre as suas hipóteses de absolvição. 
O norte-americano expatriado Joseph Losey baseia este tenso drama anti-guerra, pessimista e consciente das classes, na semi-autobiografia de J.L. Hodson, "Return to the Wood", e também na peça "Hamp" de John Wilson. J.L. Hodson baseava-se na sua própria experiência como advogado durante a Primeira Guerra Mundial, onde não conseguiu salvar um soldado da Corte Marcial.
O filme emocionante de Losey, filmado a preto e branco, foca o seu argumento na hipocrisia da sociedade, em questões militares, e usa o debate académico sobre a moralidade da guerra numa tentativa de ver através dos véus da sociedade, que envia os seus jovens para a guerra, e falha em assumir as responsabilidades pelas consequências das suas acções. 
Ganhou o British Academy Award de Melhor filme em 1964, enquanto Tom Courteney, na pele do jovem soldado, ganhava o de melhor actor em Veneza. Já o advogado de defesa é interpretado por Dirk Bogarde, habitual colaborador de Losey, com o papel de advogado de acusação a ir para Leo McKern.
Filme escolhido pelo Sérgio Alpendre. 

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quarta-feira, 17 de agosto de 2016

Choque (Boom!) 1968

A incrivelmente rica escritora Sissy Goforth (Elizabeth Taylor) vive sozinha com as suas criadas e enfermeiras numa ilha do Mediterrâneo, onde cria as suas próprias regras. Os seus dias consistem em ditar a sua biografia e implorar por injeções.É então que chega à ilha Chris Flanders (Richard Burton), conhecido como “o anjo da morte”, um homem com bastante charme, que tem o hábito de “visitar” mulheres infelizes pouco antes das suas mortes. E também lhe aparece o seu vizinho, conhecido como “A Bruxa de Capri” (Noel Coward), e juntos eles partilharão um jantar que mudará as suas vidas…
"Boom!", de Joseph Losey, é um dos filmes mais mal amados e criticados do final dos anos sessenta. O orçamento previsto de 3,9 milhões de dólares foi largamente ultrapassado, tendo ultrapassado os 10 milhões, em parte para pagar o salário do casal maravilha, Elizabeth Taylor e Richard Burton, e vestir Taylor com os seus maravilhosos fatos Tiziani (muitos desenhados de propósito por Karl Lagerfeld) e jóias Bulgari, além da construção de um cenário fabuloso. Os críticos não gostaram de todas estas extravaganzas, e desprezaram o filme. Muitos espectadores saíram dos cinemas antes do filme terminar, completamente perplexos com o que tinham acabado de ver. 
Na verdade o filme deve ser visto como realmente é: um "Camp Classic" da mais elevada ordem (portanto, menor). Alegadamente, consta-se que toda a gente estava bêbada enquanto decorriam as filmagens. Noel Coward sorri de forma pouco adequada várias vezes durante o filme, e Burton parece estar intrigado com o absurdo de falar as suas linhas ridículas. Baseado na peça de Tennessee Williams chamada "The Milk Train Doesn’t Stop Here Anymore", que também foi o autor do argumento, acabaria por custar caro ao escritor, pois até à sua morte em 1983 nunca mais viu uma história sua ser adaptada a um filme de série A em Hollywood. Mesmo assim, aqui fica ele para ser visto.

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sexta-feira, 4 de janeiro de 2013

Um Homem na Sombra (Mr. Klein) 1976


Mr. Klein, de Joseph Losey, feito em França durante o exílio do realizador, é uma parábola (e fria) arrepiante sobre a identidade, o fascismo, a exploração e a opressão. Passado durante a Segunda Guerra Mundial na França ocupada, o filme centra-se em Robert Klein (Alain Delon), um negociante de arte que explora a situação no seu país, comprando quadros baratos de judeus que fugiam, e que na sua maioria procuravam obter dinheiro suficiente para escapar das regulamentações cada vez mais restritivas dos nazis. Klein é indiferente aos que explora, preocupando-se apenas com a sua vida de luxo, até que um dia recebe um jornal judeu dirigido a ele. Em breve percebe que há um outro Robert Klein, em Paris, um judeu disfarçado de francês colaboracionista, e fica obcecado em descobrir quem é este outro Klein, este alter-ego que é o espelho da sua imagem. Este outro, por sua vez, atrai a atenção da polícia de Vichy, que tornou o verdadeiro Klein também como suspeito.
A mise en scène de Losey é metódica e austera, evidenciando uma distância fria que adapta a história abstrata de um homem que se perde em descobrir um duplo que nunca conheceu. As várias cenas de Klein de pé sozinho com um casaco embrulhado e  um chapéu, sozinho mesmo em cenas de multidão, deliberadamente ecoam a imagem de hiper-cool de Delon, e do seu papel icónico em Le Samouraï. Ele vagueia, olhando com seus olhos azuis frios, encontrando várias figuras misteriosas que não conseguem ajudá-lo na sua busca - com um elenco impressionante de secundários preenchido com actores como Jeanne Moreau, Julieta Berto, Francine Bergé, Michael Lonsdale e  a musa de Rivette, Hermine Karagheuz. A cena mais impressionante do filme, no entanto, é a primeira, em que um médico examina uma paciente nua, recitando vários atributos que sugerem uma "raça inferior". O horror frio e precisão burocrática desta cena definem o tom do resto do filme, e imediatamente estabelecem o meio onde circula Klein, como se os seres humanos fossem tratados como animais, os dentes examinados como a cavalos de corrida - uma associação lembrada na cena seguinte, quando a amante de Klein examina os seus próprios dentes ao aplicar o batom. O filme de Losey inesquecível está preocupado com esse horror, e com a mentalidade indiferente que ignora essas coisas, insistindo que tudo está normal, tudo está bem, mesmo em face de uma tremenda evidência do contrário.
Ganhou três Césares em 1977, entre os quais os de Melhor Filme e Realizador.

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quinta-feira, 3 de janeiro de 2013

O Assassinato de Trotsky (The Assassination of Trotsky) 1972


Cidade do México, 1940. Leon Trotsky (Richard Burton), o fundador exilado da revolução comunista da Rússia vive em constante medo de assassinato. Moscovo demonstra que controla o movimento comunista do México, encorajando comícios anti-Trotsky, e a 24 de Maio um atentado por homens armados para invadir a sua casa falha não por culpa própria, mas por falta de organização. Trotsky continua a incentivar a população para a derrubar Stalin enquanto a sua esposa Natalia Sedowa (Valentia Cortese) mantém uma casa cordial para convidados especiais. Seguidores de Trotsky complementam as defesas da casa, e um homem da segurança especial dos Estados Unidos vem para ajudar. Enquanto isso, Gita Samuels (Romy Schneider), uma dos secretárias de Trotski tem um novo namorado, um empresário misterioso chamado Frank Jacson (Alain Delon). Frank é na verdade um agente de Stalin, à espera do momento certo para atacar.
The Assassination of Trotsky é, na verdade, uma obra do movimento de esquerda italiana dos anos 1960. Embora a publicidade afirma que a casa do assassinato verdadeira, na Cidade do México, foi usada como local de filmagens, uma grande parte do filme foi rodado em Roma. O co-argumentista Franco Solinas é praticamente um homem do cinema activista italiano, começando com argumentos anti-fascistas (Kapo, 1959), tendo depois procedido para algumas obras épicas, como "Salvatore Giuliano" e "A Batalha de Argel"  e continuando com uma série de spaghettis "radicais" e épicos históricos, como La Resa Dei Conti (The Big Gundown), El Chuncho, Quién Sabe? (A Bullet para a Geral), Il mercenario (The Mercenary) e Quiemada (Burn!).
Mergulhado nas tradições comunistas de três países (Rússia, Itália e México), The Assassination of Trotsky é dirigido por Joseph Losey, um americano expatriado, que fugiu de Hollywood para a Inglaterra em 1951 e, finalmente, criou nome próprio nos círculos críticos. Os filmes mais antigos de Losey, como The Prowler ou The Lawless eram mais sensíveis, bem observadas críticas da América numa altura em que nada de negativo era considerado desleal e subversivo. O Assassinato de Trotsky usa um pouco da sutileza desses filmes mais antigos, transpostos para uma realidade bem diferente.
O egoísta e pomposo Trotsky de Richard Burton é uma boa aproximação do caráter histórico, trabalhando em novos artigos da sua mesa ao lado da janela jardim, enquanto que as pessoas ao seu redor se preocupam com a sua segurança. Tinha sido um revolucionário desde antes da virada do século e passou por uma série de perigos. Valentina Cortese é convincente como a sua dedicada esposa, encontrando a boa vida depois de vários dos seus filhos terem sido assassinados por homens de Stalin. Essa perda é vagamente mencionada, mas o filme assume que já sabe tudo sobre a carreira turbulenta de Trotsky e da sua luta contra Stalin. Isto deixa logo metade da história para a personagem Frank Jacson, onde Alain Delon é convincente como um agente secreto que espera o momento certo para matar Trotsky.

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quarta-feira, 2 de janeiro de 2013

Dois Vultos na Paisagem (Figures in a Landscape) 1970


Dois homens, Mac (Robert Shaw) e Ansell (Malcolm McDowell), escapam de uma prisão, mas agora estão a ser perseguidos a partir do ar. Por forças das circunstâncias,são obrigados a unir-se já que foram amarrados pelos pulsos, e ao longo da fuga vão brigando através dos campos, montes e vales, à procura de água e de uma lâmina para cortar os laços que os unem. Mas o helicóptero que os persegue, sobrevoa em círculos, cada vez mais próximo,caçando-os implacavelmente...
A novela de Barry England, de 1968, foi aclamada na altura como um conto de dois prisioneiros de guerra que fugiam dos seus captores em terreno tropical, atraíndo bastante entusiasmo entre os leitores, por isso era inevitável que uma versão chegasse ao cinema pouco depois. Quem pegou nesta história para a adaptar ao cinema, foi na verdade, a estrela Robert Shaw, embora ele não tivesse planeado originalmente tomar um dos papéis principais, mas no fim de contas, pode-se dizer que era perfeito para ele. O que distinguiu o filme na altura foi que não havia explicação para o que ocorria, e nós nunca descobriamos muito sobre a história, nem mesmo no final.
Isto significa que o filme levanta muitas questões que se recusa a responder, o que para muitos era o aspecto mais frustrante do mesmo. Nas mãos do realizador Joseph Losey o filme parece muito bem feitinho, fazendo justiça ao seu título, com uma infinidade de planos dos dois fugitivos, sempre muito bem enquadrados na paisagem do campo, são espanhóis nesta versão, embora nunca sejam identificados como tal. É muito fácil sermos levados pelo lado visual, mas o grande enigma sobre quem serão os dois fugitivos, continua a ser um pouco vago com o argumento de Shawn, que nos vai atirando pedaços de informação, como por exemplo, sabemos que Ansell aparentemente é algum tipo de professor, mas não é suficiente.

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terça-feira, 1 de janeiro de 2013

O Mensageiro (The Go-Between) 1970


O jovem Leo é convidado para a casa do seu colega de classe Marcus, durante as férias de verão. Ele faz amizade com a irmã de Marcus, Marian (Julie Christie) e quando Marcus adoece com sarampo, Leo acaba por passar mais tempo com ela, e eventualmente, é confiado a entregar mensagens dela para um fazendeiro local chamado Ted (Alan Bates). Logo fica claro que estas são mensagens românticas secretas. Alimentando uma paixão por Marian, Leo tenta manter segredo, tentando também resolver os seus próprios sentimentos. 
A terceira e última colaboração entre Pinter e Losey é mais uma peça de época, mas contendo todos os ingredientes do amor proibido e da luta de classes a partir das suas anteriores obras contemporâneas. Intimamente adaptado de um romance de LP Hartley, The Go-Between parece ser uma continuação de "Acident" o trabalho anterior de Losey e Pinter (1967), novamente com a sua localização num verão quente, onde podemos ver o filme a partir dos olhos do jovem Leo e como ele sente todas as situações, por isso, o argumento move-se ao mesmo ritmo do filme anterior. Como é típico no trabalho de Pinter, não há muita acção e grande parte dela é muito subtil - a introdução de cenas em flash-forward é um exemplo particular (evita a definição simples de flashbacks do romance de Hartley) e demora um tempo até que o espectador possa descobrir o que está a acontecer. Tudo isto constrói um clímax soberbo e dramático com uma conclusão bastante apropriada que, como seria de esperar de Pinter, deixa muitas questões em aberto, assim como respostas. 
Losey está numa forma esplêndida e, embora evite o surrealismo que sobrepôs muitos dos seus filmes, trás uma abordagem narrativa mais tradicional, e chega a incluir alguns momentos bastante distintos, em especial no tratamento dos flash-forwards e no final. As cenas de flash-forward mostram elementos bastante travessos com Losey a fazer parecer que o filme está comprometido com uma imprecisão histórica flagrante.
Elenco magnifíco, que inclúi ainda actores como Michael Redgrave, Michael Gough, Edward Fox, entre outros, ganhou a Palma de Ouro em Cannes, uma nomeação aos Óscares para Melhor Actriz Secundária (Margaret Leighton), e ganhou quatro British Awards, entre os quais um para o jovem protagonista, Dominic Guard, com apenas 14 anos.

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Acidente (Accident) 1967


Um acidente de carro horrível deixa o jovem estudante William (Michael York) morto. O seu tutor Stephen (Dirk Bogarde) é o primeiro a chegar e puxa uma jovem mulher, Anna, para segurança. Naquele ano, todos tinham estado juntos em Oxford e William e Stephen tinham desenvolvido uma atração efervescente para com Anna. Stephen, porém, tem uma esposa grávida e dois filhos pequenos, assim como enfrenta a concorrência profissional do seu colega Charley (Stanley Baker). No verão a vida dos três circulava em torno de Anna, até ao clímax dos eventos no trágico acidente ...
Adaptado por Harold Pinter de uma novela, "Accident" tem um argumento simplesmente soberbo que pega numa história de um triângulo amoroso, e transforma-la numa história única e incrivelmente subtil. O flashback, usado muitas vezes, funciona bem aqui, porque não só ajuda a traçar o destino inevitável, mas também por vezes é feito sem, ou com poucas palavras - Pinter percebe que o público vai saber exatamente o que está a acontecer e assim abstém-se de ortografa-lo para nós. Assim como o verão, quente lânguido em que é definida a história, o filme move-se ao longo de um ritmo extremamente lento, com acontecimentos um pouco por todo o lado - e esta é a verdadeira beleza do argumento, que nos permite ver as relações desenvolverem-se entre os personagens, com nada a parecer forçado ou apressado (mas igualmente, nada arrastado) e a construção de um final que se adapta perfeitamente ao filme.
A direcção de Joseph Losey também ajuda a tornar o filme tão bom como é - de acordo com o argumento que capta a atmosfera de verão bem letárgico, especialmente na cena de barco, dando ao filme um sabor muito francês - a produção como um todo exala o natural surrealismo que parece mais dentro de casa. No que se tornou uma espécie de marca registrada de Losey, o filme possui alguns designs de som particularmente fortes - muitas vezes esquecido no cinema, é dado algum foco a algumas cenas sem utilizar música, mas ressaltando os efeitos sonoros cuidadosamente misturados de fundo - que é mais notavelmente eficaz na cena de abertura.
Três dos melhores actores ingleses participam no filme. Dirk Bogarde é capaz de habilmente mudar entre pai amoroso e professor assombrado, doente de amor, enquanto Stanley Baker está perfeitamente moldado como o seu colega, que parece ser capaz de superá-lo em todas as frentes. Um jovem Michael York interpreta o jovem estudante aristocrático e tem apenas o nível de constrangimento para o papel. O papel mais importante, contudo, é interpretada pela bela actriz francesa, Jacqueline Sassard, que transmite uma genuína carga erótica ao longo do filme, embora a personagem que ela interpreta seja aparentemente austríaca, que não se adequa bem à sua aparência ou sotaque que poderiam facilmente ter sido alterados sem prejudicar o enredo. 

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segunda-feira, 31 de dezembro de 2012

O Criado (The Servant) 1963


Tony (James Fox) é um jovem rico da classe alta. Depois de comprar uma grande casa em Chelsea, em que, eventualmente, irá viver com a sua futura esposa, Susan (Wendy Craig), ele contrata um homem deferente chamado Barrett (Dick Bogarde) para ser o seu criado. Tony está bem satisfeito com as suas compras, batizando esta última como um "tesouro". Tudo isto parece bom demais para ser verdade, e é. Depressa começa a verificar que esta não será uma relação mestre-servo convencional. Ao longo do filme vemos uma gradual mudança de poder entre Tony e Barrett como o patrão a caír cada vez mais sob o feitiço do criado.
"The Servant", de Joseph Losey é um magistral jogo de gato e rato entre dois personagens - um mordomo e o seu patrão - que é frequentemente escolhido como um dos grandes filmes britânicos de todos os tempos. Com argumento escrito pelo incomparável Harold Pinter, o filme passa-se quase inteiramente dentro da casa, e Losey faz um belo uso de fundo, a fotografia angular a preto-e-branco, e especialmente os espelhos. Dirk Bogarde, com quem Losey trabalhou cinco vezes, rouba o filme no papel de Barrett, o servo, enquanto James Fox interpreta o infeliz patrão.
O filme tem um ar decadente que explora uma relação humana com fortes indícios de homossexualidade. Enquanto Barrett lentamente se insinua em casa e manipula o mestre reorganizando a decoração, é através do sexo (na forma da sua sedutora e sexualmente permissiva "irmã", Vera (Sarah Miles)) que ele finalmente consegue fazer a queda de Tony. O calculismo de Vera, em contraste com  a raça de Susan (Wendy Craig), atravessam as barreiras da classe e trazem Tony até ao mesmo nível que o seu criado. Logo as fronteiras entre senhor e servo quebram, com Tony a sucumbir à vontade do seu adversário mais forte.

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domingo, 30 de dezembro de 2012

These Are the Damned (These Are the Damned) 1963


Simon (Macdonald Carey) é um americano de férias em Inglaterra. Apaixona-se por uma jovem chamada Joan (Shirley Ann Field), para a ira do seu irmão, chamado King, e membro de um gang (Oliver Reed). Quando acidentalmente tropeçam numa instalação militar ultra-secreta, as suas vidas são alteradas para sempre ...
O argumento foi adaptado de um romance chamado The Children of Light, de HL Lawrence. Passou por uma série de mãos diferentes antes de vir parar a Joseph Losey, que viu nele uma hipótese de fazer uma declaração pessoal. O realizador insistiu numa revisão completa do argumento e contribuiu muito para escrever a versão final (sem créditos), mas o seu compromisso é um testemunho do que pode acontecer quando um artista talentoso mergulha num projeto que teve origem antes dele estar envolvido no mesmo . O filme pode-se dividir em quatro partes como raiva, hipócrisia, moralismo e trágicidade. Vai ao fundo na psique dos seus personagens centrais, e estabelece o tom que viria a ser concretizado nos mais célebres filmes do realizador, que depois trabalhou com o argumentista Harold Pinter em The Servant (1963), Acident (1967) e The Go-Between (1971). Superficialmente, pode parecer um filme de série B de ficção científica - certamente que Losey estava propenso a apresentá-lo como tal, disse-o em entrevistas posteriores -, mas como muitos dos filmes do realizador, há muito mais do que inicialmente possa aparentar.
"These Are the Damned" foi feito para a Hammer Studios em 1961 e lançado nos Estados Unidos em 1963, numa versão ligeiramente diferente, muito mais próxima do espírito da empresa e mais ligada aos filmes dos anos 50, como "X - The Unknown" (do qual Losey foi despedido quando a estrela da direita Dean Jagger entrou no porojecto, por não querer submeter-se à direção de um "comunista"), bem como ao maravilhoso "Quatermass" com Brian Donlevy. Apesar disso, "These Are the Damned" ainda é um filme tão improvável como imagem da Hammer e, ainda mais distante dos filmes de terror deliciosamente exagerados da década de 60 e 70 interpretados por Christopher Lee e Peter Cushing. Na verdade, esta quase obra-prima de Losey vai mais longe do que a maioria dos filmes da produtora, e, francamente, do que a maioria dos filmes de ficção científica dos anos 50 e 60, parecendo estar mais em sintonia com os primórdios da New Wave britânica do que qualquer dos seus homólogos do género fantástico.
O elenco mistura actores conhecidos de trabalhos anteriores de Losey com rostos familiares para fãs do cinema britânico da época. Macdonald Carey foi  protagonista de filmes seus em Hollywood, e foi criticado por ser escolhido para o papel de Simon. Mas é perfeito para o papel, e traz uma intensidade apaixonante, dada a presença geralmente passiva que tinha transportado em outros filmes. Carey tinha trabalhado com Losey em Lawless (1950), e nunca mais iria aparecer noutro filme da Hammer - faz sentido, portanto, a teoria de que foi escolhido pelo realizador. Simon tem algo de solitário, um andarilho. A sua disposição é afectada por uma crescente cinismo, mas ele também é capaz de transmitir emoções verdadeiras. Quando ele se apaixona por Joan seria fácil considerá-lo como um homem velho e sujo, mas visto ser como um último acto de desespero, faz todo o sentido. Joan representa a sua última tentativa de estabelecer uma relação romantica normal. Shirley Ann Field (Peeping Tom) tem sido muitas vezes criticada pelo seu trabalho neste filme, e não há dúvida de que ela é elo mais fraco - mas melhora à medida que o filme se desenvolve e está está bastante bem na ultima parte. Oliver Reed estava no início de uma carreira promissora quando apareceu aqui, e nesta fase entrou em várias obras da Hammer; e, juntamente com "Curse of the Werewolf" (1960), foi o único filme em que realmente foi aproveitado todo o seu potencial, comparados favoravelmente com o seu trabalho posterior, nos filmes de Ken Russell.
These Are the Damned é um filme difícil - que leva alguns minutos para a sua paixão e intensidade realmente vir à superfície. Como tantos outros filmes de Losey, é, em última análise, sobre muito mais do que realmente é mostrado no argumento. Tem sido sugerido que o filme deixou marcas na obra de Stanley Kubrick, que mais tarde realizou Laranja Mecânica (1971) com elementos influenciados por These Are the Damned. Isso nota-se nos primeiros minutos.
Não havia legendas em português, por isso podem encontrar, em anexo, espanhol e inglês.

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Prisão Maior (The Criminal) 1960


Johnny Bannion (Stanley Baker) vai ser libertado da prisão no dia seguinte. Ele essencialmente domina uma ala da prisão e quando um prisioneiro de uma ala rival é posto no seu território, não demora muito até que o homem leve uma sova brutal nas mãos de um dos companheiros de prisão de Bannion. O governador da prisão quer Bannion fora, no entanto, quando regressa a casa para se encontrar com o seu antigo gang já têm outro trabalho em mãos pronto a ser executado. As coisas complicam-se quando ele se apaixona por uma jovem mulher bastante insistente, chamada Suzanne. Executam o trabalho, e decidem esconder o dinheiro num campo, mas o assalto não correu bem, e Bannion é novamente preso, ficando a ser o único que sabe onde o dinheiro está escondido.
O argumentista Alun Owen fornece este thriller policial com um enredo tenso e inflexível. Na Inglaterra, o filme sobre o mundo do crime tinha-se tornado recentemente popular, como a ascensão do cinema realista social, voltando a tradição e mostrando a acção do lado dos criminosos e não da lei. Owen vai um passo mais à frente e coloca o foco da acção inteiramente sobre os criminosos, e no playboy Johnny Bannion, que está muito longe das habituais personagens da classe trabalhadora. A maioria dos filmes giravam em torno da emoção do grande "trabalho", do planeamento e rescaldo do assalto, mas o argumento de Owen tem uma visão diferente, como o roubo em si é uma coisa menor no meio do filme, concentrando-se nas personagens, na vida da prisão e na forma como o submundo funciona. 
Embora o boom do crime realista da década de 1960 extrapolasse os limites do cinema, "The Criminal" é muitas vezes apontado como o mais brutal desta era, que é uma reputação que merece. As cenas na prisão, de tentar mostrar uma visão completamente desromantizada da vida atrás das grades, onde os homens podem ser espancados sem nenhuma razão, onde os prisioneiros parecem ter mais poder do que os guardas e onde o governador da prisão não tem o poder de intervir, apenas tem de seguir o que os criminosos dizem. O submundo, não é como a grande família dos filmes de máfia, mas uma hierarquia perigosa com todos a tentarem superar-se uns aos outros, para conseguirem o que querem. A caracterização é excepcionalmente forte, Owen garante que não saibamos tudo sobre os personagens principais, mas oferece-nos um monte de detalhes interessantes também sobre a periferia.
Joseph Losey pode ter sido expulso do seu país de origem pelos anti-comunistas, mas ainda bem que encontrou uma boa casa no Reino Unido. Cada quadro de filmagens deste filme a preto e branco parece soberbo. Ao contrário de alguns dos seus outros trabalhos, particularmente as colaborações com Harold Pinter, este é um filme muito mais "para a frente" sem a surrealidade que marcou obras como The Servant (1963), incluindo algumas cenas pouco ortodoxos. De acordo com o argumento, Losey não tem medo de se focar na violência, onde qualquer outro filme poderia ter sido cortado. Uma banda sonora assombrosa é muito bem usada para enfatizar a tristeza e o desespero que atravessa o filme.
Stanley Baker tinha construído a sua carreira na década de 1950 e foi rompendo como uma das maiores estrelas do cinema britânico em 1960. O papel principal aqui é perfeito. Destaque também para o papel de Sam Wanamaker.

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O Cúmplice das Sombras (The Prowler) 1951


Na altura em que estava a fazer "The Prowler", o realizador Joseph Losey começou a ter problemas com o senador Joseph McCarthy e a House Un-American Activities Committee. Ele preferiu ir para o exílio em Inglaterra, onde trabalhou o resto da sua carreira, alguns desses filmes britânicos - como o "The Servant (1963) são hoje altamente aclamados e muito amados, mas este noir escabroso não parece ter o mesmo tipo de amor. (o produtor Sam Spiegel assinou "SP Eagle", como fez com outros filmes dos quais queria manter-se à distância, e aos quais não queria estar ligado).
Mas "The Prowler" é uma obra-prima baixa e suja, contando uma história não muito diferente de "Double Indemnity" (1944) ou "The Postman Always Rings Twice" (1946), com algumas personagens realmente desprezíveis. Mas, mais do que um olhar superficial, revela algumas idéias brilhantes e temas que o destacam mais do que algumas das suas partes "sujas".
Van Heflin interpreta como Webb Garwood, um policia que já foi jogador de basquetebol, que se queixa que já foi muito mal tratado na polícia, mas não é difícil de perceber que foi Webb quem fez a sua própria cama. As sobrancelhas largas de Heflin nunca foram melhor usadas, com a sua interpretação de canalha do primeiro ao último frame. A sua co-estrela é Evelyn Keyes, que interpreta Susan, uma dona de casa bem parecida que vem de uma boa família para se casar com uma família rica. Infelizmente, o marido - um locutor de rádio - não lhe pode dar filhos, e ela está aborrecida. 
Webb e o seu alegre parceiro, Bud (John Maxwell), investigam um roubo na propriedade de Susan, e Webb fica fascinado por ela. Em breve eles começam um caso. Susan não é a típica vítima do film noir. Nada é preto-e-branco para ela, excepto quando se trata do certo e errado. Não demora muito para que Webb assassine o seu marido, mas apesar do planeamento cuidadoso e uma encenação sagaz, um pequeno pormenor que ele ignorou.
The Prowler é um noir rico e idiossincrático que explora os temas típicos do noir - a ganância, a violência, ambição - de formas pouco comuns. O verdadeiro ladrão(prowler) da abertura, ao que parece, é acidental para a história. O ladrão real, a fluência real, é o estranho que tão desesperadamente quer o que só pode olhar de longe, o tipo que espreita na escuridão, olhando e desejando mas separado do que vê por barreiras aparentemente intransponíveis. O voyeurismo de Webb é uma questão de classe, principalmente, quando ele olha para a riqueza e o sucesso dos outros e quer o que eles têm. Talvez Losey sugira que o cinema funciona de forma semelhante, apresentando visões de glamour e beleza para deslumbrar o público, e as trevas, os voyeurs desejam a pureza e a maravilha do que está na tela, a janela através da qual eles espreitam. 

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sábado, 29 de dezembro de 2012

M (M) 1951


Um assassino de crianças anda à solto nas ruas de Los Angeles, e a polícia parece incapaz de apanhá-lo. Quando tentam compensar essa falha, fazendo incursões constantes no submundo do crime, um dos grandes chefes do crime decide apanhar ele próprio o assassino.
"M", de Fritz Lang, é um clássico intemporal, e é difícil imaginar um remake de Hollywood, mas foi isso mesmo que Joseph Losey fez, 20 anos depois do filme original, sobre a caçada a um assassino de crianças. Losey refilma M, sob a égide do produtor do filme original, Seymour Nebenzal, e é extremamente fiel à sua fonte, seguindo mais ou menos o mesmo argumento, e por vezes, recriando mesmo cena a cena em algumas sequências. Seria fácil de perceber que este filme seria uma versão inferior ao clássico original: o remake foi um fracasso no lançamento e só com o tempo conseguisse a reputação que tem agora. Mas, embora seja inquestionável que não corresponde ao poder do filme de Lang, ainda é um noir muito convincente no seu próprio direito, transpondo a parábola social ricamente ambígua para a Hollywood dos anos 50, no auge da histeria anti-comunista, que é claramente um tema em destaque aqui.
Para Lang, o filme era um tratado anti-pena de morte, um aviso sombrio e oportuno sobre os perigos do medo generalizado e a paranóia, e, claro, um apelo para os adultos cuidarem dos filhos. Para Losey, é um thriller psicossexual e uma parábola para o mccarthismo anti-comunista que depressa conduziu o realizador para fora dos Estados Unidos, durante o resto da sua carreira. 
Losey também muda o significado do filme, fazendo o motivo para os crimes das crianças ser implicitamente sexual, o filme é carregado de símbolos sexuais que o original de Lang que não tinha. Os créditos iniciais mostram o assassino (David Wayne), visto apenas por trás, aproximando-se das jovens, atraindo-as com um brinquedo que ele sugestivamente brinca com as mãos, o enquadramento muitas vezes esconde o brinquedo completamente, de modo que não está claro o que ele está a fazer. Losey, esquiva-se dos censores, sugerindo um componente transgressor sexual para os crimes, um motivo assustador que distancia mais o assassino de crianças de Wayne do retrato mais famoso de Peter Lorre. 
Na verdade, Wayne interpreta o assassino Martin Harrow com uma grande intensidade e uma fixação na mãe que prefigura o Norman Bates de Anthony Perkins em "Psico", de Hitchcock, mais do que para a personagem de Lorre. O mais arrepiante de tudo é a cena do assassino sentado no escuro, com o rosto envolto em sombras, segurando firmemente o cabo pendente da lâmpada pendurada acima dele, envolvendo-o em torno do punho, respirando pesadamente e puxando a mão com o cabo.
Deste modo, Losey cria o seu próprio material, mesmo quando, em grande parte do filme, adere ao molde da película original. Não pode igualar a beleza formal esmagadora do filme de Lang, mas tem a sua minimalista própria, de estética de baixo orçamento que dá a esta obra um realismo muito diferente do expressionismo sombrio de Lang.
Não há legendas em português para o filme, por isso podem encontrar em espanhol, em anexo.

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O Rapaz dos Cabelos Verdes (The Boy with Green Hair) 1948


Um rapaz de cabeça rapada, chamado Peter (Dean Stockwell), é encontrado a vaguear sozinho pela noite, e a polícia não consegue obter-lhe uma palavra. Um advogado (Robert Ryan) é chamado, e Peter conta-lhe sobre as circunstâncias que o levaram a ter o cabelo cortado. Ele, um órfão de guerra, viveu tranquilamente com o avô adoptivo irlandês, até que um dia acordou para descobrir que o seu cabelo tinha ficado verde - de seguida, a sua vida torna-se um inferno..
Esta alegoria bem-intencionada foi escrito por Ben Barzman e Lewis Alfred Levitt, a partir de uma história de Betsy Beaton, e provavelmente era uma forma de animar os órfãos de guerra deixados na esteira da Segunda Guerra Mundial. Também tem ambições como uma parábola anti-guerra, e como um apelo pela tolerância - na verdade, possui muito de fantasia.
 No entanto, ainda é um filme subestimado por muitos. Assim como a história usa elementos de fantasia para fazer ver os seus pontos mais sérios, Peter inventa histórias para lidar com a sua situação trágica, o avô (Pat O'Brien) inventa contos de encontros com reis para animá-lo. Peter está em negação sobre a morte dos seus pais, dizendo a si mesmo que vão estar em casa em breve, e ele irá ter os dias acolhedores da infância de volta.
Embora ele seja tratado com simpatia pela maioria das pessoas na primeira metade do filme, quando o cabelo fica verde é submetido a assédio moral que muitos órfãos deverão ter enfrentado. Os adultos querem que ele corte o cabelo porque havia rumores de que a água ou o leite estão contaminados, e isso pode ser a causa do seu cabelo verde. Uma cena interessante tem um grupo de rapazes perseguindo Pedro para lhe cortarem o cabelo, ele esconde-se, então, ajuda um dos seus perseguidores a encontrar os óculos perdidos, só para ter o rapaz a persegui-lo de novo, mostrando como nenhuma boa acção fica impune .
Numa parte um pouco estranha, cartazes de órfãos de guerra ganham vida e dizem a Pedro que ele deve usar o cabelo verde para chamar a atenção para acabar com a guerra. Ele agora tem um propósito, mas o sentimento é ingénuo, mesmo que o filme pareça sentir que a guerra é uma ameaça sempre presente.
A mensagem do filme é entregue sem rodeios, mas ainda assim afetava muita gente, talvez porque a guerra ainda estava tão fresca quando Losey fez este filme, em 1948. Era a sua primeira longa metragem.

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quinta-feira, 27 de dezembro de 2012

Ciclo Joseph Losey

Durante quase toda a sua longa e extremamente produtiva carreira, Joseph Losey (1909-1984) foi um cineasta no exílio. Teve uma breve mas promissora carreira em Hollywood, mas foi abruptamente ameaçada quando o seu declarado compromisso com a política de esquerda fez dele um alvo a abater pela Comissão de Actividades Anti-Americanas. Ameaçado pela lista negra, a prisão era quase certa, Losey fugiu para a Europa em busca de trabalho e santuário político. Uma vez no exterior, começou a refinar o seu estilo mais maduro e complexo, chamando a atenção dos críticos europeus - especialmente os franceses, que em primeiro lugar o reconheceram como um auteur importante. Embora Losey continuasse profundamente desprezado pela indústria cinematográfica americana, ansiava, em vão, fazer outro filme na sua terra natal. A experiência difícil de Losey na lista negra e da longa vida vagueando como um expatriado, marcou para sempre a sua carreira, moldando alguns motivos dominantes nos seus filmes - a figura recorrente do outsider, a reformulação dos papéis da classe em tons mais obscuros, e a representação pessimista da sociedade mainstream como um mundo dominado pela hipocrisia, frieza e violência implacável.
O status de Losey passados alguns anos depois da sua morte, é o de um dos cineastas mais talentosos do pós-guerra na Europa. Nesta semana, dedicada aos seus filmes, vamos ver um total de 11 obras. Infelizmente, para um estudo aprofundado da sua filmografia teriam de ser mais filmes, mas penso que com esta mostra ficarão a conhecer um pouco melhor a sua carreira. A partír de Sábado, aqui no My Two Thousand Movies.